Ilusão Monetária
O que é a Ilusão Monetária?
A ilusão monetária (em Inglês, money illusion) é um tipo de viés que explica a tendência que as pessoas têm de avaliar questões econômicas privilegiando o valor nominal da moeda em detrimento do seu valor real.
Parece confuso? Explicamos:
- Valor nominal é o próprio valor numérico de uma moeda (R$1, $5, €10);
- Valor real é o poder de compra que aquela (quantidade de) moeda garante ao seu proprietário.
Perceber variações nesse primeiro é mais fácil - afinal, se antes você tinha 10 reais e agora tem 15, há um acréscimo claro de 5 reais (ou 50%).
No entanto, o segundo pode se mostrar mais difícil de absorver. Isso porque as variações no valor real não dependem simplesmente de se ter mais ou menos moeda, mas da inflação e de outros fatores que determinam o que e quanto se é possível comprar com essa quantidade.
Para ilustrar melhor, compare os seguintes dados. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (o DIEES), em 2009, moradores da capital paulista precisavam de R$ 228,19 para comprar todos os itens de uma cesta básica. Ou seja, alguém que ganhasse R$912,76 naquela época precisavam separar 25% do seu orçamento para esse tipo de compra.
No entanto, em 2019 o custo para se adquirir os mesmos itens subiu para R$509,11, segundo a mesma DIEES. Um aumento de 123%! Aquela pessoa que antes destinava 25% do salário à cesta básica, se manteve o mesmo salário de 2009, compromete hoje 55,77% dos seus ganhos.
Pense bem: o salário nominal dela não mudou (continua os mesmos R$912,76). No entanto, o que ela compra com essa quantia já não é o mesmo. O que houve então é uma mudança no seu salário real.
E é justamente essa dificuldade que temos em dissociar o valor de uma moeda de seus números, por vezes julgando erroneamente as suas variações, que dá origem ao viés conhecido como ilusão monetária.
Como a Ilusão Monetária funciona?
Um dos estudos mais famosos ligados à ilusão monetária levanta essa mesma dúvida a respeito da percepção que os trabalhadores têm de seus salários.
Como avessos a perdas, qualquer sinal de prejuízo em nossos ganhos tende a nos deixar de orelha em pé, certo? Mas o que dizer das perdas que temos pela interpretação ilusória do valor do dinheiro?
Seguindo os moldes de pesquisa de tal estudo, suponhamos que os sujeitos estudados tenham sido incentivados a avaliar o seu grau de hostilidade frente a duas situações diferentes.
Na primeira, eles têm uma redução de 5% em seus salários. Quem ganha 1000 reais, por exemplo, passaria a ganhar apenas 950. Como se é de imaginar, eles não ficaram nada felizes com a proposta.
Já na segunda situação, eles recebem um aumento de iguais 5%. Podemos até ouvir aquele sujeito que antes recebia 1000 reais se animar ao pensar como gastará os seus 50 reais extras.
A única condição para esse aumento é que, a partir do seu recebimento, a inflação chegue a 10%.
Racionalmente, o resultado é o mesmo: -5% quando se trata de poder de compra.
Mas quando precisaram escolher, os indivíduos estudados optaram pela segunda opção e (pasmem) se diziam bem mais felizes do que estariam se tivessem optado pela primeira.
No seu cérebro, eles receberam 5% a mais no salário e isso é suficiente para que uma descarga de dopamina (o tal hormônio do prazer) lhes deixem mais satisfeitos com o resultado.
Se você acha que este é apenas um experimento, em um contexto extremo e científico, e que a ilusão monetária pouco tem a ver com a sua realidade, entenda que ela se aplica a muitas questões práticas.
Sabe aquela sua tia-avó que jurava que guardar o dinheiro embaixo do colchão era muito mais seguro do que arriscá-lo entregando aos bancos? Além de uma boa dose de aversão à perda, ela também tinha enorme dificuldade entender que aqueles mil reais guardados por ela, em 10 anos valeriam bem menos. Ou pelo menos, valeriam o mesmo (em questão nominal), mas não comprariam as mesmas coisas.