Vieses Cognitivos: por que o seu cérebro parece jogar contra você
Nós vivemos em uma era em que (felizmente) falar sobre o funcionamento do cérebro, saúde mental e até sobre o Ego (no maior estilo Freud) não…
Nós vivemos em uma era em que (felizmente) falar sobre o funcionamento do cérebro, saúde mental e até sobre o Ego (no maior estilo Freud) não é mais considerado apenas um papo new age. Ainda bem.
Graças aos avanços científicos e ao olhar sensível de alguns pesquisadores, as pessoas passaram a entender o que, racionalmente, parece para lá de óbvio: o maior culpado pelas decisões erradas que elas tomam, principalmente quando se trata de dinheiro, são elas mesmas.
Dificilmente tem um bandido apontando uma arma na sua cabeça exigindo que você compre aquela blusinha, não é mesmo? Ou então uma quadrilha fazendo uma família de pandas refém, reivindicando que você gaste o dobro do que tinha planejado naquela saída com os amigos para libertar os pobres bichinhos. Sem falar numa ameaça terrorista que ordena que você não invista naquele título, mesmo já tendo estudado que ele é o melhor para os seus objetivos atuais.
Por que, então, você continua agindo contra si mesmo?
Quando as pessoas começaram a se fazer essas perguntas, e inúmeros artigos, cursos, especialistas e afins emergiram na tentativa de lhes dar as respostas, o termo "autossabotagem" pipocou indefinidamente.
Não raro, se amaldiçoa o próprio cérebro à primeira oportunidade. Afinal de contas, não é ele que está nos prejudicando tanto? O vilão de todos os nossos pesadelos financeiros. Mais ou menos.
Já esclarecemos que ninguém acorda planejando estragar a própria vida em todas as áreas possíveis.
"Sim, hoje eu vou passar em frente àquela loja e gastar todo o meu salário em roupas desnecessárias. Depois, quando a minha conta bancária estiver zerada, eu vou entrar no cheque especial, pagar o mínimo da fatura do cartão de crédito e pegar um empréstimo. Assim, quando eu fizer novas dívidas, vou me afundar ainda mais, pagando juros que parecem nunca ter fim.
Falando em fim, eu vou chegar à velhice sem um tostão no bolso, dependendo do governo e da minha família, sem ter realizado nenhum dos sonhos que planejei. Basicamente, vou morrer sem ter conquistado nada na vida.
Nossa, isso realmente parece uma boa ideia! Onde fica aquela loja de roupas mesmo?".
Se fosse tão simples, seria muito mais fácil evitar, concorda? Se fossemos tão honestos quanto às consequências de nossas escolhas, talvez nos impedíssemos de nos prejudicar.
Contudo, essa franca discussão interna não existe porque não é assim que o seu cérebro pensa. Não, ele não está planejando te destruir a cada minuto do dia. Pelo contrário, ele desenvolveu ao longo dos milhões de anos inúmeras ferramentas para te ajudar a sobreviver - custe o que custar.
Infelizmente, nem sempre dá para certo. O cérebro também se engana. E o que faz todo sentido racionalmente (não comprar aquela blusinha, por exemplo) deixa de fazer sentido emocionalmente ("aff, é só uma blusinha! Eu tenho cartão de crédito para quê?").
O que nasce dessa disputa é a chamada dissonância cognitiva. Graças a ela, sempre que duas ou mais de nossas cognições (linguagem, crenças e aprendizado, entre outras) entram em conflito, entramos também em sofrimento. Para te resgatar, o cérebro cria historinhas que tornam nossas incoerências aparentemente mais coerentes… E assim nascem os nossos paralogismos!
Para nossa salvação, desde de meados do século XX emergiu um campo de estudo conhecido como Finanças Comportamentais. Nele, os cientistas estudam como a Psicologia influencia o nosso comportamento financeiro - tanto de gastos quanto de ganhos e investimentos.
Grandes nomes, como Daniel Kahneman (ganhador do Nobel de Economia) e Amos Tversky, se tornaram famosos justamente por contribuir para as Finanças Comportamentais. E uma de suas descobertas mais incríveis diz respeito a um fenômeno psicológico conhecido como viés cognitivo.
Já adiantamos que ele representa um enorme conjunto de fenômenos, cada um explicando à sua maneira alguma de nossas atitudes financeiras. Ao final deste artigo, você encontra uma lista com mais de 140 tipos diferentes de vieses cognitivos, todos explicados tintim por tintim o funcionamento de cada um deles. Confira!
