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As cidades mais caras do mundo e a nova economia
Economia

As cidades mais caras do mundo e a nova economia

Ainda que muitos sonhem em emigrar, a verdade é que poucos conseguem se manter fora de suas cidades de origem por conta das voltas que o câmbio dá

Data de publicação:13/12/2021 às 11:48 -
Atualizado 2 anos atrás
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Em 2019, três cidades dividiam o posto de cidade mais cara do mundo: Singapura, pela sexta vez consecutiva, Hong Kong e Paris, única representante dos países que adotam o euro. Distribuída basicamente entre cidades europeias e asiáticas, a lista com dez nomes contava com apenas duas cidades norte-americanas (Nova Iorque e Los Angeles), já mais para o final da fila.

As cidades mais caras do mundo e a nova economia
Tel Aviv ocupa o topo da lista de cidades mais caras em 2021 - Foto: Envato

Curiosidades à parte, as posições detidas por elas dizem muito sobre o seu contexto.  A convergência entre a Europa e a Ásia se dá pela globalização e o lugar no ranking é influenciado pela política monetária norte-americana.  Um ano antes, os EUA cresciam a um ritmo acelerado, o que exigia uma atuação mais enérgica por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

O papel do câmbio

Com o dólar mais forte, Nova Iorque e Los Angeles entraram na lista.  Londres, natural candidata a um posto, ficou de fora, dadas as incertezas com a votação pelo Brexit três anos antes.  Nem sempre se trata de algo que a população decide. 

A verdade é que flutuações cambiais importam e moedas são deslocadas por uma série de motivos.  Além de mudanças na política cambial, alterações em acordos de comércio internacional podem surtir o mesmo efeito. 

Desequilíbrios globais

O quanto elas estão distantes do seu equilíbrio é o que a paridade do poder de compra (PPC) tenta mostrar.  De acordo com esse conceito, não havendo condições artificiais atuando sobre o câmbio, a relação entre moedas nada mais seria do que a diferença de preço apurada em uma cesta de bens e serviços semelhantes, tal como brilhantemente refletido no Índice Big Mac.

Voltando ao ranking da revista inglesa The Economist, nem mesmo grandes exportadores de commodities são poupados.  Santiago fica mais cara sempre que há a valorização do cobre, o mesmo acontecendo com Moscou quando os preços do petróleo sobem.  A doença holandesa é uma realidade em muitos locais, ainda que haja fundos soberanos muito bem sucedidos, a exemplo do fundo da Noruega (o maior do mundo).

Quedas mais acentuadas nos preços em dólar não necessariamente são um bom sinal e muito menos representam ganhos de produtividade.  Entre as cidades mais acessíveis do mundo, Damasco, capital de um país destruído por uma guerra civil (Síria) e Caracas (Venezuela).

Como pode-se perceber, as cidades não mudam de posições apenas em função da sua própria dinâmica, mas também em função do que acontece com o resto do mundo.  Por conta disso, o que pode ser dito sobre os efeitos econômicos de uma pandemia em um ranking como esse?

Pandemia

Capturar o custo de vida de uma grande cidade envolve medir tudo o que faz parte dela.  Além de alimentação e itens de uso pessoal, entram aluguéis, transportes, serviços como água e luz, educação e entretenimento.

Após os lockdowns, um novo levantamento foi feito e Singapura deixou de ocupar o topo do ranking.  Com o fechamento das atividades, um grande contingente de imigrantes deixou a ilha.  Seu número de habitantes se reduziu ao menor nível desde 2003, o que levou à menor demanda e, consequentemente, à queda nos preços.

Paris, Hong Kong e Zurique dividiram o primeiro lugar, mostrando a resiliência do setor financeiro.  Porém, diferentemente de outros anos, a pesquisa identificou algumas oscilações notáveis em nível global, como o aumento de dois dígitos percentuais no valor dos notebooks (Wuhan é um importante hub na produção de eletrônicos) e a queda drástica nos preços de vestuário (decorrente do home office).

Comum a todas as cidades, os impactos das flutuações no câmbio e da escassez de mercadorias.

Como destaque entre os dados verificados, as maiores quedas de preços em dólar nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.  Parte refletindo a desvalorização cambial ocorrida em 2020 e parte pela falta de demanda, com prestadores de serviços e informais ajustando a renda perdida com o auxílio do governo.

Pós-pandemia

No topo da lista de 2021, Tel Aviv, uma cidade no Oriente Médio desbancando Paris e todas as demais. O fato de Israel ter tido êxito em vacinar a sua população, garantindo uma volta à normalidade e a respectiva valorização de sua moeda (shekel), é uma das explicações para a posição no ranking. 

Os seus outros atrativos, como o seu reconhecido ecossistema de empresas de tecnologia, também atraem talentos, encarecendo o custo de vida da cidade.

No pós-pandemia, a relação de cidades mais caras do mundo ainda é predominantemente europeia e asiática, embora elas enfrentem novos surtos de covid-19, o que leva à reintrodução de restrições.  Como resultado, o ciclo se repete: escassez e novos aumentos de preços.

Em todo o mundo, uma inflação significativamente mais alta, agravada por combustíveis 21% mais caros em termos internacionais.

Conclusão

Como o caso de Singapura bem mostrou, quanto mais pessoas uma cidade atrai, mais inacessível ela se torna, afetando tanto a população local como a estrangeira.

Ainda que muitos sonhem em emigrar, a verdade é que poucos conseguem se manter fora de suas cidades de origem dadas as voltas que o câmbio dá, seja por conta de eventos locais, seja por conta do impacto da alta dos juros norte-americanos na vida de qualquer cidadão.

Se antes a globalização oferecia a oportunidade de escolher entre as cidades mais promissoras, essa vantagem simplesmente sumiu com a chegada da pandemia.  A escassez ainda é global e todos enfrentam o mesmo problema: o poder de compra corroído por uma inflação mais alta e persistente.  Para cidades que vivem exclusivamente do turismo, essa é uma realidade sem volta.

Independentemente do surgimento de novas variantes da covid-19, os países acordaram para a importância da auto-suficiência, o que fará com que se voltem para dentro.  Tel Aviv é o exemplo da cidade do futuro, onde a inovação encontra facilidade de financiamento e uma população qualificada.

Em 2030, o ranking das cidades mais caras do mundo será bem diferente do atual, consolidando o modelo de desenvolvimento econômico do pós-pandemia.  Hora de parar de auferir o preço do hambúrger e começar a digerir novos dados.

*Este artigo não reproduz necessariamente a opinião do portal Mais Retorno.

Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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