Mercado está atento ao PIB americano, inflação interna e fala de Powell nesta semana
Informações poderão dar pistas sobre o rumo dos juros, aqui e no exterior
O mercado financeiro inicia a semana que praticamente fecha o mês (fica mantido um rabicho, dia 31, para a outra) nesta segunda-feira, 24, com o mercado internacional adotando um pouco de cautela com alguns assuntos na pauta de monitoramento, como o PIB americano do quarto trimestre, taxa de juros e crise política entre Rússia e Ucrânia. Já no ambiente interno, as atenções se voltam para a inflação e Orçamento 2022.
As bolsas asiáticas fecharam sem direção única, enquanto os futuros americanos operam mistos, com os investidores se preparando para a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de confirmar que em breve começará a drenar parte da enxurrada de liquidez que vem sobrecarregando o mercado de ações nos últimos anos.
Por aqui, andando mais com as próprias pernas e descolada das bolsas americanas, a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, encerrou a semana passada com valorização acumulada acima de 6% nas duas últimas semanas.
O fechamento negativo de sexta-feira, 21, com queda residual de 0,15%, foi visto pelos especialistas mais como reflexo do vencimento de exercício de opções, evento que provoca uma queda de braço entre investidores que ganham com a alta e os que se beneficiam da baixa das ações. O resultado foi considerado empate, já que os que ganham com a baixa estavam em desvantagem em uma semana mais positiva na B3.
Mercado de olho nas commodities
A dúvida é saber se o mercado doméstico continuará com fôlego próprio, contando com um desempenho mais positivo das commodities, como minério de ferro e petróleo, no exterior, o que beneficia ações de empresas exportadoras bastante representativas no Ibovespa, como Vale e Petrobras.
A alta das commodities tem sido um fator de sustentação da bolsa, que parece beneficiada também por um movimento de rotação de ações, com parte dos investidores migrando para papeis de empresas de varejo.
Esse segmento ganhou certo alento nos últimos dias com as notícias pouco mais animadoras sobre a inflação e a queda dos juros futuros de períodos mais curtos, o que seria indicação de que os especialistas estão mais confiantes nos efeitos da política monetária dura do Banco Central (BC).
Está mantida, por enquanto, a expectativa de que a Selic suba mais 1,50 ponto porcentual, como já sinalizado pelo BC, na próxima semana, em 2 de fevereiro, no fim da reunião de dois dias do Copom (Comitê de Política Monetária), que começa dia 1º.
A expectativa é que, após essa reunião, o BC venha a abrandar a calibragem de aumento da Selic à luz de uma perspectiva de desaceleração mais acentuada da inflação.
Inflação e PIB na agenda do mercado
Um indicador importante é a prévia de inflação de janeiro, medida pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), que o IBGE divulga nesta quarta-feira, 26. Nesta segunda-feira, investidores e gestores vão conferir os novos dados de inflação estimados por economistas do mercado que serão conhecidos com a divulgação do boletim Focus.
Também na quarta-feira, o mercado deve acompanhar com atenção a entrevista coletiva de Jerome Powell, presidente do banco central americano, em busca de pistas sobre a condução da política monetária nos EUA.
Na quinta, 27, será conhecido o PIB do 4º trimestre, cuja expectativa do mercado é de um crescimento anualizado de 5,4%. Uma variação positiva acima do esperado vai reforçar a perspectiva de aperto monetário ainda mais acentuado e mais cedo. Expectativas de elevação de juros continuam deprimindo o mercado de ações local.
A intenção do presidente Jair Bolsonaro de incluir o ICMS em possível PEC (Proposta de Emenda Constitucional), em discussão com parlamentares, para reduzir o preço de combustíveis e de energia elétrica deve ser monitorada pelo mercado. Sem o risco de, no atual estágio, mexer com o humor dos investidores, segundo especialistas.
Ambiente interno: Bolsonaro sanciona o Orçamento 2022
No Brasil, a semana inicia com o presidente Jair Bolsonaro sancionando o Orçamento 2022 no dia anterior. No entanto, o Palácio do Planalto não confirmou o tamanho dos vetos e as despesas cortadas no ato da sanção. A decisão deverá ser publicada durante a manhã desta segunda-feira no Diário Oficial da União (DOU).
