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Renda Variável

Dividendos: mercado ainda aposta em proventos acima da Selic, mesmo com aperto monetário e juros a 12,75% ao ano

Entre as empresas que devem pagar proventos acima da taxa de juros estão mineradoras, petroleiras, indústria de proteína animal e elétricas

Data de publicação:19/05/2022 às 00:30 -
Atualizado 2 anos atrás
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Com a Selic, taxa básica de juros do País, a 12,75% ao ano, em um ciclo de aperto monetário que se estende desde o ano passado, muitos investidores com foco em dividendos questionaram sobre a capacidade das companhias de continuar pagando proventos expressivos, assim como ocorreu em 2021.

No entanto, de acordo com os especialistas, a entrega de dividendos polpudos para os investidores deve continuar em 2022, com algumas empresas pagando um dividend yield acima da projeção da taxa de juros do País para o fim deste ano, que, segundo o último Boletim Focus, está em 13,25% ao ano.

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Alta da Selic não deve atrapalhar a boa safra de pagamento de dividendos em 2022 - Foto: Reprodução

De acordo com Dennis Esteves, especialista da Blue3 Investimentos, a força vendedora de ações, com a migração dos investidores de renda fixa, chega a ser benéfica para quem tem o olho nos dividendos.

“Se o investidor recebe 10% em dividendos de uma ação que custa R$ 100,00, se esse mesmo papel, ao invés de valer R$100 cair para R$ 80, ele recebe um valor maior”, explica.

Dennis Esteves, da Blue3

Para Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos, o nível de retorno esperado em dividendos da Bolsa nunca esteve tão alto – de acordo com dados do BTG Pactual, estão 4,9% acima do juro real embutido no retorno dos papeis do Tesouro (NTN-B), hoje em torno dos 5,5%.

Para quem pretende se manter na renda variável, os especialistas indicam que o momento atual é favorável para buscar empresas com crescimento já consolidado, como é o caso das gigantes de commodities, bancos, elétricas e companhias cuja boa parte da receita vem do exterior, como é o caso da indústria de proteína animal.

Petrobras: 2022 é o ano dos dividendos

A Petrobras integra a lista das empresas que têm um dividend yield projetado para 2022 acima da Selic.

De acordo com Charo Alves, especialista da Valor Investimentos, a gigante petroleira colhe os frutos da combinação de fatores como a reestruturação de sua gestão, a alta no preço do barril do petróleo – na casa dos R$ 100 – a venda de ativos que não estavam em linha com os negócios da companhia e a redução do número de colaboradores.

“O custo para extrair óleo do pré-sal está em torno de US$ 4 a US$ 5 o litro. Já o petróleo está sendo negociado a cerca de US$ 100, o que fez a margem de lucro da Petrobras explodir”, analisa.

Charo Alves, da Valor Investimentos

Expectativas

O dividend yield da estatal projetado para este ano está na faixa de 18%. Mas Alves diz que já chegou a ouvir projeções na casa dos 40%, se o petróleo continuar subindo.

No entanto, para os especialistas, apesar dos dividendos em patamares superiores, é importante manter a atenção nos papéis da Petrobras, em virtude do risco de ingerência, com a proximidade das eleições.

No início do mês, a estatal anunciou a distribuição de R$ 45,8 bilhões em dividendos, referentes à antecipação de uma parte relativa ao exercício de 2022. No começo da semana passada, a Petrobras pagou dividendos complementares na ordem de R$ 2,970 por ação ON e PN.

