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Finanças Pessoais

Recessão: quando o crédito privado também sofre

Títulos de crédito privado podem atrair aqueles que desejam turbinar alguma sobra no orçamento. Mas, você investiria em um negócio cujas perspectivas não são nada animadoras?

Data de publicação:24/01/2023 às 08:00 -
Atualizado 2 anos atrás
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Títulos de crédito privado podem atrair aqueles que desejam turbinar alguma sobra no orçamento.  Mas, você investiria em um negócio cujas perspectivas não são nada animadoras?

Não me refiro aqui ao caso das Lojas Americanas, mas a um contexto maior.  Um dos elementos que tem chamado a atenção de economistas é o fato da América Latina ter se saído melhor que o esperado no ano passado, algo bastante incomum quando os EUA elevam os juros rapidamente.

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Lula com Alberto Fernandez, presidente da Argentina: economias latinas surpreenderam em 2022 - FOTO: Ricardo Stuckert-Presidência da República

Memória inflacionária

Alguns países da região, incluindo o Brasil, agiram antes no controle da inflação, o que fez com que as suas moedas apresentassem um desempenho melhor que outras amplamente negociadas, como a libra esterlina e o iene japonês.  

Mas, olhando para frente, podem-se manter estáveis, considerando os riscos de crise política ou de aumento de gastos públicos?

Nessas ocasiões, é sempre bom lembrar que os investidores perdem a confiança rapidamente, levando seus recursos para outras praças.

Consequentemente, os banqueiros centrais acabam por manter os juros em patamares mais altos por mais tempo, mesmo quando a atividade econômica já perdeu o seu dinamismo.  

Demanda da China

Muitos ainda contam com a reabertura da China, que consome 16% de todo o petróleo produzido no mundo, mais da metade do cobre disponibilizado ao mercado internacional e um pouco mais do que isso em minério de ferro.
 
Entretanto, foi-se a época em que o país também batia na porta para investir, muito em função da pressão de ambientalistas e da falta de políticas de Estado (no lugar de políticas de governo).

Como resultado, o cancelamento de boa parte dos projetos de infraestrutura (“Belt and Road Initiative”) na China.

Com a economia desacelerando, sobra pouca margem de manobra para se ajustarem ao que acontece no resto do mundo.

Mirando o alvo

Voltando ao contexto global, pouquíssimas foram as vezes em que o Federal Reserve (Fed) conseguiu domar a inflação sem causar uma recessão.

A última em que obteve sucesso reduzindo uma inflação anual superior a 5% foi há mais de 70 anos.

Considerando a hipótese de que caia ao longo do ano, insistiriam os banqueiros centrais na meta de 2%?  

Os EUA, como exportadores de commodities energéticas, são menos vulneráveis que a Europa, que enfrenta o duplo choque de um aumento de juros e dos preços de energia.

Um inverno mais ameno no continente desfez parte dos temores de meses atrás, mas nada garante que a natureza continuará generosa ou que não surjam novas surpresas.

Encontrar evidências

Como dados econômicos oficiais são publicados com um certo atraso, os agentes tentam medir o pulso da economia de outras formas.  

A área de pesquisa do Goldman Sachs, por exemplo, criou o seu próprio indicador, que mensura uma infinidade de coisas em tempo real.

Mesmo assim, os economistas apenas identificam uma recessão quando a olham em retrospectiva.

Seus efeitos são perversos pois se acumulam: primeiro as pessoas perdem o seu poder de compra (inflação). E, depois, o seu salário (desemprego).
 
Entre o grupo mais afetado, os menos experientes, os com menor grau de instrução ou os mais jovens.  Entretanto, com bancos de investimento e empresas de tecnologia reduzindo os seus quadros globais, surgiu um novo termo, o “richcession”, que em tradução livre seria algo como “recessão dos ricos”.

Nesse caso, o problema não é só o receio das pessoas (ricas e nem tanto) em relação ao futuro, o que influencia na sua propensão a consumir, mas o declínio da atividade econômica de um modo geral.

A falta de uma média

Até mesmo países com amplos programas sociais, como os da zona do euro, sentem o baque por abarcar um grupo de economias bastante heterogêneo.  

Com a invasão da Ucrânia e o respectivo choque energético, seus países membros são afetados de formas distintas, dada a matriz energética de cada um e a predominância de determinados setores, efetivamente definindo o quanto são dependentes do petróleo e do gás natural.

Enquanto Espanha e França são mais focados em serviços, a Alemanha é essencialmente industrial.

Para o Banco Central Europeu (BCE), isso representa um dilema e, para executar a sua política monetária, ele precisa definir os juros em um patamar superior na tentativa de conter os efeitos secundários dos aumentos de preços.

Teoricamente, sua política monetária deveria considerar um país que representasse a média da zona do euro, algo que simplesmente não existe.  

Da mesma forma, já não existe mais a ampla interação com o comércio global, algo que reduziria os impactos dos choques de oferta no velho continente.

O novo protecionismo

Ao se favorecer a política industrial e os subsídios, dificultando as transações com o exterior, pode-se dizer que todos perdem em flexibilidade, ou poder de adaptação, para responder às crises e, nesse caso, à crise energética.  

Produzir mais do mesmo em localidades diferentes não necessariamente fará a economia global crescer, pois cada país disputará uma fatia maior de um bolo menor.

Conclusão

O que os economistas antecipam não pode ser observado dando uma volta no quarteirão.

É fato que se a guerra terminasse hoje, muita da incerteza se dissiparia, trazendo novos investimentos e, portanto, crescimento.  Mas, nesse ínterim, novos choques podem surgir.

Nas principais economias do mundo, o aumento de salários acima da inflação precisa vir acompanhado de um aumento de produtividade, algo que não está acontecendo atualmente.  Por conta disso, conforme a divulgação de novos dados oficiais confirma essa tendência, maior a propensão dos agentes financeiros em apostar em mais altas de juros.

Sendo um balizador do custo do dinheiro, é de se esperar que todos os ativos do mundo (crédito privado inclusive) se ajustem aos juros nos EUA, levando em conta o grau de risco de cada país, ramo de atividade e empresa (não necessariamente uma varejista brasileira com “inconsistências contábeis”).

Do outro lado do planeta, os impactos da reabertura da China não são tão claros.  Ainda que se espere um aumento na demanda por commodities, favorecendo um punhado de países exportadores como o Brasil, trata-se de uma economia abalada por uma crise imobiliária e que hoje enfrenta limitações para vender no mercado internacional.
 
Como pode-se ver, a vida ficou mais difícil, inclusive para quem vende “Tudo. A toda hora. Em qualquer lugar”.

Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.