Guia sobre Criptomoedas: tudo o que você precisa saber para investir melhor
Tudo o que você precisa saber para investir melhor no mundo das criptomoedas
Com o fim de 2021, os entusiastas das criptomoedas estavam cheios de otimismo. Afinal, tinha sido um ano marcante: os tokens não fungíveis, ou NFTs, tinham se tornado populares. Investidores casuais estavam conversando com seus amigos sobre os méritos do Bitcoin versus o Ether. E algumas pessoas até fingiram entender as stablecoins algorítmicas.
Um ano depois, a principal temática mesmo entre o maiores ‘criptofiéis’ é a crise, com a prisão de Sam Bankman-Fried, o co-fundador da FTX, e se algum dia será possível recuperar as moedas presas em bolsas falidas e plataformas de empréstimo após uma série de grandes colapsos pelo mundo.
O “inverno cripto” é o termo da indústria para o frio que desceu sobre o mercado em 2022. Após o colapso da stablecoin algorítmica TerraUSD, os principais cripto players caíram como dominós: Three Arrows Capital. Voyager Digital, Rede Celsius, FTX, BlockFi.
Mas nem tudo foi negativo – pelo menos no começo. O Super Bowl, um dos maiores eventos esportivos dos EUA, apresentou comerciais cheios de celebridades para empresas de criptomoedas, incluindo Coinbase, Crypto.com e a já mencionada FTX, que ainda estava em alta.
Houve conferências criptográficas nas Bahamas e em Miami, com sessões sobre o futuro do Bitcoin durante o dia e festas gigantescas chamativas à noite.
Ainda assim, os preços das criptomoedas continuam caindo. Bitcoin - o maior token por valor de mercado - despencou mais de 60%, liderando uma derrota em ativos digitais que apagou cerca de US $ 2 trilhões em valor de mercado total desde as máximas alcançadas em novembro de 2021.
Bankman-Fried, o fundador da FTX, deixou de ser descrito como um moderno John Pierpont Morgan a ser preso e acusado de vários crimes, incluindo fraude.
E os preços de NFT despencaram.
Mas… A vida continua e os entusiastas de criptoativos permanecem firmes na crença que o futuro será, de novo, brilhante.
Gigantes como BlackRock e alguns dos principais fundo de universidades americanas continuam investindo nos ativos, como forma de apimentar o portfólio com um ativo totalmente descorrelacionado aos grandes temas da macroeconomia.
O que são as criptomoedas?
Muito bem, vamos começar pelo básico: afinal, o que são as criptomoedas? Em resumo, trata-se de uma nova solução para o sistema financeiro que visa utilizar o ambiente online para a realização de transações com moedas, retirando assim o intermediário do processo.
Definição complexa, né? Vamos facilitar um pouco pensando em situações da nossa rotina cotidiana. Suponha que você precise, por exemplo, enviar R$200 para um familiar. É bem provável que a solução seja uma transferência bancária, certo? Pois temos aqui uma situação na qual o banco é o intermediário. E isso traz custo e burocracia ao processo.
É neste contexto que entram as criptomoedas. Elas possuem a proposta descentralizada, em que não há um intermediário no controle das transações — nem instituições financeiras, nem mesmo o próprio governo. Tudo funciona por meio de códigos computadorizados.
Caso queira entender mais sobre esse contexto das criptomoedas, recomendamos que assista à entrevista que fizemos com o Rodrigo Terni, da Giant Steps.
O que é o Bitcoin?
O Bitcoin, que muito provavelmente você já conhece em função da sua rentabilidade absurda ao longo dos últimos anos, é a principal criptomoeda da atualidade. O seu valor de mercado já chegou a ultrapassar o valor de R$300 mil por unidade.
Ao longo dos últimos anos, essa moeda digital teve uma valorização acima de 6.000% (dados de março de 2022).
No entanto, assim como acontece na bolsa de valores com as empresas, os resultados do ativo nada mais são do que reflexo de uma relação mercadológica de interesse por parte dos investidores — algo que cresceu muito no período recente.
A criação do Bitcoin é atribuída a Satoshi Nakamoto. Há até um perfil japonês, mas a versão mais aceita pela comunidade das criptomoedas é de que se trata de um pseudônimo, que visa manter o seu verdadeiro criador em um anonimato. Essa moeda digital possui uma função essencialmente financeira.
O que é a Ethereum?
Outro ativo digital bem conhecido é a Ethereum. Ao contrário do Bitcoin, esse não é apenas um projeto de moeda digital, mas sim uma plataforma descentralizada completa — que oferece, além das transações e pagamentos, contratos inteligentes e armazenamento de informações criptografadas.
