Viés da Trivialidade
O que é o Lei da Trivialidade?
Lei da Trivialidade, Efeito do Bicicletário ou, ainda, Law of Triviality e Bike Shed Effect (conforme os termos originais em Inglês) são nomes diferentes para designar um mesmo tipo de viés cognitivo. Aqui, o fenômeno psicológico retratado é simples: a tendência natural que nós, seres humanos, possuímos de, como membros de um grupo, darmos atenção desproporcional a questões triviais.
O conceito foi inicialmente cunhado por C. Northcote Parkinson, escritor reconhecido por formular também a Lei de Parkinson (aquela que dita que "o trabalho se expande de modo a preencher o tempo disponível para a sua realização", sabe?).
Segundo ele, quando organizadas em grupos (como em um comitê, por exemplo) as pessoas tendem a passar mais tempo discutindo pontos banais do que tratando do problema central (e geralmente mais complexo).
O motivo? A própria complexidade que esse último item tem, como característica.
O que é mais fácil: opinar sobre o que servir no almoço de domingo ou sobre astrofísica e engenharia elétrica? A não ser que você tenha algum tipo de formação específica nesses tópicos, tratar do almoço será muito mais fácil para você.
O resultado? Você tem a sua própria opinião. Assim como o seu colega, e o colega ao lado dele. Você prefere frango assado, o colega 1 prefere macarronada e o colega 3 defende uma bela lasanha.
Logo, vocês estão envolvidos em uma empolgada discussão sobre o porquê do frango assado ser melhor ou pior do que as outras opções. Argumentos gastronômicos, históricos, psicológicos e toda sorte de alegação que confirmem as respectivas opiniões aparecem.
Mas e quando se trata de astrofísica e engenharia elétrica? Como poucos possuem conhecimento suficiente para emitir um parecer com confiança, poucos se pronunciam, poucos questionam as sugestões apresentadas e, logo, pouco tempo se gasta nessa discussão.
Se o grupo é formado por astrofísicos ou engenheiros elétricos, é claro que também serão estabelecidos, dentro dessas temáticas, quais são os assuntos mais complexos e mais simples. Assim, eles acabaram discutindo pontos que podem ser considerados difíceis para a população em geral, mas que, dentro daquele grupo, não passa de uma trivialidade.
Como o Lei da Trivialidade se aplica no nosso dia a dia?
Você pode estar se questionando por que conhecer a Lei de Trivialidade é importante para você, que não é astrofísico (nem engenheiro elétrico) e já sabe o que preparar no próximo almoço da família.
A verdade é que a Lei de Trivialidade está presente no nosso cotidiano em diferentes áreas - basicamente, onde há uma discussão, há uma chance para que a mesma se apresente.
Para ilustrar, vamos tratar de dois âmbitos comuns a todos: o trabalho e o dinheiro.
No primeiro, a Lei de Trivialidade tem papel absoluto em muitas reuniões (para citar apenas um exemplo). Quantas vezes você participou de uma delas e percebeu que, se tivessem se atentado ao problema verdadeiramente relevante a ser debatido, ela teria durado 1/3, 1/4 do que durou?
Não é apenas uma perda de tempo: é uma perda de dinheiro também para a empresa, que te desperdiça enquanto recurso.
E falando de dinheiro… É comum que muitas famílias, ao perceberem a necessidade de controlar melhor os gastos, passem mais tempo discutindo se devem cortar ou não o cafézinho pós-almoço (e cada um tem um opinião!), ao invés de debaterem as taxas de juros aplicadas atualmente sobre as suas dívidas.
Esse último ponto tem um poder maior de realmente impactar o orçamento da família, mas é tão complexo que ninguém (ou quase ninguém) quer falar sobre com afinco.
O próximo passo da Lei da Trivialidade é a procrastinação e, por fim, a negligência - seja da situação atual, das soluções e/ou do real potencial que cada recurso (seja monetário, seja humano) oferece de mudar a realidade.