Confira 20 ações que pagam dividendos acima da Selic em 2022

EmpresaTickerSetorDividend yield (projeção para 2022)
BradesparBRAP4Mineração34,81%
BradesparBRAP3Mineração34,73%
Wilson SonsPORT3Logística28,29%
PetrobrasPETR4Petróleo22,61%
BraskemBRKM5Siderurgia21,98%
MarfrigMRFG3Proteína animal21,17%
PetrobrasPETR3Petróleo20,89%
Gerdau MineraçãoGOAU4Mineração20,47%
CSN MineraçãoCMIN3Mineração20,28%
Banco do BrasilBBSA3Financeiro18,00%
Usiminas USIM5Siderurgia17,74%
ValeVALE3Mineração17,59%
UsiminasUSIM3Siderurgia17,05%
CopelCPLE3Energia elétrica16,69%
CopelCPLE6Energia elétrica16,52%
Copel CPLE11Energia elétrica16,50%
CPFLCPFE3Energia elétrica15,38%
Brasil AgroAGRO3Agronegócio14,78%
TaesaTAEE11Energia elétrica12,87%
Fonte: Valor Investimentos

Vale: mais uma temporada de lucro no bolso do acionista

Apesar de o cenário para o minério de ferro estar pautado por desafios – principalmente ligados à retração da economia chinesa por conta da nova onda de covid-19 – a distribuição de dividendos gordos pela Vale não deve ser muito prejudicada, mantendo o ritmo de 2021, quando chegou a pagar cerca de R$ 8,00 por ação.

Esteves, da Blue3, ressalta que o fato do produto da mineradora ser negociado em dólar aumenta a possibilidade de uma nova geração de caixa expressiva, já que a moeda americana segue no patamar de R$ 5 e não deve baixar por conta da aproximação das eleições no Brasil.

Segundo relatório do Inter Research, a Vale deve manter suas receitas em níveis elevados, seguindo o guidance de produção para este ano, que sinaliza uma recuperação de capacidade esperada entre 320 e 325 milhões de toneladas.

Programa de recompra de ações

Recentemente, a mineradora concluiu o programa de recompra de ações de sua emissão que teve início em outubro do ano passado. Ao todo, a movimentação totalizou US$ 3,513 bilhões, com a recompra de 200 milhões de ações, ao preço médio de US$ 17,56 por ação.

Além disso, a Vale já deu início a um novo passo no programa de recompra, limitado à aquisição de, no máximo, 500 milhões de ações ordinárias e ADRs da companhia. A iniciativa será implementada ao longo dos próximos 18 meses.

Bancos: dividendos devem ficar mais fortes

A elevação da Selic, assim como o avanço da inflação sob o âmbito global, deve turbinar o pagamento de dividendos por parte dos grandes bancos. Os dividend yields projetados para 2022 estão próximos ou acima da Selic. “Os juros elevados podem aumentar o spread bancário, o que eleva os lucros”, diz Alves, da Valor.

O especialista diz que instituições financeiras, como o Banco do Brasil, que tem carteiras de crédito segmentadas para o setor agrícola, por exemplo, podem ter um desempenho ainda melhor. “A chance de tomar calote é menor”, enfatiza.

Alves cita o Santander na contramão, pelo fato de ser um banco com foco em varejo ligado à pessoa física. “Em momentos de instabilidade econômica, as pessoas buscam linhas de crédito para urgências, o que pode colocar a possibilidade de elevar o grau de inadimplência”.

Elétricas: transmissoras continuam na dianteira

Tradicional pagador de dividendos, o setor elétrico é um dos mais procurados na hora de proteger os investimentos. Na visão dos entrevistados, as transmissoras devem continuar entregando yields expressivos, acima da Selic.

Um dos exemplos emblemáticos citado por eles é a Taesa. Recentemente, a companhia informou que fará o pagamento de R$ 800 milhões em dividendos, o que representa R$ 2,323 por ação.

Um dos pontos que favorecem a continuidade dos dividendos das transmissoras é o fato dessas companhias trabalharem com contratos longos, cuja duração está entre 15 e 20 anos, sem grandes variáveis, o que garante previsibilidade na geração de caixa.

 “Quando são ajustados, normalmente são indexados à inflação, o que aumenta o fluxo de caixa das companhias no período”, enfatiza Alves, da Valor.

Sobre o autor
Julia Zillig
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