FGTS: Vale a pena fazer o saque emergencial para investir o dinheiro?
Valor do último saque do FGTS, há quase dois anos, se aplicado, teria rendido até 2,7 vezes mais hoje em dia
A partir desta quarta-feira, 20, o governo está disponibilizando um saque emergencial para os brasileiros no valor de R$ 1 mil do FGTS. Muita gente vai aproveitar a oportunidade da retirada do dinheiro para quitar dívidas ou para consumir.
No entanto, há outras pessoas que têm como objetivo tirar o dinheiro do fundo para investir e fazer esse montante render mais, já que o FGTS hoje entrega um rendimento de apenas 3% ao ano + TR (Taxa Referencial). Vale a pena investir o dinheiro?
Segundo a economista e professora da ESPM, Cristina Helena Pinto de Mello, a resposta é sim. “O FGTS rende tão pouco que se o investidor colocar esse valor na caderneta de poupança já tem um retorno dobrado, na casa dos 6%. Mas é possível ainda conseguir melhores alternativas”, explica.
A Mais Retorno conversou com especialistas para levantar as alternativas para quem está pensando em investir esse dinheiro. Cristina Helena Pinto de Mello ajudou a fazer as contas e apontar os melhores caminhos para os diferentes perfis de investidores, desde aqueles mais arrojados até os mais conservadores.
Para o levantamento, o prazo levado em conta é de junho de 2020 até o dia 19 de abril. Além disso, contamos com a ajuda da ferramenta exclusiva Comparador de Ativos, nova funcionalidade da Mais Retorno.
Ações
Se a escolha for investir em ações, a Mais Retorno separou como exemplo ações de gigantes de commodities, como Vale e Petrobras, e de grandes bancos, como o Bradesco e Itaú.
No período de 24 meses, as ações ON da Petrobras (PETR3) apresentaram melhor rentabilidade do que os papeis preferenciais da petroleira, das ações da mineradora e dos bancos – 172,76% e ganhos no período de R$ 1.727,60. Se o investidor tivesse optado por colocar os R$ 1 mil nesse ativo, hoje teria disponível R$ 2.727,60, excluindo taxas e dividendos.
Em segundo lugar, ficaram as ações da Vale (VALE3), com rentabilidade de 160,92% (R$ 1.609,20). Somado aos R$ 1 mil, o investidor poderia retirar R$ 2.609,20. Em seguida, o melhor rendimento foi o das ações preferenciais da Petrobras (PETR4), com rentabilidade de 154,58% (R$ 1.545,80). Se acrescentado ao investimento inicial, ele teria no total R$ 2.545,80.
No entanto, se a escolha fosse as ações preferenciais de dois gigantes financeiros – Itaú (ITUB4) e Bradesco (BBDC4), o retorno ao investidor seria menor. Em dois anos, os papeis do Itaú registraram 44,31% de rentabilidade, o que representa R$ 440,31. Somados aos R$ 1 mil, ele teria disponível R$ 1.440,31. No caso do Bradesco, a rentabilidade foi ainda menor: 25,13%.
Rentabilidade das ações escolhidas
Ação | 6 meses | 12 meses | 24 meses |
VALE3 | 16,57% | -2,59% | 160,92% |
PETR3 | 36,68% | 92,56% | 172,76% |
PETR4 | 26,67% | 73,11% | 154,58% |
BBDC4 | 4,15% | -4,53% | 25,13% |
ITUB4 | 8,50% | 17,63% | 44,31% |
De acordo com Piter Carvalho, head de mesa variável da Valor Investimentos, quem optar pelas ações deve ficar atento ao risco. “É importante estudar bem as ações escolhidas, analisando as informações dos últimos balanços, para checar a saúde financeira da companhia e a possibilidade de crescimento”.
Ibovespa
Principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa conta com as ações mais líquidas listadas na B3 em sua cesta de ativos. Em 24 meses, o índice obteve uma rentabilidade de 46,46%. Com isso, quem investiu R$ 1 mil resgataria R$ 464,60 de rendimento. Ao total, cerca de R$ 1,46 mil.
Cristina, da ESPM, chama a atenção para o ano de 2022, marcado pelas eleições para presidência. “Normalmente, nesses períodos o mercado fica mais volátil, por isso é importante ter atenção com a renda variável e manter a carteira diversificada”, ressalta.
CDI
O CDI (Certificado de Depósito Interbancário) é, basicamente, o título que serve de lastro nos empréstimos que os bancos fazem entre si para fechar o caixa diariamente.
O ativo reflete os juros cobrados por um banco por emprestar dinheiro para outros bancos, e é considerado como uma taxa de juros referência de remuneração para outras opções em renda fixa.
De acordo com o Comparador de Ativos da Mais Retorno, o CDI registrou um comportamento estável durante esses quase dois anos, porém apresentou crescimento no período.
Em 24 meses, rendeu 9,15%. Se o investidor tivesse aplicado em títulos atrelados ao CDI, como CDBs, LCAs e LCIs pós-fixados, de maneira geral, a partir de junho de 2020 até o dia anterior, teria como rendimento, em média, R$ 91,50, e ao total, R$ 1.091,50 para resgatar.
Segundo a economista da ESPM, o CDI acompanha a Selic, que começou a subir a partir do ano passado – de 2% no início do ano fechou o período em 9,25%. “Quando a inflação está alta, como agora, o CDI também segue esse aumento, pois a Selic sobe com o intuito de conter a inflação”.
Tesouro Selic
Com o aumento da Selic a 11,75% ao ano e expectativas de que ela passe de 13% até o fim de 2022, o Tesouro Selic se tornou um atrativo de investimentos, já que é atrelado à taxa de juros do País que passou a subir a partir do ano passado – em 12 meses saltou de 2% para 9,25% ao ano.
Por ser emitido pelo Governo Federal, é considerado um investimento seguro e com boa liquidez, pois seu rendimento sempre é próximo de 100% do CDI. Se o investidor tivesse colocado os R$ 1 mil nesse título em junho de 2020, de acordo com Cristina Mello, ele teria disponível hoje R$ 1.075,60 para retirar.
“Há títulos do Tesouro Selic com vencimento mais curto que estão pagando bem. É uma oportunidade mais conservadora de proteger o dinheiro do processo inflacionário”, ressalta.
Cristina Helena Pinto de Mello, economista da ESPM
Fundos imobiliários
A partir do comportamento do Ifix (Índice de Fundos Imobiliários) da B3 é possível acompanhar o desempenho médio das cotações dos fundos imobiliários negociados nos mercados de bolsa e de balcão organizado da B3 nesse período.
Em 24 meses, o Ifix rendeu 9,47% e, segundo Giuliano Bandoni, gestor de fundos imobiliários da Rio Bravo, o investidor teria à disposição R$ 1.061,20.
Para Mello, da ESPM, ela não recomenda investir o próximo saque em FIIs. “O mercado imobiliário viveu um boom de construção de novos imóveis que estão sendo ofertados agora em um momento no qual houve um forte aumento do custo dos materiais e aumento dos juros, o que dificulta o financiamento imobiliário. Isso aponta um desaquecimento”, reflete.