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juros
Economia

Saiba o que capital estrangeiro, câmbio e juros têm a ver com o preço dos ativos

Confira dois conceitos sobre economia que todos deveria saber

Data de publicação:10/01/2023 às 08:00 -
Atualizado um ano atrás
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Entender o mundo ajuda a tomar decisões de investimento mais acertadas. Pode parecer óbvio, mas pouca gente se atenta a isso.

Mais do que se inteirar das características individuais de cada ativo financeiro, é preciso assimilar a ideia de que os fundamentos econômicos predominam, impactando desde o mercado de moedas até o comportamento dos criptoativos.

IPCA-15 julho / Taxa básica de juros Selic reino unido crédito privado
Países optam por deixar câmbio flutuar e decidir sobre os juros - Foto: Reprodução

Trilema de Mundell-Fleming

Tema obrigatório para qualquer um que queira olhar além dos gráficos de Forex.

De acordo com o modelo de Mundell-Fleming, qualquer país determina a sua própria sorte em relação à:

Facilidade com que o capital externo entra e sai de suas fronteiras;
Flexibilidade de sua taxa de câmbio;
Autonomia para definir sua taxa de juros.

Entre essas 3 variáveis, apenas 2 podem coexistir. Isso quer dizer que:

Um país que fixa o seu câmbio e deseja ter liberdade para fixar a sua taxa de juros não pode permitir a livre movimentação de capitais;
Um país que deseja a livre movimentação de capitais e autonomia para definir a sua própria taxa de juros precisa necessariamente deixar o seu câmbio flutuar;
Um país que fixa o seu câmbio e permite a livre movimentação de capital está impossibilitado de definir a sua própria taxa de juros.

Teórico demais?

Exemplos reais

O primeiro caso explica porque o yuan não é amplamente aceito, o que mina qualquer possibilidade de que substitua o dólar norte-americano, apesar da importância da China no comércio internacional.  Abandonar o controle de capitais é se render à volatilidade criada pelas forças do mercado.

O segundo se aplica à maioria dos países, que passaram a adotá-lo como forma de acomodar choques externos. É nesse grupo que se encontra o Japão, cuja moeda (iene) se desvalorizou bastante em relação às demais devido ao seu juro, estacionado em “zero”. Com as taxas aumentando nas principais economias do mundo, todos os olhos se voltam para lá.

O terceiro pode ser observado no processo de implementação do euro. Antes da adoção da moeda comum, as várias moedas da região foram fixadas ao marco alemão. Como consequência, os juros eram estabelecidos de acordo com a atividade econômica da Alemanha, desconsiderando a realidade dos demais países.

Mesmo com o Banco Central Europeu (BCE) no comando da política monetária, esse raciocínio ainda prevalece, dado o peso econômico dos países dentro do bloco. Com a inflação já alta na Europa, em função da crise energética, não é difícil de imaginar que surjam novas tentativas para “sair das amarras do euro”, conforme os aumentos de juros pressionam os spreads sobre os títulos negociados naquele mercado.

Resumindo, esse modelo mostra os desafios de se manter o câmbio fixo ao longo do tempo.    

A importância dos fluxos globais

Mundell recebeu o Nobel de Economia de 1999, ainda que seu modelo tenha surgido na década de 60.

Desde então, recebeu aprimoramentos, como os da economista Hélène Rey, que incluiu variáveis como a disponibilidade de crédito e os impactos dos fluxos financeiros globais, que se deslocam de acordo com a disposição dos agentes em tomarem risco vis-à-vis as mudanças nas taxas de juros dos EUA, que efetivamente precificam o valor dos ativos mundialmente.

Quando os juros caem, seus preços sobem, tornando-os mais atrativos como garantias para novas operações. Quando o oposto ocorre, a desalavancagem leva a condições mais restritivas de crédito, mesmo para países que possuem câmbio flutuante e são autônomos para definir as suas próprias taxas de juros.

Rey conclui que a liquidez (ou a sua ausência) influencia na dinâmica do trilema.

Momento Minsky

Para entender as crises financeiras, é preciso olhar para o básico: qualquer investimento na economia pode ser feito com recursos próprios ou de terceiros (empréstimos).

Para Hyman Minsky, economista norte-americano, existem 3 tipos de tomadores de recursos:

Conservador: que paga suas dívidas com o lucro de sua atividade;
Intermediário: que paga os juros, mas não o principal, o que faz com que “role a dívida”;
Especulativo: não possui recursos para pagar os juros e muito menos o principal, mas conta com valorização de seus ativos para liquidar a dívida.

Nas ocasiões em que há um aumento de juros ou um choque externo na economia, o tomador especulativo se desfaz de seus ativos para honrar os seus compromissos, criando dificuldades para o tomador intermediário, que inclusive encontrará condições de crédito mais caras para se refinanciar.

O movimento seria rapidamente estancado não fosse a propensão dos agentes econômicos em tomarem mais crédito quando as coisas estão indo muito bem, conforme o sistema financeiro relaxa as exigências para emprestar até o exato “momento Minsky” em que a crise chega.

A formação da bolha

O economista explorou como ninguém a perigosa relação entre alavancagem e inovação financeira, demonstrando como as bolhas financeiras se formam.

Nesse sentido, ficam evidentes as mais recentes, criadas tanto em torno das empresas de tecnologia como no mundo cripto. Ambos se tornaram modismos, sendo adquiridos em um ambiente igualmente eufórico.

No caso das startups, os juros baixos transformaram a atividade de venture capital no shopping center do crédito.

Já a alavancagem está por trás da quebra da FTX, que emprestou tanto os seus ativos como os de terceiros. Ao fomentar a especulação, na tentativa de valorizar os seus próprios tokens, levou os “investidores” para operações bastante arriscadas.

A desalavancagem

Um dos efeitos colaterais dessa estreita relação entre endividamento e atividade econômica é o excesso de cautela que se instala logo após o início da crise.  Como consequência, a paralisia.

Entretanto, com o passar do tempo, surgem os elementos do próximo colapso, via novos participantes, que tomam mais crédito, concedido sob novas regras.

Os trabalhos de Minsky complementaram os de outros economistas, auxiliando no entendimento do risco sistêmico e do rastro de destruição deixado nos processos de desalavancagem (como o estouro da bolha japonesa).

Conclusão

O trilema ilustra as difíceis escolhas feitas pelos países em três variáveis fundamentais: capital externo, política cambial e política monetária. Na maior parte dos casos, optam por flutuar as suas moedas, evitando assim os ataques especulativos e mantendo para si as decisões de juros.  

Já Hyman Minsky, que ganhou notoriedade na crise financeira de 2008, destaca porque longos períodos de prosperidade, como o observado na década passada, levam à próxima crise (o “momento Minsky”).

Citado em discursos de banqueiros centrais, que atualmente estão elevando os juros, faz todo o sentido do mundo entender do que estão falando.  

Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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