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Vale
Economia

O mercado de commodities, a China e a inflação

China é maior produtora e consumidora do mundo e abala todos os cantos do mundo

Data de publicação:23/11/2021 às 07:00 -
Atualizado 2 anos atrás
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É impossível discorrer sobre a inflação global e não citar o mercado de commodities.  Afinal, o petróleo, o minério de ferro e a soja permeiam toda a sociedade, seja ela de economia desenvolvida ou emergente.

Os impactos obviamente não são sentidos da mesma forma, mas a falta de insumos, o encarecimento dos fretes e o aumento dos preços de energia remetem ao mesmo lugar: a China.

Foto: Envato
Yuan, moeda chinesa - Foto: Envato

Dito isso, para entender o mercado de commodities, é preciso entender o que acontece naquela parte do planeta.  Sua importância não se deve apenas ao fato de ser um grande país consumidor, mas também pelo fato de ser um grande país produtor (”Factory China”).

Superciclo de commodities

No início dos anos 2000, o país gerou um longo ciclo de alta nos mercados internacionais, também conhecido como o “superciclo de commodities”, processo pelo qual se urbanizou e enriqueceu. 

Sendo uma economia planejada, fez as coisas do seu jeito, implementando no decorrer do tempo práticas como o uso de estoques reguladores, a atuação direta nos mercados e a limitação da participação de empresas estrangeiras.

Isso permitiu que navegasse pela volatilidade característica dos mercados futuros sem grandes problemas, ainda que consuma quase metade de toda a produção global de insumos básicos.

Volatilidade

Commodities são setores cíclicos por natureza. Conforme a demanda aumenta, os preços sobem, propiciando novos investimentos em capacidade produtiva. A depender da fase em que se está no ciclo, o preço no mercado futuro pode ser maior ou menor que no mercado à vista (spot). 

Se a volatilidade faz parte do jogo, a pandemia a levou ao extremo.  No início do ano passado, conforme as economias foram se fechando, os contratos futuros passaram a apontar preços cada vez mais baixos. 

Nessas condições, o raciocínio predominante é o seguinte: reduzir estoques, dado o benefício marginal decrescente (menor preço).

Cobre

Olhando pra frente, onde o mundo tenderá a ser mais verde, o mercado de cobre é bastante ilustrativo.  Usado tanto para fins industriais como pelo setor de construção civil, ele é o exemplo da mudança estrutural na economia mundial e na sua respectiva dinâmica de preços.

Pode-se dizer que o cobre é o metal da vida moderna. Carros elétricos, edifícios e postos de recarga, painéis solares e turbinas eólicas não funcionam sem ele mas, em vez de um único pais comprando (como a China nos anos 2000), a demanda nesse caso seria de todos os países ricos juntos. 

Nessas circunstâncias, aumentar a oferta não é trivial.  Demora-se anos para se aumentar a produção de uma mina já em funcionamento e praticamente uma década para se explorar minas novas.

Dividendos

Entre os anos do superciclo de commodities (2000 a 2014), investiu-se em inúmeros projetos de grande escala, o que fez com que muitas empresas enfrentassem dificuldades. Desde então, as mineradoras têm se limitado a distribuir fartos dividendos.

Hoje, os valores alocados em projetos representam metade do que era investido em 2012, ano considerado como o pico para o setor de cobre. Parte se deve ao esgotamento das minas mais antigas e parte à localização das novas (em países pouco seguros como o Congo).    

Bolsas

Bolsas de futuros são os lugares onde os agentes apostam ou se defendem da volatilidade.  No caso da China especificamente, seus mercados futuros são representados pelas bolsas de Dalian, Xangai e Chengchow, responsáveis por boa parte dos 80 contratos distintos que são negociados ali.

Para entender o papel dessas bolsas, no primeiro semestre de 2021, os contratos futuros de commodities agrícolas mais negociados no mundo eram chineses, seguidos por 80% de todos os contratos de commodities metálicas e 50% do total de contratos futuros de energia.

Outra característica interessante é que, ao contrário de outras bolsas de futuros no mundo, na China os investidores são predominantemente investidores de varejo (algo em torno de 85%).  

Como deixam os seus contratos abertos por menos tempo, dão liquidez ao mercado, ainda que percam dinheiro na maioria das vezes. Isso pode mudar conforme o país tenta emplacar seu benchmark (contrato cujo preço funciona como uma referência internacional).

Mini bolsas

Maior consumidora de minério de ferro, insumo usado para a produção de aço, a China ainda adota algumas peculiaridades.  O país possui um mercado à vista para ele, diferentemente de seus vizinhos como o Japão e a Coréia do Sul.

Seus portos funcionam como mini bolsas regionais, contando inclusive com armazéns próprios para depósito.  Assim, é ali onde muitas negociações ocorrem, ajustando-se estoques e fornecendo indicações de preços para contratos de longo prazo. 

Mesmo com toda essa sofisticação, existem dúvidas se as bolsas chinesas dominarão o mundo.  Inicialmente, porque a China não será a única economia demandando insumos em larga escala para atender à transição energética. 

Segundo, em função do seu histórico de interferência governamental, o que afugenta os investidores internacionais, acostumados à dinâmica própria de oferta e demanda de cada commodity.

Conclusão

Quando a inflação se torna a principal notícia do dia, é comum que a população culpe os seus governantes e cobre soluções.  Porém, dependendo de onde se está no mapa, há pouco a se fazer.

Isso em função do poder de influência da China. Maior consumidora e, ao mesmo tempo, maior produtora do mundo, ela abala todos os cantos do planeta, com ou sem pandemia.

Dado o seu modus operandi, uma verdade incontestável é que ninguém sobe na hierarquia política chinesa se não for um exímio gestor. Não por outro motivo, agentes que em outras partes do mundo garantem transparência nos preços (como as bolsas) estão entrelaçados à máquina estatal chinesa.

A forma como ela agirá para neutralizar a volatilidade no futuro, decorrente de uma desenfreada busca mundial por metais para atender às metas de descarbonização, diz muito sobre os choques de oferta e os aumentos de preços que ainda estão por vir.

Caberá a China escolher se integrará as suas bolsas às demais, passando a adotar mecanismos de mercado, ou se continuará com as mesmas práticas.

O que se decide em Pequim se reflete no mundo.

Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.
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