Light: Quais são e como estão os fundos mais carregados de debêntures e ações da empresa
Fundos com ativos da empresa vinham se recuperando do baque em fevereiro; continuidade da trajetória vai depender do plano de recuperação
O pedido de recuperação judicial da Light S.A na última sexta-feira, 12, não chegou a pegar o mercado totalmente desprevenido. Vários sinais já haviam sido dados pela empresa nessa direção, mas também não deixou de impactar os ativos. A Mais Retorno preparou um estudo sobre os fundos com as maiores posições em ações e debêntures da companhia.
O que mais chamou a atenção no processo, no entanto, foi o fato de a controladora do Grupo Light ter entrado com a solicitação na Justiça (e não a concessionária de serviços públicos), e a compra de 15% do capital da empresa (LIGT3) pela gestora de fundos WNT na véspera.
Como impacto imediato, as ações da companhia, LIGT3, fecharam o pregão da última sexta-feira com queda superior a 17%, além do que deixam de fazer parte da composição do Ibovespa, como informado pela B3.
Investidores estão interessados em saber o que pode acontecer agora com os ativos da empresa que estão em fundos de ações, renda fixa, ou multimercado. Afinal, esses fundos vinham de uma retomada, especialmente no último mês. Vão continuar?
Otimismo em relação à Light
Na opinião do advogado especialista em recuperação judicial, Edemilson Wirthmann Vicente, sócio do Wirthmann Vicente Advogados, as perspectivas são positivas e o cenário é propício para a recuperação da companhia.
O interesse da gestora WNT em aumentar a participação na Light corrobora a tese. Mas, segundo ele, a recuperação da empresa está ligada a outras condicionantes, como gestão e aceitação dos credores.
“Normalmente, o que se vê é uma corrida, uma debandada dos ativos de uma empresa que pede recuperação judicial. Ao contrário, há uma valorização das ações (LIGT3) e, principalmente uma discussão sadia sobre até que ponto a lei de recuperação pode ser flexibilizada para garantir ativos de holdings que tenham concessões de energia entre os seus negócios”, diz Vicente.
Crise anunciada
Dois duros golpes levaram a Light ao tablado: a legislação que obrigou a empresa a devolver bilhões de reais em crédito tributários aos consumidores; e movimento contínuo de furto de energia no estado do Rio de Janeiro, onde a companhia é distribuidora.
As primeiras sinalizações mais concretas de exaustão vieram em fevereiro, quando a companhia contratou a Laplace Finanças, escritório especializado em processos de recuperação judicial, para reestruturação de sua dívida. Na época, estimada em R$ 3,1 bilhões com vencimento entre 2023 e 2024.
Em meados de abril, a companhia entrou com uma ação judicial e conseguiu a suspensão de pagamento de todo serviço de suas dívidas, incluindo principal, juros, amortizações e multas.
Com isso, a Light ficou livre de amortizar R$ 435 milhões de debêntures que venciam em abril e mais R$ 300 milhões que venciam em junho.
Um grupo de três grandes gestoras - AZ Quest, Arx e JGP -, representando seus fundos de investimento, saiu em defesa de seus cotistas e pediu na Justiça a suspensão dessa decisão que deu à Light (LIGT3 )o direito de adiar o pagamento de debêntures.
Na última sexta-feira, a holding entrou na Justiça do Rio de Janeiro com pedido de recuperação judicial.
Holding como protagonista
Wirthmann Vicente explica que na estratégia usada para obter a recuperação judicial, a controladora do grupo, a Light S.A., acabou tendo um papel de destaque, e protegendo seus ativos essenciais.
Desde 2005, a holding controla 3 empresas operacionais, Light Energia S.A. (geração/transimissão); Light Serviços de Eletricidade (distribuição); e Light Esco Ltda (comercialização).
O advogado explica que para contornar a vedação legal, que impede companhias que atuam com concessão de energia elétrica, caso da Light no Rio de Janeiro, de pedir a recuperação judicial, a holding acabou assumindo o processo.
“A recuperação muito embora tenha envolvido também as outras companhias operacionais, a holding aparece como principal beneficiária. Ela como co-devedora de maior parte, se não todas as dívidas da companhia, vai ser beneficiada pela suspensão dos atos expropriatórios”, afirma Vicente.
Ao mesmo tempo, por se tratar de um ambiente coletivo onde todos os credores são colocados na mesma roda para a negociação, o ambiente se torna mais propício para uma mudança de perfil da negociação, tanto do lado da devedora como do lado dos credores, acredita o especialista.
