Viés atencional
O que é o viés atencional?
Viés atencional (ou attentional bias) é o nome dado a uma tendência que todos os seres humanos possuem de escolher no que prestar atenção de acordo com os seus aspectos emocionais.
Isso se dá porque, todos os dias, a cada segundo, nós somos expostos a um número gigantesco de estímulos do ambiente em que estamos.
Você mesmo, ao ler este artigo, tem uma série de objetos próximos em seu campo de visão. Na pele, não só os diferentes tecidos que compõem as suas roupas, como o local onde está sentado e a temperatura do ar, por exemplo, interagem com o tato. E nem falamos ainda do que acontece nos seus ouvidos neste exato momento: quantos sons diferentes você é capaz de ouvir? Desde de conversas a barulho dos carros na rua, passando pelo próprio som do ar viajando pelas vias respiratórias, a sua audição é requerida a todo tempo.
E embora todo esse papo possa parecer digno de uma discussão sobre mindfulness (uma espécie de meditação que busca ativar a percepção dos praticantes sobre o próprio corpo), a verdade é que o viés atencional se relaciona com todas as áreas da sua vida… E pode ser a explicação para muitos dos seus comportamentos disfuncionais.
Inclusive, no que tange às suas finanças e postura como investidor. Afinal de contas, diante de tantos estímulos do mundo enquanto compra, ganha e investe, como você sabe que está prestando atenção no que importa ao tomar as suas decisões financeiras?
Qual é a origem do viés atencional?
Automatizar processos. Poupar energia. Te manter vivo.
Antes de amaldiçoar a sua “cachola” por analisar erroneamente a realidade, saiba que esses são os maiores e mais importantes objetivos do seu cérebro.
E como existe para ser a parte mais esperta de você, ele já entende (há milhares de anos) que é preciso usar o mínimo possível a sua parte racional. Para tanto, ele cria estereótipos, por exemplo (oi, heurística da disponibilidade!). Não porque ele quer colocar pessoas em “caixinhas”, mas porque analisar todo mundo gasta tempo e energia preciosos demais.
No caso do viés atencional, voltemos ao primeiro tópico. Imagine o que aconteceria se você tentasse focar em todos os estímulos de visão, tato e audição (sem falar dos outros sentidos)? Provavelmente entraria em parafuso.
“Então qual é a saída mais inteligente?”, o seu cérebro se pergunta. E a resposta ele mesmo encontra: selecionar o que é mais importante para a nossa sobrevivência e prestar atenção nisso, ignorando todo o resto.
Se algum item desse resto se revelar importante posteriormente, nós desviamos a atenção para ele. Combinado? Combinado.
E é por isso que você consegue ler esse texto mesmo que tenha uma música tocando nos seus fones de ouvido, mas se desconcentra caso ouça um grito. Ninguém pode dizer que não é um sistema inteligente…
Como o viés atencional interfere nas suas finanças?
O problema é que, conforme evoluímos, deixamos de ter questões tão vitais à nossa vida em nosso “radar da atenção”. Não é mais sobre ignorar o coachar de um sapo e se atentar a rugidos. Agora, são palavras, posturas, números… Que não apresentam riscos reais de morte, mas ditam como reagimos e nos comunicamos - em especial, nas emoções que sentimos.
Pessoas que se identificam como positivas tendem a se atentar mais para os aspectos positivos das experiências que estão vivendo, por exemplo. Enquanto isso, pessoas negativas fazem o oposto.
Essa relação é, inclusive, objeto de estudos que pesquisam como viciados em álcool ou depressivos estão mais atentos a estímulos externos ligados à bebida e à tristeza.
Mas se essas parecem questões extremas demais para você, saiba que você não foge do viés atencional.
No mercado financeiro, uma boa maneira de identificar o viés atencional em ação é identificar um sujeito que ainda se sinta muito inseguro em relação às suas aplicações em renda variável.
Todos os dias, ele acessa um portal de notícias ligados à Economia e passa o olho pelas manchetes do dia. De acordo com as descobertas recentes da ciência ligadas ao pensamento enviesado, o mais comum é que essa pessoa tenha a sua atenção atraída por títulos que contenham palavras como “crise”, “queda”, “prejuízo”…
Não é um processo totalmente consciente, mas o cérebro aplica esse filtro em uma questão de segundos e tende a ignorar ou subjugar todo o resto - inclusive na memória.
Justamente por essa relação entre atenção e lembrança se acredita que o viés atencional e o viés de confirmação se retroalimentam.
Mas e você: no que você prestou atenção hoje?