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Economia

Como o poder e os riscos da Ásia podem impactar os mercados globais

China é detentora das maiores reservas internacionais do planeta

Data de publicação:20/01/2022 às 00:30 -
Atualizado 2 anos atrás
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Há aproximadamente um ano atrás, o caso GameStop ganhava as manchetes. Naquela ocasião, o grande debate era se os pequenos investidores, influenciados pelas redes sociais, representavam uma força desestabilizadora nos mercados. Um episódio que pode ter tido menos influência do que o poder e os riscos vindos da Ásia.

Porém, tal como tantos outros modismos, esse também foi esquecido, conforme novos fatos se somaram ao caos que predominou em boa parte de 2021: falta de produtos por conta de problemas logísticos, aumento do preço de combustíveis fosseis e de energia, além de inflação alta e persistente.  

poder e riscos da Ásia
Ambientes regulatórios diferentes impedem a avaliação real dos riscos - Foto: Getty Images/iStockphoto

Com o aumento dos juros nos EUA já no radar, chegou o momento de se olhar para quem realmente pode impactar fortemente os mercados financeiros globais.

Poupadores por tradição

Desde que os bancos internacionais passaram a se submeter a regras prudenciais mais restritivas a partir da crise de 2008, é fato que cederam o lugar de protagonistas para outros agentes, como os fundos de pensão e as seguradoras.  Não por acaso, a grande quantidade de ativos internacionais detidos por ambos. 

Durante a última década, instituições financeiras como essas, localizadas na Ásia, avançaram rapidamente na sua expansão internacional muito em função de uma particularidade cultural: os asiáticos de um modo geral poupam bastante. Hoje, as estimativas giram em torno de uma poupança agregada de US$ 130 trilhões.

Esse movimento de internacionalização não é difícil de entender. Quando o mercado financeiro local é incapaz de absorver tantos recursos, é comum que se procure por alternativas no exterior, principalmente se elas oferecerem alguma proteção contra a inflação, como é o caso do financiamento de projetos de infraestrutura e de imóveis. 

Novos horizontes

Essa fórmula tende a dar certo. Como alocadores de longo prazo, seguradoras e fundos de pensão podem esperar pelo tempo necessário para que investimentos dessa natureza gerem frutos.

Porém, a estratégia não é infalível.  Depois de tantos anos de juros baixos, os títulos de dívida de empresas de maior risco (“high-yield”) atualmente remuneram a uma taxa menor que os títulos do tesouro dos EUA (Treasuries) de prazo equivalente pagavam pouco antes da crise de 2008.

A verdade é que, nessa busca por retornos diferenciados, esses investidores acabam se arriscando mais, dadas as metas atuariais que precisam atender (no caso dos fundos de pensão) ou a remuneração das reservas técnicas que precisam manter (no caso das seguradoras).

Uma vez nos mercados internacionais, essas instituições entram em um limbo jurídico, visto que as empresas que captam os recursos estão sob a supervisão de um regulador que não necessariamente oferece as mesmas garantias do regulador local.

Considerando a existência de diferentes ambientes regulatórios, como avaliar o risco de default ou até mesmo de liquidez, quando se leva em conta a questão cambial?

Novos investimentos

Crise cambial é um assunto que os asiáticos conhecem bem.

Com muitos países da região sofrendo as consequências da crise de 97, época em que abandonaram o câmbio fixo e todas as distorções que esse regime traz, não houve muito que pudessem fazer além de acumular reservas internacionais com o intuito de combater qualquer ataque especulativo.

Mas, desde então, uma proporção maior de investimentos estrangeiros detidos por investidores institucionais tem alterado essa composição. Se antes as reservas internacionais equivaliam a metade de tudo que um país tinha em termos de investimentos no exterior, hoje essa proporção é de 33%.

Essa mudança do fluxo financeiro da Ásia no mundo traz alguns desafios, a começar pelas características individuais de cada um. No caso de Hong Kong, Japão e Singapura, são mercados que, apesar da grande quantidade de reservas internacionais, possuem um estoque de ativos financeiros de 5 a 8 vezes maior.

Investimento de portfólio

Diferentemente da China, que optou por promover seus investimentos no exterior via a Belt and Road Initiative, as instituições financeiras dos demais países adquirem os títulos diretamente. Assim, casos como o de um banco japonês que compra papéis lastreados em empréstimos feitos nos EUA não são incomuns.

O mesmo pode ser dito sobre Coréia do Sul e Taiwan.  Apesar de terem aumentado as suas reservas significativamente, incrementaram também as suas carteiras de ativos financeiros emitidos no exterior. A grosso modo, pode-se dizer que 60% de tudo que as seguradoras sul-coreanas e taiwanesas possuem está fora de suas fronteiras.

Elas não estão sozinhas.  Planos de aposentadoria patrocinados pelos seus próprios governos possuem poucas amarras para esse tipo de investimento, o que por si só mantém a demanda elevada.

Novos riscos

O fato de determinados países da região já não se concentrarem mais apenas na defesa de suas respectivas moedas diz muito sobre os riscos que acumularam ao longo dos anos.  Entre eles, o fato de suas instituições financeiras fazerem hedge parcial de sua exposição internacional. 

Além disso, ativos menos líquidos, mas que remuneram a taxas maiores, se transformam em um verdadeiro problema na hora de girar carteiras tão grandes.

China

Ainda que esse mercado seja enorme, suas seguradoras merecem destaque por outros motivos.

Um dos setores de maior crescimento, o mercado de seguros chinês não se limita à simples venda de apólices.  Durante anos, seus corretores ganharam fartas comissões negociando produtos financeiros de maior risco. 

A extravagância era tanta que os prêmios recebidos pelas seguradoras eram usados para comprar ativos disputados no exterior. Apesar de um recente controle por parte das autoridades, a verdade é que o notável empreendedorismo chinês alimenta a criação de novos produtos financeiros, gerando outros problemas.

Conclusão

Fundos de pensão e seguradoras movimentam grandes volumes financeiros, por mais que exista uma enorme quantidade de pessoas físicas investindo por conta própria.

Entender os riscos decorrentes de uma maior participação desses agentes no mercado internacional é importante, principalmente quando se leva em conta a grande propensão à poupança presente nas culturas orientais.

Ao contrário do Bank for International Settlements (BIS), que faz um levantamento extensivo do setor bancário, não há nenhuma entidade internacional responsável por compilar dados sobre as negociações de ativos financeiros que ocorrem entre fronteiras.

Ainda que restrito a um grupo de países, isso pode ter implicações relevantes se a China, detentora das maiores reservas internacionais do planeta, resolver seguir pelo mesmo caminho.

Sobre o autor
Nohad Harati
Possui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.

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