“As pessoas veem a Light como um ativo recuperável, não faria sentido comprar participação de um ativo que não se enxerga recuperação”, afirma Vicente. Além do que esse novo perfil de participação, de acordo com ele, poderá dar novos rumos para o plano de recuperação a ser estruturado.
Fundos em recuperação
Depois do abalo enfrentado a partir de fevereiro, os fundos de investimento com ações e debêntures da Light, além de operações compromissadas com esses papeis, já vinham em processo de retomada.
A continuidade dessa trajetória estará agora diretamente ligada ao andamento do processo da recuperação da empresa.
Os dados das tabelas são do dia 31 de janeiro de 2023.
Fundos de ações
Embora tenham caído mais de 17% no pregão da última sexta-feira, ao preço de R$ 3,85, em reação ao pedido de recuperação judicial, as ações da Light apresentaram uma forte alta no último mês.
No dia 14 de abril, a LIGT3 era cotada a R$ 2,05 e no dia 11 de maio chegou a bater R$ 4,65, com um salto de 127%.
Abaixo estão os cinco fundos de ações com maior exposição à LIGT3 em relação ao patrimônio. Os dados são de janeiro de 2023. O de maior concentração de ações da LIght, o Littauer Energia, que tinha apenas 1 cotista foi encerrado, segundo informações do site da Anbima.
Fundo | Patrimônio Líquido R$ | Exposição Ações Light R$ | Exposição Ações Light % |
Littauer Energia | 78,193 mi | 70,054 mi | 89,59% |
Santander PB FIA 1 | 173,121 mi | 149,548 mi | 86,38% |
Faro Capital IE | 233,458 mi | 44,341 mi | 18,99% |
JR FIA IE | 43,747 mi | 4,995 mi | 11,42% |
BMJ FIA BDR Nível I | 15,932 mi | 1,599 mi | 10,04% |
No gráfico abaixo é possível ver o esticão de LIGT3 desde 14 de abril e o movimento idêntico feito pelo Santander PB, o segundo fundo com maior volume de ações da empresa em sua carteira.
Até o dia 10 de maio, o Santander PB havia recuperado praticamente as perdas do ano, apresentando uma variação de -0,77%.
Fundos com debêntures
Entre os 5 fundos com maiores posições em debêntures, 4 são fundos de previdência, com perfil de longo prazo. Apenas o Quasar Inc. Inv. Infra é de renda fixa, crédito privado.
Fundo | Patrimônio Líquido R$ | Exposição Deb. Light R$ | Exposição Deb. Light % |
G5 Cajati Prev. FIM | 25,065 mi | 1,772 mi | 7,07% |
Guardian Icatu Prev. | 5,718 mi | 389 mil | 6,81% |
G5 Polaris Prev. Icatu | 28,402 mi | 1,772 mi | 6,24% |
Quasar Inc. Inv. Infra. | 16,678 mi | 1,028 mi | 6,17% |
G5 JRZ Qual. Icatu Prev. FIM | 15,692 mi | 833,731 mil | 5,31% |
No ano, nem todos os fundos, com maior concentração em debêntures, se recuperaram do baque de fevereiro. Apenas o Guardian Icatu Prev. está em níveis superiores ao alcançado antes do início da crise da empresa.
Fundos com mais cotistas
Os fundos com maior número de cotistas e ao mesmo tempo com papeis da Light no portfólio apresentam exposição relativamente baixa ao ativo. São todos de renda fixa.
O Inter, embora de renda fixa, conta com ações da empresa em sua carteira, os demais apresentam debêntures por serem fundos de crédito privado.
A gestora esclarece que no dia 9 de janeiro deste ano, o fundo zerou sua posição em debêntures da Light, sem sofrer os impactos diretos da marcação a mercado dos papeis. A alocação atual em ações refere-se a “operações de doação a termo e não representam risco para o fundo”.
A Riza Informou que até o início de abril havia zerado suas posições em Light.
Fundo | Cotistas | Patrimônio Líquido R$ | Exposição Light R$ |
Inter Conservador Plus RF | 108.214 | 330,755 mi | 1,949 mi |
XP Referenciado FI Ref. DI CP | 64.670 | 5,842 bi | 18,857 mi |
Riza Lotus FI Ref. DI CP | 58.034 | 5,459 bi | 58,012 mi |
Daycoval Classic RF CP | 50.198 | 1,951 bi | 19,171 mi |
Iridium Apollo RF CP | 46.100 | 4,059 bi | 21,806 mi |
No ano, esses fundos estão positivos, mas abaixo do CDI, que é o principal benchmark do segmento.
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