Com inflação em 2 dígitos, Copom ajusta a Selic em 1,50 ponto porcentual, a 7,75%, e taxa pode chegar a 9,25% esse ano
Ajuste da taxa veio dentro de expetativas do mercado
Não houve maiores surpresas, o Comitê de Política Monetária (Copom) ajustou o juro básico da economia em 1,50 ponto porcentual, que passa de 6,25% para 7,75% ao ano, na reunião desta quarta-feira, 27. Em comunicado expedido logo após o término da reunião, as autoridades monetárias indicaram que a taxa pode ter um ajuste de mais 1,25 ponto porcentual em dezembro, o que elevaria a Selic para 9% ao ano.
Nas razões expostas no mesmo comunicado, para um ajuste superior a 1 ponto porcentual como sinalizado na reunião de setembro, o Comitê demonstra claramente sua preocupação com a inflação, uma vez abandonada a principal âncora fiscal e também das expectativas de inflação do País, o teto de gastos. O objetivo é manter as projeções de inflação para 2022 e 2023 dentro da meta.
Embora uma esperada queda nos preços das commodities no mercado internacional venha retirar a pressão sobre a inflação, a retomada das economias pós-pandemia e o prolongamento de políticas fiscais com a continuidade dos benefícios sociais desenham um cenário desafiador para a economia.
De todo modo, a Selic de 7,75% ao ano veio em linha com a maior parte das estimativas de mercado. Embora nos últimos dias as projeções para ajuste da Selic tenham chegado a uma alta de 2 pontos porcentuais, o que puxaria a taxa para 8,25% ao ano na reunião de hoje. As estimativas subiram depois que o governo decidiu ampliar o teto de gastos para a acomodar o Auxílio Brasil de R$ 400, em ano pré-eleitoral.
O desarranjo fiscal resulta em mais dinheiro na economia alimentando ainda mais a inflação que, por sua vez, tem mostrado fôlego acima do projetado pelos agentes econômicos. O IPCA-15 de outubro, uma prévia da inflação oficial do País, apontou um avanço de 1,20%, o que revela uma inflação acumulada acima de 10% em 12 meses. Para 2021, o mercado trabalha com uma projeção de inflação de 8,96%, de acordo com o Boletim Focus do Banco Central, e para 2022, de 4,40%.
A taxa de juro é usada como instrumento para brecar a inflação na medida em que torna o crédito mais caro e inibe o consumo. Embora a inflação que está aí em torno de 10% ao ano não é alimentada pelo aumento do consumo, mas tem como fontes de sustentação o aumento no preço da energia, dos combustíveis, das commodities no exterior, e dos alimentos
A Selic em 2021
O juro básico da economia iniciou 2021 no nível mais baixo de sua série histórica, de 2% ao ano. Em março, o Banco Central iniciou o ciclo de alta da Selic, que passou para 2,75%.
Em maio, a taxa passou para 3,50%, e em junho para 4,25%. A partir daí, o ajuste passou a ser de 1 ponto porcentual, em agosto a Selic foi para 5,25% e em setembro, para 6,25%.
Após analisar cenários macroeconômicos, doméstico e internacional, e também condições do mercado, a autoridade monetária decidiu por uma elevação mais acentuada de 1,25 ponto porcentual.
Na última reunião do ano, em dezembro, a perspectiva é de uma alta do mesmo tamanho ou ainda maior na Selic. Afinal, a inflação anual já roda em nível acima de 10%, o que permite dizer que os juros ainda estão negativos.
Nos últimos seis anos, o movimento da Selic é marcado por um movimento de queda de junho de 2015 a janeiro deste ano. Desde março desse ano, as autoridades monetárias iniciaram um novo ciclo de alta que tende a se estender por meados de 2022. Pelas estimativas do Focus, analistas do mercado projetam uma taxa Selic de 9,50% para o ano que vem.