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Economia

Sanções: o que são e quais os impactos na economia mundial

No caso de países de maior peso internacional, o potencial para danos é bastante amplo

Data de publicação:25/02/2022 às 00:30 -
Atualizado 2 anos atrás
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Não é de hoje que países da Europa se envolvem em conflitos armados. Porém, a luta pela hegemonia internacional não é mais a mesma. Com a globalização e o sistema financeiro internacional amplamente interligado, a política externa é aplicada via sanções.

Há aproximadamente uma década que um terço da população mundial sofre suas consequências econômicas, sendo a Rússia, terceira maior produtora de petróleo do mundo, o caso mais recente.

sanções

Não é a primeira vez que isso acontece.  Em 2014, ela já tinha sofrido sanções por anexar a Crimeia. Entretanto, aquela foi a primeira ocasião em que se atingiu uma grande nação. 

Com os EUA, Inglaterra e União Europeia anunciando medidas que abrangem desde a negociação da títulos da dívida russa nos mercados internacionais, até o congelamento de ativos de indivíduos dentro e fora do governo, seus familiares e empresas, o que se pode esperar em termos de impactos para a economia mundial, ainda sob os efeitos da pandemia?

Para tanto, seria interessante olhar para trás.

Origem

Tudo começou com o fim da primeira guerra mundial. Para manter a paz, a Europa foi submetida a fortes sanções.  Daí surgiu a sua primeira característica: sanções não são aplicadas unilateralmente. Um grupo de países se junta para punir outro que não joga pelas mesmas regras e que, eventualmente, poderia declarar guerra. 

Esse castigo pela má conduta era feito pelo bloqueio ao acesso a insumos básicos ou a proibição de se efetuar negócios com determinados países. Ao longo dos anos, essa estratégia se sofisticou.  Os governos passaram a colocar militares e economistas na mesma sala, de forma que as sanções passaram a abarcar também como determinadas atividades eram financiadas.

Entretanto, nem sempre os objetivos almejados eram alcançados. O sistema financeiro evoluiu com o mundo e, conforme economias mais importantes se tornaram alvos, tornou-se difícil manter a cooperação entre os países, que passaram então a ser mais protecionistas.

Sanções

Entre os setores mais expostos estão o financeiro, o de tecnologia e o energético.

Depois do ataque terrorista de 11 de setembro de 2001, que derrubou as torres gêmeas em Nova Iorque, o governo norte-americano aprovou o Patriot Act com o intuito de confiscar recursos que financiavam tais atividades. 

Com o tempo, a regulamentação passou por um ajuste fino para incluir um grupo maior de pessoas como ditadores, limitando o acesso dos mesmos ao sistema financeiro internacional, baseado no dólar e controlado por Washington.

Nesse ínterim, jogou no colo dos bancos a tarefa de monitorar e bloquear recursos de países e empresas inseridas na lista dos “bad guys”. Os custos para esses agentes explodiram e as penalidades se tornaram bilionárias.

Em 2010, os EUA incluíram as chamadas sanções secundárias, que proibiam que empresas fizessem negócios com os alvos que se encaixassem no Patriot Act. O setor de tecnologia acabou sendo incluído, não apenas aquele destinado a fins bélicos, mas também boa parte dos componentes eletrônicos usados em celulares e outros bens de consumo.

Considerando o caos observado no mercado de commodities em 2021, talvez esse seja o setor mais complicado. No caso de empresas de energia, sanções afetam não só a produção de petróleo e gás, mas também limitam novos investimentos, ao impossibilitar que captem recursos nas principais praças financeiras (Nova Iorque e Londres).

Mesmo petroleiras norte-americanas e europeias podem sofrer, considerando as participações cruzadas em companhias russas:

  • A BP possui aproximadamente 20% da Rosneft;
  • A Shell, pouco mais de 25% de um projeto de gás da Gazprom;
  • A Exxon explora petróleo e gás juntamente com duas subsidiárias da Rosneft.

Outros casos semelhantes se aplicam às tradings, sediadas em jurisdições bastante neutras como a Suíça e que se financiam junto a bancos europeus para que possam firmar parcerias em projetos russos para comercializar a produção para a Europa, altamente dependente de seu gás.

Drible nas sanções

Países expostos a sanções procuram por alternativas, como outras moedas e praças financeiras para manter as suas atividades.

No caso da Rússia, em 2017, o dólar representava aproximadamente metade de suas reservas de US$ 430 bilhões. Dois anos depois, esse percentual caiu para 22% conforme o banco central russo optou por uma parcela maior de euros e yuans (moeda da China).

Conter os danos iniciais é sempre a parte mais difícil.  Em 2018, quando o governo Trump aplicou sanções contra dois oligarcas russos e suas respectivas empresas de alumínio, o rublo (moeda local) se desvalorizou e o caos se instalou na London Metal Exchange (LME), bolsa europeia onde o metal é transacionado.

Trump foi um dos presidentes que mais se utilizou desse expediente, aparentemente com uma criatividade infinita. A Rússia se defendeu emitindo dívida soberana em euros, pedindo às suas empresas que se listassem na bolsa local, autorizando-as a também negociarem em outras moedas.

Olhando pra frente, os impactos podem comprometer inclusive a transição energética, dado que a Rússia é uma grande produtora de cobre e níquel, insumos usados na produção de baterias para fontes mais limpas, porém intermitentes.

Conclusão

Sanções são instrumentos de política externa, usados quando se deseja direcionar determinada conduta por outros países, nas ocasiões em que a diplomacia não atinge esse objetivo.

Ao longo dos anos, se tornaram mais sofisticadas e abrangentes, substituindo os embargos econômicos. Na forma como existem hoje, podem abarcar determinados países, setores, empresas e pessoas.

Não se trata de apenas isolar Cuba ou até mesmo a Coréia do Norte. No caso de países de maior peso internacional como a Rússia e a China, o potencial para danos é bastante amplo.

Isso se deve ao fato de nações importantes encontrarem formas de retaliar ou reduzir a sua dependência do sistema financeiro internacional, como fez a autoridade monetária da Rússia ao substituir suas reservas em dólar por outras moedas.

A dificuldade é fazer com que países que aplicam as sanções se mostrem dispostos a enfrentar algum revés econômico, como o gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia à Alemanha bem mostra.  

A cooperação internacional foi para o espaço no início da pandemia e quanto mais indiscriminado o uso de sanções, piores os resultados. 

Bem-vindos ao caos, versão 2022.

Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.