Vale e Petrobras distribuem R$ 146 bi em dividendos em 2021, mais do que todas as empresas da B3 juntas; como será em 2022?
Perspectivas para 2022 é de um novo cenário positivo de proventos para os acionistas
O ano de 2021 foi promissor no pagamento de dividendos para os acionistas da Bolsa. Somente as duas empresas com maior peso no Ibovespa – Vale e Petrobras – desembolsaram, juntas, R$ 146,01 bilhões no período, enquanto as 226 empresas restantes listadas na B3 somaram a distribuição de R$ 145,2 bilhões em pagamento de dividendos e Juros sobre Capital Próprio (JCP).
Desconsiderando as duas maiores pagadoras de proventos, segundo o estudo feito pela Economatica, 2021 foi um ano de pagamento recorde de dividendos e JCP. O montante de R$ 145,2 bilhões representou um aumento de 30,5% em relação ao valor pago em 2020, e de 22,8% em 2019.
De acordo com especialistas, apesar do avanço da taxa de juros no ano – iniciou com 2% e concluiu o período a 9,25% - e da inflação na casa dos dois dígitos, de maneira geral, as empresas reportaram bons lucros ao longo de 2021, o que possibilitou colocar dividendos no bolso de seus acionistas.
Em relação às duas empresas, a estrategista de Ações da XP, Jennie Li, pontua que no ano passado as commodities viveram um período de valorização. “Em 2021, o petróleo ficou, na média, 63% mais alto do que em 2020 em dólares. Já o minério ficou 46% acima da média do ano anterior”, reforça.
O segundo fator, na visão de Li, foi o câmbio, que registrou avanço de cerca de 4% no período. “Isso associado ao fato de as empresas não terem feito grandes investimentos em 2021 – a Petrobras até chegou a vender alguns ativos – resulta em uma geração de caixa muito forte, que foi distribuída em dividendos”.
Vale: pagamento recorde em 2021
Com mais de 15% de participação na cesta de ativos do principal índice da B3, a Vale se tornou conhecida no mercado não somente por seus balanços trimestrais robustos, mas também por ser uma distribuidora de dividendos gordos.
Em 2021, a mineradora distribuiu R$ 73,29 bilhões em dividendos, um salto de 188,9% sobre o ano de 2020 – até então era o período que registrava a maior marca de entrega de proventos aos seus acionistas.
De acordo com um relatório da XP sobre o assunto, assinado pelo analista de Mineração & Siderurgia e Papel & Celulose da casa, Thales Carmo, os papéis da companhia seguem na recomendação de compra da casa de análises para o final deste ano.
“Esperamos que os prêmios de qualidade mais altos no futuro ajudem a reduzir o desconto que a Vale negocia atualmente quando comparado aos pares, em termos de múltiplo EV/Ebtida, com forte geração de caixa, melhores práticas ambientais, sociais e de governança”.
Thales Carmo, da XP
Na visão da XP, segundo o documento, a retomada da produção pode levar a Vale a um nível normalizado de 380 milhões de toneladas de minério de ferro por ano em 2024.
“Adicionalmente, apesar da forte queda dos preços da commodity, ainda acreditamos que a Vale seja uma forte geradora de caixa, mesmo considerando os patamares atuais”, avalia a XP.
Segundo especialistas, a redução da meta de crescimento econômico da China para 5,5% em 2022 indica, em princípio, um viés de baixa para os preços do minério de ferro, mas há outros fatores em jogo que provavelmente manterão a pressão de alta sobre a matéria-prima do aço, como corte de juros, investimentos em infraestrutura e no setor imobiliário.
No entanto, na visão do analista da XP, a recuperação da demanda chinesa ainda é incerta. “Mesmo que a crise energética na China tenha começado a diminuir e as restrições à produção também estejam sendo reduzidas gradualmente, a demanda poderá não se recuperar completamente conforme os projetos de construção são concluídos e o pipeline dos novos diminui”.
A perspectiva para este ano é que a Vale deve ainda pagar bons dividendos, mas abaixo do número de 2021. “Nós consideramos uma média de US$ 98,9/tonelada para o minério de ferro neste ano. Mas até hoje, a commodity ficou na média de US$ 142/tonelada, ainda 12% abaixo da média de 2021”, enfatiza Jennie Li.
Petrobras: alta do petróleo e eleições
No caso da Petrobras, o comportamento foi parecido ao da Vale. Com R$ 72,72 bilhões distribuídos em 2021, a petroleira superou 2011, seu ano de maior rendimento, com R$ 10,66 bilhões, em 582,2%, segundo a XP.
De acordo com Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, o ciclo de alta das commodities – como é o caso do petróleo, por conta dos efeitos da guerra na Ucrânia – deve se manter, o que favorece os ganhos da petroleira.
A XP, em relatório, recomenda a compra de ações da Petrobras com preço alvo de R$ 45,3 por ação. Entre as principais razões para a visão positiva sobre os papeis da petroleira estão valuation atrativo (2,8x EV/EBITDA 12 meses à frente) e dividendos robustos, com dividend yield em torno de 23%.
Lage pontua que o mercado deve uma “alta” para a Petrobras desde a crise econômica de 2008.
“Assim como todas as estatais, a Petrobras está atrasada em relação aos seus pares, apesar de hoje ser uma companhia com um funcionamento eficiente. Como as ações do Ibovespa subiram muito, ela acabou não acompanhando essa alta de forma justa, por conta do histórico com corrupção e o medo de ser usada para fins populistas”.
Virgílio Lage, da Valor Investimentos
Em relação aos riscos, o analista da XP aponta um potencial de volatilidade para as ações da petroleira neste ano, com a proximidade das eleições presidenciais.
“Apesar da companhia não estar estritamente em linha com a paridade internacional de preços dos combustíveis, acreditamos que a situação dos subsídios está controlada em relação ao histórico da companhia entre 2011 e 2014”, ressalta Carmo.