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Fundos de Investimentos

Quebra no teto de gastos abre a caixa de Pandora, com mais danos à já precária saúde financeira do País, afirma Kinea

Na mitologia grega, a caixa era o lugar onde todos os males do mundo estavam guardados

Data de publicação:05/11/2021 às 07:00 -
Atualizado 3 anos atrás
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Em sua carta de análise de outubro, a Kinea, gestora de fundos de investimentos do grupo Itaú, traça uma relação entre a quebra do teto de gastos no Brasil e a abertura da caixa de Pandora – o artefato mitológico onde todos os males do mundo estavam guardados. Uma ruptura que pode aumentar os riscos fiscais, como se já não bastassem os problemas que deterioram o cenário político-econômico do País, e os riscos vindos do exterior.

“Mantivemos os monstros do descontrole fiscal trancados em sua caixa de Pandora por alguns poucos anos e agora veremos o dano que eles podem causar à já precária saúde financeira do país”, afirmam os especialistas da gestora no documento.

Analistas esperam que haja esperança no fim da caixa e um novo arcabouço fiscal seja criado no País - Foto: Facebook

Em um mês considerado difícil para os ativos de risco locais, pelos especialistas, a carta abordou o atual cenário político e econômico no Brasil, bem como questões internacionais relacionadas a crescimento, à inflação, e à atual crise energética. Um dos destaques ficou mesmo com o furo no 'Teto de Gastos' com a PEC dos Precatórios, tema que vem criando instabilidade nos mercados também nesses últimos dias.

Segundo eles, o que havia como estrutura do ‘Teto de Gastos’ acabou como conceito, e nos próximos meses será conhecido o tamanho da conta fiscal. Em tese, o Governo e sua base no Congresso decidiram tão-somente mudar a data de correção do indexador e limitar as despesas com os gastos judiciais (conhecidos como Precatórios), traz o relatório de outubro.

Na prática, porém, os resultados são mais complexos. Para esclarecer melhor a relação, os analistas da Kinea lembram que em 2016, quando houve a mudança constitucional para a introdução do ‘Teto de Gastos’, dois pilares foram estabelecidos: o ajuste fiscal no Brasil seria feito pelo corte de despesas, rompendo com a tradição usual de aumentar indefinidamente a carga tributária; e esse corte de gastos viria de forma gradual para não afetar negativamente a demanda agregada.

O ajuste gradual, no entanto, requer credibilidade, pois necessita manter as expectativas ao longo de todo processo, explicam eles. “No momento em que mudamos a regra sucessivas vezes perdemos credibilidade e, consequentemente, nossa âncora fiscal. Sem ancora fiscal, a reação natural do mercado é exigir mais juros para financiar nossa dívida pública e depreciar os ativos locais, tendo em vista a expectativa de menor crescimento e maior pressão inflacionária”.

Para a Kinea, a principal questão agora será observar a tramitação do novo valor do auxílio para a população, uma vez que deverão surgir pressões naturais da oposição para aumento desse valor e da abrangência do público-alvo. Os especialistas supõem que talvez temendo o efeito no valor das emendas, a base do governo fique unida para evitar novos furos no teto. Mas os riscos seguirão altos, porque trata-se de matérias de maioria simples para aprovação no Congresso, em véspera de ano eleitoral.

“Assim como no mito grego da caixa de Pandora, pode existir a esperança no final da caixa. E, provavelmente, iremos convergir em algum momento para um novo arcabouço fiscal no Brasil unindo as características dos últimos dois regimes: combinando aumento da carga tributária e um crescimento real positivo, mas menor do que no passado, dos gastos”, arrematam o raciocínio.

Os problemas que moldam a crise, segundo a Kinea

Inflação, baixo crescimento estrutural e crise energética estão entre os principais componentes da crise atual tanto no Brasil como em diversas partes do mundo.

No Brasil, a subida no preço de alimentos, da gasolina, do botijão de gás, da energia e aperto do orçamento das famílias remetem a um cenário da década dos anos 1970. “O valor da cesta básica já ultrapassa o salário-mínimo, fazendo com que o governo tenha que responder com auxílios aos menos favorecidos, gerando assim mecanismos de transmissão para o cenário político”.

Outro aspecto em comum com o passado refere-se à crise energética: “O Brasil sofreu enormemente com as sucessivas crises do petróleo da década de 1970, causadas por elevações de preços por parte da OPEC, com efeitos que se estenderam por toda a década de 80: a famosa década perdida de economia brasileira”, relata a carta.

“Nosso país teve de amargar anos de baixo crescimento e elevada inflação. Mencionamos isso para enfatizar a importância da energia para a economia. Hoje, 50 anos depois, somos novamente relembrados do que o aumento no custo da energia pode gerar no cenário político-econômico global”, alertam os especialistas da Kinea.

Causas da escassez de energia pelo mundo

Nos Estados Unidos, o presidente Biden menciona não ter resposta de curto prazo para o crescente custo da gasolina. Na Europa, pressões políticas e geopolíticas emergem com necessidade de auxílio à população pelo aumento do custo do gás e confronto com a Rússia, principal fornecedora de gás para a região.

