Fundos estão vendidos em VALE3, a ação mais recomendada da Bolsa; entenda
Não é aposta na queda das ações, mas uma operação de arbitragem para ganhos na diferença de cotação de papeis
Enquanto dez em dez analistas de ações recomendavam a mineradora Vale (VALE3) como uma oportunidade de começo de ano aos investidores, alguns fundos de ações entraram em 2022 vendidos no papel, o que significa dizer que, por meio de derivativos, eles apostavam na queda do ativo.
O movimento, captado por meio da equipe de dados da Mais Retorno, causa estranheza. Mas, em abril, o ranking de rentabilidade dos fundos mostra que a estratégia foi premiada.
Vendido em VALE3?
Causa estranheza apostar em uma trajetória negativa, em um cenário sem sinais mais consistentes de mudança, de uma ação que vem performando bem. Mas foi o que alguns fundos de ações fizeram com Vale.
Com o aumento do preço do minério de ferro, principal produto de exportação da Vale, pressionada pela retração na oferta com a guerra na Ucrânia, a VALE3 acumulou uma valorização de 22,50% no primeiro trimestre.
A perspectiva de que o segundo trimestre seguiria engatado com o fôlego do primeiro não desencorajou algumas gestoras a optar por uma posição vendida em ação da mineradora. Uma estratégia que renderia ganhos para os cotistas com a ação trafegando em terreno negativo.
A trajetória da Vale (VALE3) em abril, mês em que recuou 14%, premiou o time de gestores que adotaram essa estratégia e remaram na direção contrária à expectativa de alta, ideia que permeou as apostas de analistas no fim do primeiro trimestre.
Incertezas sobre a economia chinesa, com o país às voltas com novos surtos de covid-19 em algumas importantes regiões e possível queda na demanda pelo minério, deprimiram as ações da Vale (VALE3).
Quando a posição vendida não é uma aposta direcional
O Itaverá Long Biased Master Fundo de Investimento em Ações é um dos que chegaram ao fim de março posicionado com a carteira vendida em Vale (VALE3). À primeira vista, uma aposta na desvalorização da ação da mineradora. No fundo, um lance de estratégia do gestor.
“Essa posição vendida em Vale é contraparte de uma posição comprada em Bradespar (BRAP4). A estratégia consiste na compra de ação da Vale (VALE3) barata de um lado para vendê-la a preços de mercado, de outro, na expectativa de que a diferença entre os papeis das duas diminua.”
Rodrigo Magela, gestor-chefe da Itaverá Investimentos.
O fundo, nessa estratégia, está completamente casado nesse risco de commodities e de Vale. “Mas é uma posição agnóstica, sem nenhum tipo de valor ou de aposta em queda das ações.”
A Bradespar é uma holding que só tem ações da Vale (VALE3) em carteira e “nossa intenção nessa operação é capturar um fechamento no desconto que a Bradespar tem em relação à Vale”.
O gestor-chefe da Itaverá Investimentos diz que a estratégia dele com as ações da Vale, com foco na arbitragem entre dois ativos, é bastante comum no mercado.
Vários fundos estão 'vendidos' em Vale
Pedro Tiezzi, especialista da SVN Investimentos, afirma que o uso das ações da Vale para arbitragem é uma posição tática adotada por vários fundos do mercado, em posições long short, “uma estratégia de arbitragem em busca de lucro sem assumir muitos riscos”.
As gestoras podem ficar, por exemplo, short (vendida) em Vale por algum fator específico e long (comprada) em outros ativos do setor de commodities, explica Tiezzi.
Em termos práticos, para os especialistas, foi uma estratégia bem-sucedida para os fundos que apostaram na queda da Vale em abril. A mineradora sofreu com as incertezas em relação à economia chinesa, pela volta do surto de covid-19. Mas nem todas as commodities foram mal.
O setor de petróleo continuou com os preços em alta, impactado pela guerra na Ucrânia, e a valorização de Petrobras (PETR4) premiou os fundos long (posição comprada, torcendo pela alta) em Petrobras.
O especialista da SVN acredita que, de forma geral, a posição short em Vale não se traduz propriamente em uma aposta dos gestores em baixa de ação da mineradora, “mas uma posição tática para tentar aproveitar uma queda marginal de Vale frente ao setor como um todo”.
Desempenho da Vale
No gráfico abaixo é possível acompanhar o desempenho de Vale em comparação com o Ibovespa. O movimento desenhado por ambos guardam um certo paralelismo, só que as ações da minedora correm bem acima e com retorno superior à media de outros papeis que compõem o Ibovespa.
O estudo foi realizado com a ferramenta da Mais Retorno, o comparador de ativos. Para mais detalhes, veja aqui.
Somente na variação acumulada em maio e também no período de 12 meses, o Ibovespa apresenta um retorno superior ao dos papeis de Vale.
Como funciona e como se ganha com a arbitragem
Grosso modo, o ganho nessa estratégia long short é dado pela diferença de preços dos ativos da carteira. Um fundo que está comprado R$ 100 em um ativo e vendido R$ 100 em outro, por exemplo.
Se o ativo em que estiver comprado subir e em que estiver vendido cair (tiver acertado a mão no direcional), o gestor ganha nas duas pontas – na comprada, em que apostou na alta, e na vendida, pela queda.
Se o ativo em que estiver comprado cai e o que estiver vendido sobe, o resultado do jogo fica no zero a zero.
Mas, se o ativo em que estiver long (comprado) cair R$ 20 e o que estiver na posição short (vendida) recuar R$ 30, haverá um ganho de R$ 10 na operação – diferença entre a perda de R$ 20 no long e ganho de R$ 30 no short.
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