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Foto: Agência Brasil
Economia

Transição energética: novas tecnologias e velhos problemas

Em momentos de choques de oferta de energia, é comum uma volta para as fontes mais poluentes

Data de publicação:01/10/2021 às 05:00 -
Atualizado 3 anos atrás
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A volatilidade comum às commodities energéticas, antes bastante atrelada a conflitos geopolíticos que desestabilizavam países, chegou a um mercado que até então era considerado ideal para fazer a transição para a economia verde. A transição energética pode ser bem mais complexa do que se imagina

Ao optar pelo gás natural, a Europa almejava uma fonte menos poluente e que garantisse o suprimento de energia diante da natureza intermitente de usinas eólicas e solares. O recente salto nos preços de energia no continente é um exemplo bastante ilustrativo do desarranjo que pode ocorrer inclusive em economias estáveis e desenvolvidas. 

Foto: Agência Brasil
Mudanças de fontes de energia foram bastante lentas, como mostra a história

Transição

Substituir uma fonte de energia básica não é uma tarefa fácil. Como a própria história mostra, a substituição da lenha pelo carvão e, posteriormente, pelo petróleo foram bastante lentas, exigindo grandes mudanças em infraestrutura e no funcionamento da economia em si.

O resultado nem sempre é o esperado.  Apesar da fonte nova tomar parte do mercado da fonte de energia predominante, sua demanda é pouco impactada, visto que o mercado como um todo cresce. 

Traçando um paralelo com os tempos atuais, estima-se que o custo de instalação de um projeto de grande porte de energia solar será menor que o custo de manutenção de uma usina térmica já em 2030. 

Assim, é de se esperar um consumo maior, atendido por mais fontes renováveis, em um sistema suprido por usinas térmicas que se tornam ultrapassadas ao longo do tempo, mas que são mantidas, dado o custo de construção de usinas térmicas novas.  

Preço do gás

Voltando ao caso da Europa, não se pode culpar o Oriente Médio pela disparada nos preços.  Investimentos feitos pelo Egito e por Israel nos últimos anos permitem que o gás natural extraído em partes do Mar Mediterrâneo atenda também outros mercados, dada a disponibilidade dos terminais de gás natural liquefeito (GNL), que dispensam a construção de gasodutos. 

Um inverno mais rigoroso na Europa e um verão mais quente na Ásia, frutos das mudanças climáticas, aumentaram o consumo de energia, em um momento de plena retomada da produção mundial. 

Por mais que o gás possa ser transportado para várias partes do mundo, a verdade é que ele possui uma dinâmica diferente.  A demanda por petróleo pode ter caído nos meses iniciais da pandemia, mas o mesmo não ocorreu com o gás.  Seu mercado é relativamente estável, visto que na Europa, ele também é utilizado para climatizar casas e edifícios.

Demanda

A transição energética parecia bem endereçada há alguns anos, graças aos investimentos em terminais de GNL nos EUA, que se beneficiou da tecnologia de extração a partir do xisto, e à carteira de projetos das petroleiras europeias, cada vez mais diversificada.

Porém, isso mudou.  A Ásia importa aproximadamente 75% de todo o GNL produzido no mundo.  A China especificamente, tendo dado a largada na produção industrial mundial, não foi capaz de atender ao crescimento de 16% no consumo de energia no primeiro semestre, ainda que 60% da sua matriz seja composta por carvão. 

Como pano de fundo, hidrelétricas inoperantes por falta de chuvas e a redução dos investimentos em novas minas de carvão.  Com a Ásia a todo vapor, sobrou pouco para o resto do mundo. 

Oferta

Nos choques de oferta de energia, é comum que se volte para as fontes mais poluentes.  Isso não seria algo tão preocupante se não ocorresse na Europa, abastecida por potências como a Rússia e a Noruega, e onde as empresas de energia pagam um alto custo pelo direito de poluir, repassando-o então para os preços.

Dito isso, o êxito do gás natural como fonte de transição energética depende de alguns fatores.  O primeiro deles diz respeito aos próprios limites impostos para as emissões.  Extrair o gás e adequá-lo para outra forma de transporte que não o próprio gasoduto já é em si um processo que gera emissões.

O segundo está relacionado ao aperfeiçoamento das tecnologias aplicáveis às renováveis.  No caso de usinas eólicas, por exemplo, o regime de ventos se altera entre as estações e pode inclusive ser distinto entre um ano e outro.  Gerenciar essa inconstância é um dos desafios, juntamente com o desenvolvimento de baterias de longa duração.

Mercado de carbono

Nada funciona se não houver incentivos.  Por isso, a criação de mecanismos que induzem negócios a reduzirem as suas emissões de gases de efeito estufa.  O primeiro deles, mais comum, é a precificação do carbono enquanto o segundo é a tributação sobre ele. 

Dentro do mercado de carbono, a comercialização de permissões pode ser tanto regulada como voluntária.  No mercado regulado, adota-se o que se chama de “cap and trade”, onde empresas possuem um limite para poluir (cap), ao mesmo tempo em que podem negociar as suas permissões (trade).

O mercado voluntário, por sua vez, se baseia em compensações (offsets).  Nesse modelo, os agentes negociam os créditos de projetos que auxiliam na descarbonização.  Assim, empresas mais poluentes os adquirem, compensando o que lançam na atmosfera.  Ao contrário do mercado de carbono regulado, o que vale aqui é a questão reputacional.

Conclusão

Desequilíbrios nos mercados de commodities energéticas, sejam elas mais ou menos poluentes, reverberam pelo mundo todo. 

Por conta disso, muitos governos já abriram mão dos subsídios, que se tornaram artigos de luxo quando se leva em conta o alto endividamento público.  A outra alternativa, o controle de preços, dificilmente torna os mercados mais eficientes. 

Diante desse contexto, como fazer a transição energética sem enfurecer a população, já impactada pelo aumento da desigualdade? 

Até pouco tempo atrás, a resposta estava no gás natural e o exemplo da Europa mostra como a questão pode se tornar complexa.  Bastante avançada na tecnologia de energias limpas e com políticas bem implementadas, o continente se vê diante de um aumento bastante expressivo no valor de sua energia, também em função do seu mercado de carbono.

As usinas renováveis dependem de uma fonte de energia que sirva de garantia.  Na falta de gás natural, volta-se para os combustíveis fósseis mais poluentes.  Poderia o planeta conceder um prazo adicional para uma transição ordenada, considerando a emergência climática?

Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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