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sanções econômicas
Economia

Guerra na Ucrânia e as previsões econômicas que não se confirmaram

Os preços do petróleo não dispararam, as criptomoedas não ocuparam o lugar do dólar, que continuou sendo a moeda forte

Data de publicação:07/03/2023 às 08:00 -
Atualizado um ano atrás
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Quando o conflito se iniciou, especulava-se que o barril de petróleo alcançaria US$ 150 no mercado internacional, com grandes danos à economia global e trazendo à mente a inflação fora de controle da década de 70.

Entretanto, um ano depois, é possível observar que os preços estão próximos da metade do valor inicialmente previsto. 

Bolsa petróleo opep
A dinâmica inflacionária é uma dasprincipais dúvidas que se colocam mais à frente - Foto: Reprodução 

Que fatores teriam alterado sua trajetória, levando em conta um choque de oferta tão significativo? Qual a margem de manobra dos países quando expostos a conflitos geopolíticos?

O objetivo deste artigo é tentar elucidar essas e outras questões.

A eficácia das sanções

Sanções e embargos só funcionam até um certo ponto e, no final das contas, o petróleo sempre chega a seu destino. 

No que diz respeito ao seu transporte, pode-se dizer que existem tanto os meios explorados por países como Venezuela e Irã, cujos obsoletos navios petroleiros viajam com os seus transponders desligados, como os perfeitamente legais, mas que não seguem as sanções.

Com a negociação de commodities se deslocando para o Oriente Médio, países como os Emirados Árabes Unidos passaram a importar petróleo russo, misturá-lo e vendê-lo para a mesma Europa que hoje o recusa.

Tradings em Dubai

Se até pouco tempo atrás as vendas eram feitas por tradings estabelecidas em Genebra, hoje boa parte da atividade ocorre em Dubai, que também transaciona com a Turquia.

Movimento imperceptível para quem está do outro lado do planeta, é fato que novos agentes estão formando a sua própria frota de navios petroleiros, causando um efeito inflacionário no mercado de segunda mão semelhante ao que ocorreu com o de carros usados durante a pandemia. 

Já em relação à parte financeira das sanções, acreditava-se que o dólar seria substituído por um outro meio de pagamento, seguro, barato e livre do poder arbitrário de qualquer superpotência mundial.

Criptomoedas como solução de pagamentos

Outra previsão que não se confirmou.

No final do ano passado, a FTX quebrou, colocando em evidência as atividades paralelas que ocorriam com as criptomoedas de emissão privada. 

Naquele mercado, as exchanges emprestavam não só os seus ativos como também os de terceiros, gerando um ciclo vicioso e insustentável onde mais especulação levava a mais alavancagem. 

Tudo por conta da falta de uma metodologia para se avaliar o valor “justo” desses ativos digitais, dado que não possuem qualquer fluxo financeiro futuro, a exemplo dos juros na renda fixa e dos dividendos na renda variável. 

Como não poderia deixar de ser, a popularidade e o corpo a corpo via lobby serviram para que as autoridades monetárias se debruçassem sobre o assunto, desenvolvendo os seus próprios esboços de criptomoedas (Central Bank Digital Currencies – CBDCs) e visando outros objetivos.

Moeda comum

Nesse ponto, imprescindível ressaltar toda a discussão em torno das moedas regionais, “imitando” o papel do euro.

Dentro de um contexto de regionalização, onde países politicamente alinhados buscariam aperfeiçoamentos para a forma como transacionam entre si, a difícil equação entre capital externo, câmbio e taxa de juros.

Considerando a lógica do modelo de Mundell-Fleming, a China dificilmente abrirá mão do controle de capitais enquanto é pouquíssimo provável que o resto do mundo volte ao regime de câmbio fixo, semelhante ao qual se submeteram os países europeus antes do lançamento da moeda comum.

Dito isso, o dólar continua desempenhando o seu papel central no mercado internacional, tendo gerado a elevação dos juros mundo afora e reduzindo substancialmente o potencial de crescimento da economia mundial.

Década perdida para quem?

Choques do petróleo e juros internacionais altos remetem à década perdida dos anos 80.    

Naquela época, era praticamente impossível para os países emergentes arcarem com o aumento dos custos dos empréstimos em dólar conforme as suas moedas se desvalorizavam. 

Todavia, contrariando as expectativas iniciais e desconsiderando os casos de calote como o do Sri Lanka, os países cujas moedas sofreram grandes desvalorizações após o início da guerra foram os pertencentes ao grupo de economias desenvolvidas (Inglaterra e União Europeia). 

Credibilidade abalada

Especificidades à parte, pode-se dizer que tanto a libra como o euro foram vítimas da falta de capacidade de seus respectivos governantes em solucionar deficiências de longa data. 

No caso da libra, é o Brexit que nunca se conclui, ainda que alguns avanços tenham sido obtidos mais recentemente. Já no caso do euro, o “ciclo da ruína”, termo assustador associado à condição da Itália, terceira maior economia do bloco econômico.

Altamente endividada, ela compromete as finanças dos bancos locais, expostos aos seus papéis. Como resultado, estes agentes encontram dificuldades para disponibilizar o crédito, desacelerando a economia e reduzindo a arrecadação do mesmo governo que financiam a taxas cada vez maiores.

Conclusão

Olhando pra frente, restam ainda muitas dúvidas, começando pela própria dinâmica inflacionária. 

Mais do que apenas uma questão de expectativas inflacionárias, é preciso levar em conta os efeitos do protecionismo e de uma política industrial mais parruda, revertendo boa parte dos ganhos de escala da globalização.

Os EUA largaram na frente, com o propósito de criar suas próprias cadeias de valor e limitar o acesso a setores estratégicos. Consequentemente, estarão aptos a verticalizar a produção, mantendo não só o controle de todas as suas etapas, mas também garantindo o poder para fixar preços.

Nesse ambiente de negócios, até mesmo a transição energética pode sofrer percalços, conforme os geradores são chamados para “contribuir”  com a causa nacional. 

A escolha de cada sociedade

Diante disso, é muito provável que o resto do mundo tome as suas próprias decisões para minimizar quaisquer consequências negativas desse processo, jogando fora o “manual de boas práticas” para o controle da inflação.

Desconsiderando qualquer ataque verbal contra banqueiros centrais que fazem o seu trabalho, dificilmente haverá um movimento sincronizado entre política fiscal (como o governo arrecada e gasta) e política monetária (como as taxas de juros são estabelecidas).

Em um contexto de crescimento mundial menor, é bastante razoável supor que os governos serão compelidos a fazer (gastar) mais, gerando novos desdobramentos econômicos e surpresas. Concluído o segundo ano da invasão da Ucrânia, essa talvez seja a única certeza.

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Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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