Efeito Bumerangue
O que é o Efeito Bumerangue?
Efeito Bumerangue é o nome dado a um tipo de viés cognitivo, segundo o qual as pessoas, diante de uma mensagem persuasiva (isto é, uma mensagem cujo objetivo é convencê-las a tomar determinada atitude), se sentem mais compelidas a tomar a atitude contrária.
Sabe quando uma placa de "não pise na grama" é avistada e os seus pés imediatamente começam a coçar, como se dissessem "por favor, por favor, por favor: pise na grama"? Ou quando um pai diz para o filho que é hora de ir dormir e este logo começa a correr em círculos pela casa, como se todo o seu estoque de energia do ano tivesse acabado de ser reabastecido?
São exemplos cômicos, a gente sabe, mas a grande verdade é que o Efeito Bumerangue tem um forte potencial de dano em nossas vidas.
Especialmente, é claro, se somos nós os emissores da tal mensagem persuasiva.
Ou você acha que o jardineiro não quer se descabelar quando percebe que já tem outro cidadão pisando na grama recém-cuidada por ele? Sem falar no pai, que não sabe se chora, grita ou corre junto com a criança.
Para lidar melhor com este efeito (e seus efeitos no cotidiano, se é que podemos colocar assim) é que vamos, a seguir, nos debruçar sobre o seu funcionamento e as diferentes áreas da vida afetadas por ele.
Relacionamentos amorosos, família, saúde, trabalho e até as políticas públicas entram na conta.
Preparado?
Como o Efeito Bumerangue funciona?
Assim como o Efeito Backfire, o Efeito Bumerangue é considerado uma faceta do viés de confirmação. Este, por sua vez, se caracteriza como "o processo mental baseado em buscar, interpretar e se recordar de informações que confirmem as opiniões e visão de mundo de uma pessoa, em detrimento de outras que a questionem ou a refutem".
No Efeito Backfire, nossa resposta natural para manter o nosso sistema de crenças intacto é ignorar ou manipular qualquer evidência contrária ao nosso ponto de vista.
Por outro lado, no Efeito Bumerangue a imposição do emissor da mensagem é o maior gatilho do nosso mecanismo de luta ou fuga. Se um animal rosna para você na natureza selvagem, você tem exatamente essas duas opções: fugir (ou se esconder) ou encará-lo. Encarar envolve resistência, concorda?
Na natureza, é resistência sobretudo física. Na sociedade humana, tão complexa e emocionalmente desafiadora, a resistência está mais alinhada com a insubordinação, que passa também pela ação de outros vieses.
Um dos exemplos mais reconhecidos está na arrecadação de impostos. Conta-se que alguns países, entre eles os EUA, ao se depararem com o alto número de impostos pagos com atraso, criaram estratégias para reprimir esse comportamento.
Uma das medidas foi praticamente dobrar a multa cobrada sobre os "atrasadinhos", justificando que uma grande parte da população já pagava atrasado e precisava ser corrigida.
Ou seja, a mensagem persuasiva dizia: PAGUE OS SEUS IMPOSTOS NO PRAZO! A realidade, no entanto, não respondeu dessa maneira - na verdade, a taxa de impostos pagos com atraso apenas cresceu.
Por quê? Entende-se que a mensagem passada pelos governos foi justamente a oposta daquela planejada: A MAIORIA DAS PESSOAS NÃO ESTÁ PAGANDO NO PRAZO! VOCÊ NÃO PRECISA SE PREOCUPAR EM SER PONTUAL! Em outras palavras, "segundo o viés de desejabilidade social, o seu atraso é socialmente aceitável. Relaxe!".
Nas empresas de comunicação, aliás, já se sabe que estatisticamente as pessoas respondem melhor a um "por favor, jogue o seu lixo na lixeira" do que a um "não jogue lixo aqui!".
Isso se dá graças aos mecanismos cerebrais ativados em situações de confronto, em que nossa flexibilidade cognitiva é desativada e ficamos na defensiva. Quanto menor for a chance de nos sentirmos em uma situação do tipo "lute ou fuja", melhor é a nossa receptividade à mensagem.
Essa regra é válida com a sua grama, com os seus filhos, com os seus impostos e, sobretudo, com o seu dinheiro. Afinal, não é a capacidade de persuasão o elemento central de qualquer negociação financeira?