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bolsas europeias inflação na zona do euro
Economia

O euro e os experimentos do BCE em política monetária

Europa é altamente dependente dos bancos, por isso os riscos se concentram neles

Data de publicação:26/07/2022 às 05:00 -
Atualizado 2 anos atrás
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O Banco Central Europeu (BCE) foi o mais recente a se juntar ao movimento orquestrado pelos bancos centrais que se iniciou no mês passado, ainda que tenha optado por um aumento inicial maior (de 0,50%).

Ele foi possível graças ao Instrumento de Proteção à Transmissão (TPI, na sigla em inglês), mais um conjunto de letras no arsenal do BCE. Seu objetivo é evitar o aumento dos custos de financiamento de qualquer país da zona do euro, algo que poderia forçá-lo a abandonar a moeda comum.

BCE
BCE foi o mais recente integrante no movimento de bancos central a aumentar os juros - Foto: Envato

Bombeiro central

Mesmo que não citada diretamente, trata-se de uma forma de se endereçar a instabilidade política na Itália. Terceira maior economia dentro do bloco, ela poderia enfrentar sérios problemas, dado o seu alto nível de endividamento em um cenário de desaceleração forçada por conta da redução da oferta de gás russo no continente.

Pelas premissas do novo programa, o BCE teria discricionaridade para comprar não só títulos de dívida soberanos (emitidos por países) como também títulos de dívida privada (emitidos por empresas), desviando-se de programas anteriores nos quais comprava títulos soberanos de acordo com a representatividade (importância econômica) de cada país.  

Tudo para frear o que considera como uma reação injustificada e desordenada dos mercados.

Ciclo da ruína

A capacidade de um país altamente endividado em honrar os seus compromissos financeiros sempre é colocada à prova. Como a crise anterior do euro mostrou, há aproximadamente uma década atrás, os bancos italianos possuem uma alta exposição aos títulos de dívida do seu próprio governo.

Tendo as suas contas comprometidas, ele abala as finanças dos bancos locais, fazendo com que haja a necessidade de serem socorridos pelo mesmo governo já em dificuldades. O ciclo, chamado de “doom loop” (ciclo da ruína, em inglês) se retroalimenta com a redução do crédito bancário, o que reduz a atividade econômica e, consequentemente, a arrecadação do governo.

Diferentemente dos EUA e de seu pujante mercado de capitais, a Europa é altamente dependente dos bancos, o que explica porque os riscos se concentram neles. No modelo de concepção do TPI, citado anteriormente, evitar que os países sofram desajustes, poupando também os bancos (sob supervisão do BCE), enquanto se tenta controlar a escalada dos preços.

Combate à inflação

Descartar os 0,25% iniciais foi a resposta para endereçar os altos índices de inflação observados já há algum tempo. Mais do que empobrecer a população, é fato que a alta inflação mina a utilidade de uma moeda como unidade de conta e como reserva de valor, prejudicando também os investimentos de longo prazo.

Não por outro motivo, a criação do regime de metas de inflação. Implementado pela Nova Zelândia no final de 1989, tornou-se ferramenta padrão no resto do mundo para se alcançar a estabilidade de preços.  Entretanto, pouco mais de três décadas depois, talvez tenha chegado o momento de se pensar em uma atualização.

O contexto atual é bem diferente, dados os níveis de endividamento e poupança globais. Além disso, as principais economias do mundo não viram grandes benefícios em termos de produtividade ou propensão a poupar ao compararem uma meta de inflação de 2% com outra de 4% (não aplicável, obviamente, às economias emergentes).

Zero lower bound

No caso da Europa, uma meta de inflação mais alta evitaria que se adotasse taxas de juros negativas novamente (os juros se encontravam no patamar de -0,50% antes da última reunião do BCE). 

Sendo a meta mais alta, os juros, em termos reais, poderiam ser negativos, dando o estímulo necessário à economia sem que os poupadores se sintam forçados a retirar os seus recursos dos bancos e guardá-los em cofres (remuneração “zero” do dinheiro, o que enfraquece a potência da política monetária, vis-à-vis a remuneração negativa do sistema bancário).

Considerando o choque de oferta em combustíveis e alimentos causado pela guerra na Ucrânia, uma meta mais alta de inflação eliminaria um aperto financeiro mais expressivo, poupando o mercado de trabalho de um ambiente recessivo.

Inovação financeira

Fazer essa mudança quando os índices de preços estão nos níveis mais elevados de todos os tempos pode ser um tiro na credibilidade de qualquer banco central. Isso explica a busca por outras alternativas.

Como forma de contornar a falta de um mecanismo que transfira recursos para que os países membros possam enfrentar situações de mercado adversas, a Europa acaba criando as suas próprias soluções.

Em 2021, Alemanha e França conseguiram aprovar um programa (chamado “Next Generation EU” – NGEU) em que a União Europeia (e não os países isoladamente) emitiria títulos para captar recursos que então seriam direcionados aos países mais afetados pela pandemia.  

Como contrapartida ao socorro financeiro, cada um deveria apresentar as suas propostas de reformas como também atender aos critérios estabelecidos, como destinar parte do montante recebido para endereçar as mudanças climáticas e fomentar a digitalização na economia.

Adaptações

Válido até 2026, espera-se que o NGEU seja renovado, tornando-se permanente. Entretanto, restam dúvidas se não precisará de algumas adaptações até lá considerando a guerra na Ucrânia e as suas consequências no que diz respeito à inflação.

De qualquer forma, se tem alguma coisa que a União Europeia (UE) aprendeu em todos esses anos é que um novo fundo sempre pode ser criado, nem que para isso tenha que remanejar recursos previstos por meio de uma infinidade de leis, mas que eventualmente não chegam a ser usados em sua totalidade.

Conclusão

Dentro da UE sempre houve uma clara divisão: países do norte, mais poupadores, nunca esconderam o receio de serem forçados a socorrer os países do sul, menos produtivos e com políticas fiscais mais frouxas.

A unanimidade obtida pelo BCE, algo difícil em um grupo tão heterogêneo, mostra o quão acertada foi a decisão de deixar a política, sempre morosa e sujeita a retrocessos, do lado de fora.

Por ora, a Europa conta com o turismo, favorecido pelo euro mais fraco, enquanto sela novos acordos de fornecimento de gás. Com o mês de agosto chegando, ainda está em tempo de fazer render os dólares guardados.

Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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