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Economia

'Peak China': país vai crescer menos? Entenda o processo e quais as razões

O país estaria no início do seu processo de desaceleração econômica e deixaria de alavancar a economia mundial e ultrapassar os EUA

Data de publicação:16/05/2023 às 08:00 -
Atualizado um ano atrás
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No início de 2021, só se falava na China, uma economia com a façanha de crescer uma média de 9% ao ano desde o final da década de 70. 

Estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontavam a terra de Xi Jinping como a maior economia ainda em 2030, muito em função da região concentrar mais pessoas do que todo o resto do mundo somado. 

China
População da China está envelhecendo o que também contribuiu para a desaceleração econômica no longo prazo - Foto: Reprodução

Crescimento a qualquer custo 

No ano anterior, em plena pandemia, a economia chinesa tinha crescido 2,3%, graças à sua forma centralizada e planejada de funcionar. 

Mesmo quando as coisas não vão tão bem, existem as oportunidades no exterior para compensar, o que explica a grande quantidade de financiamentos a projetos de infraestrutura mundo afora. 

Mais do que uma vitrine para expor o seu gigante parque industrial e obter concessões, trata-se de uma maneira de colocar seus engenheiros, jovens e altamente qualificados, para trabalhar. 

Para tanto, se apoiam no que há de mais moderno, considerando a grande quantidade de empresas de tecnologia no país, fomentadas pelo ritmo alucinante do empreendedorismo chinês. 

Desaceleração

Concluído o período de 1.016 dias em que esteve fechada para o mundo, esperava-se que a China fizesse novamente o que fez durante bastante tempo: impulsionar a economia mundial.

Mas, alguns indícios mostram que isso talvez já não seja mais possível. “Peak China” ou “pico da China”, em tradução livre, nada mais é do que o início do seu processo de desaceleração econômica. Nesse cenário, ela deixaria de ultrapassar os EUA, mantendo mais uma equivalência em termos de potencial global.

Essa mudança de perspectiva não é por acaso.  No início do ano, a Organização das Nações Unidas (ONU) já previa que a população da Índia superaria a da China ainda em 2023. Como em outras partes do mundo, a população chinesa também está envelhecendo, com poucos casais tendo filhos. 

As estatísticas do envelhecimento

Comparando-se com os EUA, o país possui 4,5 vezes mais pessoas em idade produtiva, número que tende a cair para 3,4 vezes em 2050, podendo alcançar 1,7 vezes antes de 2100.

Também pelos cálculos da ONU, o número de chineses em idade ativa pode cair mais 25% em 25 anos. 

Para endereçar tamanha queda, o aumento de produtividade poderia ser parte da resposta para continuar crescendo, não fosse a alocação de uma parcela maior de recursos da economia para cuidar dos idosos.

Modelo ultrapassado

O benefício marginal de qualquer construção em grande escala, seja ela uma nova estrada ou um novo conjunto habitacional, esbarrou nos seus limites.

Para quem não se lembra de um episódio relativamente recente, os chineses chegaram a protestar contra as construtoras que exigiam o pagamento à vista, mas que encontravam dificuldades para entregar as unidades contratadas na planta.

O modelo de desenvolvimento baseado na venda de terrenos por governos locais para a atividade de incorporação transferiu o problema para as construtoras, que se tornaram parceiras no cumprimento das metas de crescimento exigidas pelo alto escalão do partido comunista chinês.

O mesmo pode ser dito sobre as empresas que tinham grandes operações no país, mas que ficaram expostas ao modo draconiano pelo qual as autoridades impediram a propagação do vírus da covid-19. 

Atualmente, elas não só se mostram relutantes em modernizar os seus parques fabris, como também avaliam os impactos da política industrial em seus próprios países de origem.

Novas prioridades mundiais

Com a queda da União Soviética na década de 90, uma nova ordem econômica, baseada em pouca interferência governamental e na globalização, beneficiou muito a China. Se antes havia uma lógica econômica onde todos compartilhavam os ganhos, a verdade é que as prioridades mudaram.

Questões de segurança nacional (com a guerra na Ucrânia) e as mudanças climáticas (percebidas em vários eventos ao longo do ano passado) subiram de posições na agenda, o que colocou o crescimento a qualquer custo de lado e trouxe o inevitável debate sobre os trade-offs (escolhas).

Difícil equação

No primeiro quesito, a aplicação de sanções é bastante ilustrativa.  Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, os 27 países membros da União Europeia (UE) discutiram exaustivamente se deveriam boicotar o gás russo como forma de retaliação. 

O receio, exposto principalmente pelos agentes econômicos, era que tal medida seria um golpe fatal para a Europa. 

No final das contas, o clima ajudou, mas muitos economistas que tinham se debruçado sobre o tema argumentavam que todos se adaptariam às novas condições, o que geraria menos danos que o esperado.

Tecnologia proprietária

Um outro aspecto a frear o crescimento da China é a falta de acesso a determinadas tecnologias. Sai de cena a transferência do conhecimento em um mundo globalizado, cedendo a vez para a tecnologia proprietária e exclusiva. 

Isso se observa tanto no movimento do “reshoring”, onde as cadeias de valor são deslocadas para locais mais próximos como na abrangência dos setores elencados como sendo de segurança nacional.

Por conta disso, o investimento estrangeiro direto vem perdendo a sua participação no PIB global já há algum tempo, como mostram os dados das Nações Unidas.

A questão do clima 

Esse talvez seja o maior limitador de todos.  Se os eventos climáticos atravessam fronteiras e podem inclusive ocorrer simultaneamente, um mínimo de cooperação seria o desejado.

Entretanto, cada país implementa o seu programa “eco friendly” sem considerar o seu efeito no agregado, gerando o desperdício de recursos consideráveis haja vista as limitações nos orçamentos públicos

Conclusão

Previsões são sempre revistas, por motivos óbvios. O breve período de 2 anos e uma pandemia ilustram bem como esse exercício pode ser frustrante.

Todavia, isso não tira o mérito de se tentar entender como mudanças demográficas e de níveis de produtividade geram resultados bastante diversos ao longo do tempo, sem nos esquecer dos impactos do câmbio nas interações de cada país com o resto do mundo.

Para identificar qual deles possui mais chances de tomar a liderança, é preciso ter em mente os 3 atributos que toda superpotência possui: eficiência econômica, além de poderio militar e econômico.

Mensurá-los é relativamente fácil: a produtividade representa o primeiro, o orçamento militar, em relação à economia de um modo geral aponta o segundo, enquanto o restante do PIB, em comparação ao PIB global, dá a ordem de grandeza do terceiro. 

Porém, se destacar em todos eles, a ponto de ameaçar a ordem global, é outra estória. 

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Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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