Em relação aos processos financeiros, a Ethereum oferece uma transação mais rápida do que o Bitcoin. Além disso, a plataforma também é utilizada como base de tecnologia para outras estruturas dentro das finanças descentralizadas.
Como funcionam as criptomoedas?
Para quem ainda está conhecendo o mercado das criptomoedas, uma das principais curiosidades é compreender como toda essa teoria descentralizada funciona na prática. E esse entendimento é crucial para que você possa avaliar as perspectivas para os ativos digitais.
A rede blockchain
Em primeiro lugar, é importante entender que cada projeto digital possui as suas próprias ferramentas e, portanto, os processos podem se diferenciar entre si. No entanto, a maior parte das criptomoedas utiliza como base a tecnologia blockchain ("cadeia de blocos", em tradução livre para o português).
A rede blockchain funciona com o envio e recebimento de informações online que se conectam, formando blocos informativos (estrutura que, inclusive, explica o próprio nome). Tudo isso se organiza no modelo peer-to-peer (ponto a ponto), que consiste em uma validação coletiva das transações.
Ou seja, são os próprios usuários que permitem a integração do sistema (lembre-se: não há centralização de processos nos projetos de criptomoedas). Só que há um ponto importante: essas informações não são integradas de forma automática. É aqui que entra outro personagem importante do universo digital: os mineradores.
Os mineradores
Os mineradores nada mais são do que usuários como eu e você que disponibilizam seus computadores para a validação dos códigos da blockchain. Por essa atividade (que exige uma altíssima capacidade de processamento e não é feita por qualquer usuário), eles são recompensados com novas moedas.
Portanto, em resumo, essa é a estrutura que permite o funcionamento do mercado das criptomoedas:
- As criptomoedas são estruturadas em blocos sequenciais (rede blockchain);
- A informação é validada por uma rede (sistema peer-to-peer);
- Os usuários disponibilizam tecnologia para essa validação (mineradores).
As criptomoedas são seguras?
Vale destacar, entretanto, que todo sistema é extremamente complexo — apenas simplificamos para que ele possa ser entendido. Para acessar as informações da rede blockchain, por exemplo, é um grande desafio. As informações dos blocos se acumulam, não sendo suficiente descobrir um código isolado para aplicar um golpe.
Portanto, trata-se de uma tecnologia que, aplicada corretamente, oferece uma enorme segurança para os ativos digitais. E essa é apenas uma das vantagens das criptomoedas. Vamos conhecer um pouco mais sobre elas.
Quais são as vantagens das criptomoedas?
O principal ponto positivo das criptomoedas está na descentralização dos processos financeiros. Ao retirar bancos e instituições similares das etapas, há uma redução tanto de custos (afinal, existem taxas cobradas por essa intermediação), como também um aumento de velocidade (a burocracia atual é outro problema comum).
Outro fator bem atrativo desse mercado é que há um limite para a produção das moedas digitais. O Bitcoin, por exemplo, terá uma quantidade máxima de 21 milhões de unidades. Isso contribui para que, ao invés de se desvalorizar com a inflação, o ativo se torne mais valioso em função da escassez.
Por fim, claro, não podemos ignorar o grande potencial de valorização oferecido pelas criptomoedas (justamente o que despertou atenção de boa parte dos investidores para esse mercado) e a aceitação global do ativo (com algumas exceções e restrições).
Quais são os riscos das criptomoedas?
Se a globalização das criptomoedas é um ponto positivo, há um risco inegável de decisões políticas de países estratégicos. Podemos mencionar, por exemplo, a China, que tornou a mineração de Bitcoin ilegal em setembro de 2021. Neste caso, estamos falando de um bilhão de pessoas que, em tese, deixam de participar do mercado.
Até mesmo algumas pessoas podem ter uma forte influência na precificação dos ativos. É o caso do polêmico Elon Musk. Um dos grandes promotores das criptomoedas, declarações do empresário em tom crítico já derrubaram o preço do Bitcoin em 10% em maio de 2021. E ter indivíduos influenciando um mercado acabam aumentando o risco do investimento.
Duas críticas adicionais bem comuns que se configuram, de fato, em riscos para os ativos digitais são a ausência de lastro e a falta de regulamentação do mercado (algo que pode, em breve, ser modificado dado o crescimento das criptomoedas).
Há também um temor dos investidores pela segurança, mas os ativos digitais utilizam de sistemas criptografados (embaralhando as informações para invasores). Portanto, os criptoativos mais conhecidos são extremamente seguros, mas ainda assim podem existir golpes — como o Double Spending — em projetos mais frágeis.