“O tema comum a todo setor de energia, que está na raiz do aumento de preços observado, é a falta de investimento estrutural, com consequente concentração da oferta de commodities como o petróleo e o gás natural nas mãos de regiões de maior instabilidade geopolítica como o Oriente Médio (OPEC) ou a Rússia”, pontuam os analistas. E a escassez de combustíveis se tornou um fator limitador de crescimento em geografias como a China e a Europa.

Nessas duas geografias os respectivos governos já adotam medidas de restrição de capacidade da indústria e consumo privado como meios de destruição de demanda para acomodar a falta de oferta. Essas restrições se tornaram necessárias diante da disparada do custo do gás natural, mas com elas são afetadas partes da cadeia de produção, como a oferta de magnésio, produzido na China, para a produção de aço no mundo.

“Muito se fala no momento da possibilidade de estímulos na economia chinesa para contrabalancear a desaceleração no setor imobiliário, mas questionamos a eficácia dessas medidas em um ambiente que, no nível de atividade atual, já apresenta limitações no campo de geração de energia”, afirmam os analistas da Kinea.

 "O tema da crise energética global deve continuar em nossos cenários de investimento e passar por sucessivas ondas ao longo dos próximos anos, permanecendo um importante fator para a formação do preço dos ativos de risco por sua influência política e econômica", ponderam os especialistas.

Inflação global também no radar

A carta aponta para a existência de duas hipóteses possíveis para o fenômeno da forte alta recente na inflação americana, que ainda convivem nas discussões do mercado.

A primeira hipótese é que os gargalos de oferta de bens e mão-de-obra impostos pela pandemia são os responsáveis pelo surto inflacionário, e se normalizarão à medida que a Covid-19 recua no mundo, trazendo a inflação de volta para sua baixa tendência da última década. Essa é a hipótese do Banco Central americano (FED), que estava refletida com alta probabilidade nos preços dos ativos globais até recentemente.

A segunda hipótese é de que na verdade a inflação americana já se apresenta mais persistente e ligada a fatores subjacentes, como salários, e que dificilmente retornará para a meta de 2% na ausência de um ciclo de aperto monetário.

Os analistas da Kinea trabalham como a segunda hipótese sendo a mais provável e, por isso, identificam as curvas de juros que começam a precificar um ciclo de altas mais robusto pelo Federal Reserve (FED) ao longo dos próximos anos.

E como a gestora se posiciona nos mercados

Nesse quadro complexo, a Kinea sinaliza em que ativos vem se posicionando para proteger e obter resultados satisfatórios em seus fundos

Ações

“No Brasil seguimos posicionados em empresas de qualidade nos setores financeiro, saúde e transportes, bem como em empresas ligadas a commodities principalmente petróleo e celulose. No mês de outubro reduzimos todas as posições frente a piora do cenário fiscal bem como a forte alta de juros.

No internacional, nossas posições compradas tiveram bons resultados e se encontram principalmente em empresas de bancos, pharma e energia. Nossa exposição no setor de tecnologia se encontra reduzida no momento.  Consideramos que o mercado de ações, tendo antecipado a forte recuperação econômica, deve consolidar conforme o excesso de liquidez passa a ser retirado do mercado.”

Moedas e cupom cambial

"Estamos comprados nas moedas dos países adiantados no ciclo de normalização dos juros e vendidos em países mais atrasados no ciclo econômico. As posições compradas são no Dólar, Rublo e, em menor escala, na Coroa Norueguesa, Peso Chileno, Peso Colombiano e no Dólar da Nova Zelândia.

Estamos vendidos no Euro, Coroa Sueca, Rand Sul Africano e Dólar Australiano. Também iniciamos no mês uma posição vendida no Iene Japonês, em virtude da combinação um novo governo fiscalmente expansionista com um banco central leniente".

Juros e inflação

"No Brasil, a curva de juros segue apresentando altas, devido à mudança dos parâmetros do teto de gastos em trânsito no Congresso, para dar solução ao pagamento do novo Bolsa Família e dos precatórios, além do receio que mais despesas possam ficar fora das amarras fiscais, à decisão do Copom de acelerar o passo de alta da Selic para 1,50 pp, e à inflação, que segue pressionada e disseminada.

Lá fora, seguimos posicionados para a gradual elevação da curva de juros dos EUA e iniciamos uma posição, de menor tamanho, aplicada nos juros curtos do Reino Unido.

O descompasso nos parece grande entre o estado da economia americana e as condições financeiras. Os EUA caminham para ter um desemprego de 4%, inflação acima da meta, alta recorde do preço de casas e novos estímulos fiscais. Essa posição do ciclo econômico é destoante de condições financeiras que estão próximas do nível  de maior estímulo das últimas décadas."

Commodities

"Nossa posição comprada em petróleo gerou retorno positivo no mês. Continuamos com a tese de que os investimentos globais em energia não são suficientes para cobrir a demanda futura e que o consequente controle da OPEP sobre o preço do petróleo deve levar a uma contínua elevação de preços no complexo de energia."

Sobre o autor
Regina Pitoscia
Editora do Portal Mais Retorno.