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mudanças climáticas
Economia

COP27 e o futuro da economia verde

Combustíveis fósseis continuarão movendo as economia nos próximos anos

Data de publicação:29/11/2022 às 05:00 -
Atualizado um ano atrás
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Enquanto todos acompanhavam a abertura da grande festa do ano, a Copa do Mundo, um outro evento, não menos importante, acontecia em um balneário de luxo em outro país árabe, a cidade de Sharm El-Sheikh, no Egito.   

Concluído dois dias depois do planejado e, suspeita-se, por conta da partida inicial dos jogos de futebol, a COP27 mostrou, mais uma vez, a enorme diferença entre conceber e executar, dadas as restrições orçamentárias que o mundo inteiro enfrenta.

COP27
Países que poluem mais deveriam pagar pelos prejuízos que causam - Foto: Agência Brasil

Perdas e Danos

Em princípio, quem polui deveria pagar pelos prejuízos que causa. “Perdas e Danos” é o mecanismo pelo qual os países ricos pagariam aos pobres para que possam lidar com os efeitos adversos das mudanças climáticas.

A ideia em si não é nova. Ela surgiu em 1991 quando Vanuatu, um Estado localizado no Pacífico, propôs um seguro para os estragos causados pela elevação do nível do mar. Na conferência do clima do ano passado, as autoridades da ilha ofereceram US$ 2,4 milhões para viabilizar o esquema.

Outros países prometeram elevar o valor para US$ 262 milhões para que a Organização das Nações Unidas (ONU) crie um fundo com esse propósito. A grande dificuldade agora é como convencer a sociedade de que deve pagar pelos danos causados por seus antepassados.

Qual o critério?

Mesmo que a questão seja superada, ainda há muito a se discutir sobre quem deveria dividir a conta.  No que diz respeito às emissões lançadas na atmosfera, o cálculo não considera apenas a atividade industrial, mas também a eliminação das florestas. 

Quando contemplados ambos os fatores em um ranking, China, Rússia, Brasil e Indonésia aparecem logo depois dos EUA.

O critério para receber os recursos não é menos complexo. 

Economia vulnerável é o mesmo que economia emergente?  Pela Convenção do Clima das Nações Unidas, a China ainda é uma nação emergente, o mesmo valendo para Singapura, o que mostra o quanto os seus dados carecem de atualização.

Sistema financeiro global

Outra proposta, não menos ousada, é a revisão das atividades do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI).  Um relatório do G20, preparado antes mesmo da COP27, indicou algumas mudanças na forma como concedem empréstimos.

Além de sugerir que poderiam acomodar mais risco em seus balanços, propôs iniciativas como um mecanismo (fundo) pelo qual o FMI emitiria novos Direitos Especiais de Saque (SDRs, na sigla em inglês), uma espécie de reserva concedida de acordo com o número de cotas de cada país, para emprestar a juros subsidiados aos países pobres com projetos de descarbonização.

Ou seja, da mesma forma que os bancos centrais “criaram” dinheiro no passado para comprar títulos (QE, na sigla em inglês), o FMI criaria SDRs, sem que houvesse qualquer aporte equivalente pelos países membros.

Engenharia financeira

Independentemente da mágica que turbinaria a sua capacidade financeira, o FMI é o órgão encarregado de prover empréstimos para países que hoje enfrentam os efeitos colaterais de insumos e dívidas mais caros em dólar (como é o caso do próprio Egito, que desvalorizou a sua moeda e fechou um empréstimo poucas semanas antes).

Aos países que os recebem, a imposição de que sigam o seu manual de boas práticas. Isso pode ser aceitável quando elimina alguns vícios. O problema é que não se pode exigir que também controlem as forças da natureza, algo que os EUA, que possuem poder de veto dentro da instituição, terão que decidir.

Talvez os agentes privados (bancos) possam ajudar, já que em algum momento terão que adaptar as suas próprias operações às mudanças climáticas?  A resposta está longe de ser trivial. Investir nas regiões mais vulneráveis do mundo, sem qualquer tipo de garantia, faria sentido para os acionistas?

A caminho do 2,8oC

A grosso modo, pode-se dizer que o mundo precisa reduzir as suas emissões pela metade em um curtíssimo prazo de 7 anos. 

Se nada diferente for feito, a expectativa é que a temperatura média da Terra suba 2,8oC até o final do século. Atualmente, o aumento de 1,2oC é o responsável pelas condições extremas observadas ao longo do ano.

Teríamos abandonado a meta de limitar o número em 1,5oC?  Talvez não, desde que o desenvolvimento tecnológico siga na direção certa.

Para Daron Acemoglu, economista do Massachussetts Institute of Technology (MIT), os investimentos podem ser direcionados tanto para energias limpas (“green energy”) como para equipamentos a combustão mais eficientes (“gray energy”).

Isso quer dizer que, no mundo empresarial, tudo é uma questão de preço ou de mercado. Por mais que os preços de combustíveis fósseis sejam voláteis, seu uso disseminado ainda garante alguma rentabilidade.

Efeito rebote

Olhando para os choques do petróleo do passado, o que as evidências mostram é que motores mais eficientes fizeram com que o consumo de combustível aumentasse na década seguinte, elevando a curva de emissões nos países ricos, ainda que as usinas já estivessem usando o gás natural, menos poluente que o carvão. 

Houve o que se chama de “efeito rebote”, conforme a eficiência energética dificultou a substituição por outras fontes. Isso explica a importância da implementação de políticas públicas adequadas. 

Colocar um ônus sobre quem polui, o que inclusive eleva a arrecadação pública, favorece muito mais a adoção de novas tecnologias do que a implementação pura e simples de subsídios, que também representam um custo para os governos.

Mas, na prática, isso é bem diferente, como os gilets jaunes (“coletes amarelos”) demonstraram.

Conclusão

Pelos resultados da COP27, os combustíveis fósseis continuarão movendo as economias, o que quer dizer que a geopolítica do petróleo e do gás está mais presente do que nunca. Governos que lidam com o alto endividamento e a inflação, em um cenário de baixo crescimento, hesitam em bancar a conta do clima.

A verdade é que nenhum deles pode ser dar ao luxo de gastar em objetivos diferentes, mas que conversam entre si, ao mesmo tempo: reduzir as emissões, adaptar ao clima mais quente e indenizar os que foram prejudicados.

A boa notícia é que o crescimento deixou de estar atrelado exclusivamente ao aumento de emissões.  Poderiam os órgãos multilaterais fomentar o setor de serviços, por exemplo, ao invés de se aventurarem nas “finanças climáticas”?    

Para que algo efetivamente seja feito, talvez Vanuatu deva sediar a COP28, mostrando in loco o nosso futuro.

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Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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