O que são os vieses cognitivos?
Você verá essa mesma pergunta uma e outra vez, em alguns de nossos artigos indicados.
Isso porque sabemos que muitas vezes, absorvendo tanto conteúdo na Internet diariamente, não é facilmente se lembrar de um termo visto raramente. Assim, o relembramos para facilitar o seu entendimento naquele artigo específico e nos próximos.
Mas, para começar, o que são os vieses cognitivos?
Por definição, um viés cognitivo é um erro lógico, que acontece justo quando o cérebro está processando as informações ligadas às cognições - como o aprendizado, a memória e a linguagem.
Pense conosco: a todo instante, você está sendo bombardeado através de todos os sentidos. Não importa o quão focado na leitura você esteja, os outros sons, cores, cheiros, texturas e afins continuam existindo, bem aí, ao seu redor. Logo, a todo instante você está também catalogando o que chega a você ("hmmm, isso é cheiro de pizza?"), tirando conclusões ("o sabor deve estar uma delícia") e reagindo ("eu vou lá pegar um pedaço!"). Concorda?
Assim, quando em alguma dessas fases acontece um erro, o espaço para a formação de um viés cognitivo se abre.
E existem duas coisas que você precisa manter em mente daqui para frente para verdadeiramente entender do que estamos falando:
O maior objetivo do seu cérebro é a sua sobrevivência. Ponto. Vieses têm uma forte aparência lógica - isto é, à primeira vista, ele parece fazer todo sentido.
É como aquele(a) ex que sorria tanto para você que te fez ter certeza que ele(a) era o amor da sua vida. Só com muita convivência e um tantinho de racionalidade (com conselhos da família, dos amigos e do terapeuta) é que você foi capaz de ver que ele(a) não era tudo isso, não.
Com os vieses acontece a mesma coisa.
Quando o cérebro escolhe comprar o lanche de R$50,00 ao invés de economizar esse valor para o futuro, ele realmente acredita que essa atitude vai garantir que você continue vivo - ou pelo menos aumentar as suas chances. Não é por mal. Não há aquele diálogo do tipo "eu vou desgraçar a sua vida, MUAHAHA".
Às vezes, você se dá conta que as suas ações e o que a sua racionalidade diz não estão de acordo. O que muitos chamam de crise de consciência, na Psicologia tem nome: é Dissonância Cognitiva. Basicamente, você entra em sofrimento e o seu cérebro (lá vem ele novamente), pronto para te salvar, se agarra à primeira história que traga coerência ao que você fez.
"Eu só comprei porque estava com fome. Eu não trabalho tanto para passar fome, né?", diz o seu lado dramático, que te consola quando você se dá conta daqueles R$50,00 perdidos.
É nesse jogo de complacência, tentativa de entender o mundo, mentiras contadas para si mesmo e muita dor emocional que o viés cognitivo se estabelece.
E como podemos vencê-lo? Conhecendo o dito-cujo a fundo. Para isso, não tem jeito: é ler sobre o assunto, estabelecer uma conexão com a sua vida, mudar de atitude.
Com os dois primeiros passos, deixa que a gente te ajuda. Afinal, a nossa preocupação principal nos artigos que escrevemos nessa série foi trazer informação de qualidade, mas que pudesse ser "traduzida" para o seu dia a dia.
O que Racionalização Pós-Compra tem a ver com o último boleto que você pagou? O que Desconto Hiperbólico diz sobre a sua relutância em se preparar para o futuro? Como o Efeito Bandwagon distorce a sua visão sobre si mesmo e as suas capacidades?
Tudo isso você pode descobrir já já.
Ah, mas antes precisamos fazer uma ressalva. Embora fosse muito mais fácil chamar todo e qualquer viés cognitivo de Viés A, Viés B, Viés C e assim por diante, não é dessa forma que a nomenclatura desse fenômeno psicológico progrediu.
Assim, não basta apenas abrir a letra V do nosso Glossário Financeiro e ler apenas aqueles artigos. Você vai aprender muito, é verdade, mas deixará muita coisa bacana (e útil, acredite!) de fora.
Portanto, não deixe um termo passar despercebido, apenas porque ele não tem nem um Viés no nome. Às vezes é em uma Ilusão, em um Efeito ou em uma Heurística (para citar o básico) que a solução do seu problema reside. Não perca a chance de conhecer mais do seu próprio cérebro e se aprofundar!