Altcoins: conheça outros projetos de criptomoedas
Embora sejam os ativos digitais mais conhecidos, Bitcoin e Ethereum estão longe de ser as únicas criptomoedas do mercado. Na realidade, existem mais de dez mil projetos atualmente, cada qual com as suas particularidades.
A enorme maioria, claro, pode ser uma mera especulação e não avançar. No entanto, existem muitos outros que já possuem alguma relevância de mercado. Na sequência, listamos algumas criptomoedas alternativas para que você possa conhecê-las.
- Bitcoin Cash: lançado em 2017 como um aperfeiçoamento do Bitcoin, esse projeto consiste em oferecer transações mais rápidas e baratas para os usuários.
- Cardano: com o objetivo de reunir criptomoedas e plataformas digitais, possui uma proposta inovadora. Oferece ainda contratos inteligentes, assim como a Ethereum.
- Litecoin: um dos primeiros altcoins com destaque, também oferece uma proposta mais leve e veloz em relação ao Bitcoin. Você pode aprender mais sobre o ativo neste artigo.
- Ripple: não é apenas uma criptomoedas, mas um protocolo de pagamentos. Surgiu com o objetivo de ser uma solução financeira. Não permite mineração.
- Tether: ao contrário da maior parte das criptomoedas, esse projeto busca paridade com uma moeda tradicional — o dólar. Por esse motivo, reduz a sua volatilidade e se apresenta como um stablecoin. Há, inclusive, certa polêmica sobre esse lastro dolarizado.
Lembrando que não se trata de uma recomendação de investimento. Comprar moedas digitais, assim como qualquer outro tipo de aporte financeiro, exige muito estudo do mercado e do seu perfil de risco.
Existem diversos projetos que surgem como promissores e, posteriormente, são colocados em cheque. É o caso da Solana, outra criptomoeda que já possui certo destaque no mercado financeiro.
Token vs. criptomoedas: quais são as diferenças?
Embora sejam utilizados como sinônimos, os tokens possuem uma proposta diferente das criptomoedas. As moedas digitais, afinal, são amplamente focadas na sua função financeira — isto é, transferências e pagamentos. Já os tokens são, em resumo, representações digitais (códigos) de um bem.
Portanto, os tokens não se limitam apenas ao seu valor financeiro. Existem, inclusive, quatro classificações de tokens distintos. São elas:
- Payment token: são ativos digitais com função exclusiva financeira, sendo aplicados em pagamentos e transações. Em essência, são muito similares às criptomoedas.
- Security token: são ativos mobiliários que são convertidos em digitais. É o caso de participações em empresas, algo muito comum em startups visando a captação de recursos. Cada token representa uma pequena parte do negócio (como ações).
- Utility token: são tokens que oferecem, além do valor financeiro do ativo, algum direito ou utilidade. Pode ser, por exemplo, a oportunidade de voto ou o acesso antecipado a um produto.
- NFT: os tokens não fungíveis representam ativos únicos e que não podem ser replicados.
Caso queira aprender mais sobre o universo dos tokens, explicamos melhor cada classificação de token neste artigo.
Como eu posso investir em criptomoedas?
A empolgação com o universo das criptomoedas pode levar o investidor ao questionamento sobre como investir em ativos digitais. Existem, basicamente, três formas de expor o seu capital a esse mercado. Vamos explorá-las brevemente na sequência.
Fundos de investimentos
Vamos começar pela alternativa mais prática, que é comum em mercados mais tradicionais: os fundos de investimentos. Aqui, temos uma estrutura em que a gestora recebe os aportes dos seus investidores (chamados de cotistas) e oferece o serviço de um profissional especializado para a alocação desse capital.
Os fundos de criptomoedas oferecem oportunidades com exposição total aos ativos digitais, como também versões menos arriscadas, que definem um percentual de criptomoedas e deixam o resto do valor em LFT (Tesouro Selic), acompanhando a taxa básica de juros do Brasil. Há também versões de fundos que se destinam a outras teses do mercado digital, como as finanças descentralizadas.
O problema é que, considerando todos os produtos dessa indústria, a enorme maioria dos fundos é destinada apenas aos investidores qualificados. Sendo assim, há uma certa restrição de acesso ao produto por esse meio se você não tiver um patrimônio com ao menos um milhão de reais.
Para um contato mais real com esses produtos, veja a comparação que fizemos entre dois fundos de criptomoedas: o Hashdex 20 e o BTG Pactual Bitcoin.
