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Economia

Inflação e a lógica econômica das energias renováveis

As economias reabriram plenamente, aumentando a demanda por petróleo e gás, cujas cotações saltaram logo em seguida com a guerra na Europa

Data de publicação:23/02/2023 às 08:00 -
Atualizado um ano atrás
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Em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia, expondo o contexto internacional já complexo à geopolítica do petróleo. 

Até então, a inflação, considerada como transitória, era uma combinação de vários fatores, entre os quais os programas de estímulo implementados durante a pandemia e as rupturas nas cadeias globais de valor, consequências de lockdowns desordenados em várias partes do mundo. 

energias renováveis
Em nível global, calcula-se que houve uma redução de 2% no consumo de energia para cada unidade de PIB produzida - FOTO: Bloomberg

As economias reabriram plenamente (exceto pela China, que permaneceu “fechada” por mais de 1.000 dias), aumentando a demanda por petróleo e gás, cujas cotações saltaram logo em seguida, dado o choque de oferta causado pelo início da guerra na Europa. 

Sorte?

Atualmente, pode-se dizer que os preços mais baixos de energia nada mais são que o resultado de um pouco de sorte (um inverno mais ameno na Europa, por exemplo) e algum poder de adaptação por parte da população. 

Entretanto, se antes acreditava-se que os efeitos dos aumentos de juros eram sentidos em um prazo de aproximadamente 18 meses, algumas evidências apontam que ele se reduziu pela metade, dada a melhora na comunicação dos bancos centrais. 

Projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) confirmam essa expectativa. O órgão rebaixou as suas previsões para o crescimento em 2023, de 3,8% para algo mais próximo de 3%, ainda que parte desse resultado possa ser atribuído ao conflito europeu. 

Com a economia mundial desacelerando, quais seriam as opções para driblar a volatilidade das commodities energéticas? 

Energias renováveis

Atentando-se para os choques do petróleo anteriores, duas tendências se destacam: o uso mais eficiente de energia e a busca por seus substitutos. Enquanto a primeira se confirmou ainda no ano passado, existem dúvidas sobre a segunda.  

Em nível global, calcula-se que houve uma redução de 2% no consumo de energia para cada unidade de PIB produzida, representando o melhor resultado em uma década.

Já em relação aos seus substitutos, a quantidade de incentivos (subsídios) adotados pelos EUA, Europa e China é parte da explicação para os altos investimentos em energia solar e eólica, que superaram os de petróleo e gás pela primeira vez.  

Tudo pela segurança energética, haja vista tratar-se de projetos que produzem energia a partir dos recursos naturais locais (sol e vento), o que teoricamente evitaria os racionamentos, altamente impopulares.  

Mas, seriam eles suficientes para amenizar o impacto dos preços de energia nos índices de inflação?  

Questões regulatórias e financeiras 

Ainda que muitos tenham saído do papel, são questionáveis as possibilidades de êxito, considerando os longos prazos para se obter uma licença e a sua efetiva implementação.  Os que já estavam contratados sofreram aumentos nos custos no pós-pandemia, especialmente os relacionados aos metais utilizados na fabricação de cabos, turbinas e painéis solares, sem os quais não podem funcionar.  

Os mais recentes, por sua vez, foram atingidos em cheio pelos aumentos de juros, lembrando que as usinas de energia renovável exigem altos aportes antes mesmo que qualquer coisa seja gerada.

Bancando a conta

Ambos poderiam ser considerados riscos do negócio, deixando de causar o desinteresse entre os players, não fosse a preocupação dos governantes em manter os preços baixos e/ou elevar a tributação quando oportuno.

O chamado “windfall tax”, que nada mais é que um imposto sobre um ganho inesperado, como o decorrente de um choque de oferta, tem por objetivo elevar a arrecadação de governos que, de outra forma, não teriam como endereçar o aumento do custo de vida sem comprometer as suas próprias contas.

Pagando para operar

Em muitas partes do mundo, os leilões de energia renovável estão sendo dimensionados para colocar um teto nos preços. Não são incomuns as vezes em que os geradores são “convidados” a pagar para operar um determinado projeto. 

Como alternativa, as empresas de energia negociam a sua produção no mercado à vista (“spot”), cujos preços oscilam bastante. Consequentemente, encontram desafios para honrar a fama das utilities como “máquinas de dividendos”. 

De acordo com a Agência Internacional de Energia, a geração a partir de fontes renováveis cresceria 25% a mais até 2027 não fossem pelos entraves financeiros e regulatórios, que reduzem a atratividade do setor.  

Conclusão

Apesar dos banqueiros centrais terem reduzido o ritmo de aumento dos juros, existe o temor de que a história se repita. Durante a década de 70, afrouxou-se a política monetária depois de alguns resultados animadores, apenas para ver a inflação subir novamente.  

Ainda assim, existem economistas que defendem a tese de que o mundo esteja passando por uma “ressaca monetária”, o que exigiria apenas o tempo necessário para que se livre dos excessos.  

Em sua defesa, relatam situações semelhantes como o final da segunda guerra mundial e a experiência das economias do leste europeu após a queda da antiga União Soviética.

Entretanto, a forma de se quantificar isso não é tão simples.  

Fora do modelo

Desde a década de 80 que os banqueiros centrais calibram a atividade econômica via juros ao invés da oferta de moeda, motivo pelo qual ela sequer faz parte de seus modelos, construídos em torno de premissas como juros, economia real e expectativas de inflação. 

De qualquer forma, nada impediria que essa ressaca monetária fosse acompanhada de uma economia ainda aquecida. Considerando os dados de desemprego nos EUA, a última vez que índices tão baixos foram vistos foi em outro período também inflacionário (1969). 

Tal como ocorreu nos anos 70, novos choques de oferta não podem ser descartados, levando-se em conta a reabertura da China, o que elevaria os preços do petróleo em até US$ 15 por barril. 

O preço da estabilidade

Tentar compensar a diferença, onerando as usinas eólicas e solares, está longe de ser o mais sensato a se fazer. Políticas públicas para a promoção de energias limpas devem seguir a sua lógica econômica. 

Em um mundo altamente interligado, ainda que a globalização esteja passando por uma reversão, resta aos governantes buscar a autossuficiência ou se sujeitar às influências geopolíticas.   

Como ficou evidente em 2022, foi atendido quem podia pagar mais para garantir seu suprimento energético, algo que definitivamente não contribui para baixar a inflação.

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Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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