A maior lista de vieses cognitivos da Internet
Ao pesquisar no Google, é possível que você encontre algumas listas com tipos diferentes de vieses cognitivos.
Porém, todos eles contam com o mesmo problema: não explicam o que esses termos significam de verdade. E, pior, nem o que eles têm a ver com o seu dinheiro, no dia a dia mesmo, enquanto você toma todas aquelas decisões sobre onde gastar, quanto poupar etc.
Pensando nisso, incluímos no nosso Glossário Financeiro o maior número de artigos sobre os vieses cognitivos possível. Todos eles contam com uma riqueza de detalhes incrível, explicando a causa e as consequências de cada um deles.
Sem brincadeira, é a maior lista de artigos completos sobre vieses cognitivos em toda a Internet.
Caso você esteja fascinado com o tema vieses congnitivos, tanto quanto nós, a ponto de querer estudá-lo para entender melhor a si mesmo e fazer escolhas melhores no futuro, aí vai o nosso sumário particular:
A
C
D
E
- Efeito adesão
- Efeito avestruz
- Efeito backfire
- Efeito Barnum
- Efeito bumerangue
- Efeito certeza
- Efeito contraste
- Efeito da dominância assimétrica
- Efeito da Mera Exposição
- Efeito da Primazia
- Efeito da Pseudocerteza
- Efeito da terceira pessoa
- Efeito da vítima identificável
- Efeito de ambiguidade
- Efeito de autorreferência
- Efeito de Bandwagon
- Efeito de criação
- Efeito de denominação
- Efeito de espaçamento
- Efeito de excesso de confiança
- Efeito de frequência
- Efeito Delmore
- Efeito disposição
- Efeito do Bicicletário
- Efeito do Falso Consenso
- Efeito Dunning-Kruger
- Efeito Forer
- Efeito Google
- Efeito halo
- Efeito holofote
- Efeito IKEA
- Efeito isolamento
- Efeito isolante
- Efeito Menos é Melhor
- Efeito nocebo
- Efeito Peltzman
- Efeito placebo
- Efeito reflexão
- Efeito semelweis
- Efeito Teste
- Efeito Wobegon
- Efeito Zeigarnkik
- Endowment Effect
- Erro de atribuição ao grupo
- Erro Fundamental de Atribuição
- Escalada de compromisso
- Essencialismo psicológico
- Evidência anedótica
F
- Falácia ao apelo da probabilidade
- Falácia de conjunção
- Falácia do apostador
- Falácia do planejamento
- Favoritismo intragrupo
- Fenômeno de Baarden-Meinhoff
- Fixação funcional
- Focalismo
H
- Heurística
- Heurística da Afeto
- Heurística da ancoragem
- Heurística da Disponibilidade
- Heurística da representatividade
I
- Ilusão de correlação
- Ilusão de percepção assimétrica
- Ilusão de superioridade
- Ilusão de transparência
- Ilusão de validade
- Ilusão do agrupamento
- Ilusão do controle
- Ilusão monetária
- Inibição da memória
- Insensibilidade ao tamanho da amostra
J
L
M
N
P
R
- Racionalização pós-compra
- Realismo Ingênuo
- Reatância psicológica
- Regra Pico-Fim
- Retrospectiva idílica
- Rosy Retrospection
S
T
V
- Validação Subjetiva
- Viés atencional
- Viés da atribuição de traço pessoal
- Viés da Autoconsistência
- Viés da crença
- Viés da Emoção Desbotada
- Viés da mão quente
- Viés da unidade
- Viés de autoconveniência
- Viés de automação
- Viés de autoridade
- Viés de comparação social
- Viés de Confirmação
- Viés de congruência
- Viés de conservadorismo
- Viés de Correspondência
- Viés de desejabilidade social
- Viés de Desinformação
- Viés de distinção
- Viés de enquadramento
- Viés de impacto
- Viés de incentivos extrínsecos
- Viés de Informação
- Viés de limitação
- Viés de negatividade
- Viés de normalidade
- Viés de omissão
- Viés de otimismo
- Viés de pessimismo
- Viés de positividade
- Viés de projeção
- Viés de resultado
- Viés de Retrospectiva
- Viés de risco zero
- Viés de sobrevivente
- Viés de soma zero
- Viés do ator-observador
- Viés do Custo Afundado
- Viés do humor sobre a memória
- Viés do ponto cego
- Viés do presente
- Viés do status quo
- Viés egocêntrico
- Viés pró-escolha
- Viés pró-inovação