ETFs
Se você ainda é um pequeno investidor, não se preocupe! Outro método simples de se expor a esse mercado é usar dos ETFs (Exchange Traded Funds), que são os fundos negociados em bolsa de valores com a característica de seguir o desempenho de um determinado índice. Para investir neles, basta usar o ticker (código de negociação) no seu Home Broker.
Atualmente, na nossa bolsa de valores, já existem alguns ETFs de criptomoedas. É o caso de produtos que replicam o desempenho do Bitcoin (BITH11 e QBTC11) e da Ethereum (ETHE11 e QETH11). Apesar do mesmo objetivo, cada ETF utiliza um índice de referência diferente e, naturalmente, são compostos 100% da criptomoeda escolhida.
Para quem busca diversificação, um bom caminho é o HASH11. O produto da gestora Hashdex traz um proposta de investir automaticamente em diversos ativos, com uma natural concentração nas duas criptomoedas mais populares (Bitcoin e Ethereum possuíam 96,57% do patrimônio do fundo até março de 2022). No entanto, há uma pequena exposição a outros ativos também.
E, aos poucos, novos fundos negociados em bolsa do segmento estão sendo lançados. Já existem, por exemplo, ETFs que oferecem exposição à tese de finanças descentralizadas. É o caso do DEFI11 e do QDFI11. Com propostas ligeiramente diferentes, eles oferecem ao investidor uma diversificação de tokens como Uniswap, AAVE e Curve.
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Corretora de criptomoedas
Por fim, há ainda a oportunidade de buscar corretoras de criptomoedas. Não é absurdo nenhum dizer que essa é, na realidade, a melhor opção para quem deseja investir em ativos digitais. Isso porque tanto em fundos de investimentos, como ETFs, não é o investidor quem escolhe quais os ativos estarão presentes em sua carteira.
Por outro lado, investir em uma corretora de ativos digitais traz novos desafios. O primeiro deles é se habituar com um novo estilo de plataforma. Binance, Coinbase e Foxbit, para citar algumas das opções mais conhecidas, possuem uma estrutura diferente das corretoras tradicionais — casos de BTG, XP Investimentos, Modal ou Rico, por exemplo.
Outro desafio é a seleção dos ativos. Talvez não seja difícil, para um iniciante no mercado de ações, entender indicadores como margem de lucro, ROE e alavancagem. No entanto, os fundamentos de criptomoedas são bem mais complexos e subjetivos. Essa escolha exige, portanto, bastante estudo por parte do investidor.
Tributação das criptomoedas
Para finalizar, um tema que costuma preocupar os investidores quando o assunto são os investimentos é a declaração do Imposto de Renda. E a tributação das criptomoedas vai depender diretamente da forma que você escolher para investir nesse mercado. Em suma, é assim que a Receita Federal cobra os impostos nessa classe de ativos:
- Fundos de investimentos: seguem a tabela regressiva do Imposto de Renda, variando entre 22,5% e 15,0% de acordo com o tempo da aplicação. O imposto é retido na fonte e, na declaração anual, a sua corretora vai passar os dados para o IRPF.
- ETFs: os fundos negociados em bolsa, por sua vez, seguem uma tributação de 15% sobre vendas com lucro das cotas. A arrecadação é de responsabilidade do próprio investidor, que deve acertar o imposto via DARF no mês subsequente à venda.
- Corretoras de criptomoedas: já se você compra os ativos digitais diretamente nas corretoras especializadas, tudo vai depender da instituição escolhida (e recomendamos que você solicite a elas o informe de rendimentos). De maneira geral, a tributação sobre lucros utiliza uma tabela progressiva. É necessário ainda declarar anualmente a sua posição em criptomoedas pela ficha de bens e direitos.
Deu para entender melhor o universo das criptomoedas?
Ufa! Chegamos ao final do nosso guia completo sobre criptomoedas. O nosso objetivo foi tentar simplificar um pouco a dinâmica desse mercado e, principalmente, permitir que você entenda a lógica que existe por trás das rentabilidades fora do comum que os ativos digitais estão apresentando ao longo dos últimos anos.
Importante entender que esse guia foi bastante introdutório e, caso você tenha gostado desse mercado, recomendamos fortemente um aprofundamento no estudo sobre as opções disponíveis antes de qualquer tipo de investimento. Não se esqueça de que, por trás de bons retornos, sempre há um risco envolvido.
A verdade é que os ativos digitais vão muito além de Bitcoin e Ethereum. E ainda há muita incerteza sobre o potencial desses produtos no longo prazo. Portanto, fique sempre de olho no nosso Blog para acompanhar qualquer novidade, pois elas certamente dominarão o noticiário do mercado financeiro ao longo dos próximos anos.