De acordo com a Secretaria Geral da Presidência, Bolsonaro deicidu vetar parte dos gastos aprovados no Orçamento para ajustar as verbas destinadas a despesas de pessoal e encargos sociais, sem especificar o valor. Com isso, o governo precisará pedir ao Congresso um acréscimo nessas despesas ao longo do ano.
No sábado, 22, Bolsonaro anunciou que os vetos totalizam R$ 2,8 bilhões. Os cortes devem atingir emendas aprovadas por comissões do Congresso e recursos sob controle dos ministérios. A decisão do Planalto é blindar as verbas do orçamento secreto, calculado em R$ 16,48 bilhões, e o fundo eleitoral, de R$ 4,96 bilhões neste ano.
O tamanho dos cortes deve ficar menor do que o sugerido pelo Ministério da Economia, que apontou a necessidade de recompor R$ 9 bilhões em despesas obrigatórias neste ano.
A tendência é que o presidente sancione a verba negociada para reajustar o salário de policiais federais, apesar da reação de outras categorias, em um total de R$ 1,7 bilhão. A articulação provocou reação de outros setores do funcionalismo público federal, que começaram a abandonar cargos e também pressionar por revisões salariais.
Técnicos e parlamentares esperam que o presidente deixe a decisão em "banho-maria", enquanto consolida um apoio maior para efetivar o aumento aos policiais.
Exterior
Nova York: crise entre Rússia e Ucrânia, taxa de juros e balanços
Apesar de estarem mais otimistas, em Wall Street, o mercado segue cauteloso e preocupado com o possível ataque russo à Ucrânia, com o Departamento de Estado dos Estados Unidos retirando membros de sua família de sua embaixada em Kiev.
Segundo informações do New York Times, o presidente Joe Biden estava considerando enviar milhares de tropas dos EUA para aliados da Otan na Europa, juntamente com navios de guerra e aeronaves.
Sobre o aumento da taxa de juros do país, os mercados tentam precificar uma pequena chance de o Fed aumentar suas taxas essa semana, embora a expectativa esmagadora seja de um primeiro movimento para 0,25% em março e mais três aumentos, totalizando 1,0% até o fim do ano.
A perspectiva por custos de empréstimos mais altos e rendimentos de títulos mais atraentes vem afetando diretamente as ações de tecnologia, deixando o índice Nasdaq com queda de 12% no ano, enquanto o S&P soma baixa de quase 8%.
Além disso, a temporada de balanços segue em andamento e entre as empresas que relatam lucros nesta semana estão a IBM, Microsoft, Johnson &Johnson, Tesla e Apple. Espera-se que um quinto das empresas que compõem o S&P 500 forneçam seus números trimestrais nesta semana.
Futuros/bolsas americanas
- S&P 500: - 0,17%
- Dow Jones: - 0,13%
- Nasdaq 100: + 0,77% (atualizado às 8h17)
Europa: PMI no radar
No continente, hoje é dia de divulgação de dados referentes ao índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) de vários países e também da zona do euro. No bloco, o PMI caiu de 53,3 em dezembro para 52,4 em janeiro, atingindo o menor nível em 11 meses, segundo dados preliminares divulgados pela IHS Markit.
Apesar da queda, o resultado acima da marca de 50 indica que a atividade do bloco segue se expandindo neste mês, ainda que em um ritmo mais contido. A prévia de janeiro, no entanto, ficou abaixo da expectativa dos analistas, que previam recuo a 52,7.
O indicador geral foi afetado pelo PMI de serviços do bloco, que diminuiu de 53,1 em dezembro para 51,2 em janeiro, tocando o menor patamar em nove meses. Neste caso, a projeção era de declínio menor, a 52.
O PMI industrial, por outro lado, subiu de 58 para 59 no mesmo período, alcançando o maior nível em cinco meses. O consenso do mercado era de queda a 57,5.
Na Alemanha, o PMI subiu de 49,9 em dezembro para 54,3 em janeiro, atingindo o maior nível em quatro meses. No Reino Unido, o índice de gerentes de compras recuou de 53,6 em dezembro para 53,4 em janeiro, atingindo o menor patamar em 11 meses. A prévia de janeiro decepcionou analistas, que previam alta do indicador a 54,3.
Bolsas europeias/principais praças
- Stoxx 600 (Europa): - 1,93%
- FTSE 100 (Londres): - 1,09%
- DAX (Frankfurt): - 1,68%
- CAC 40 (Paris): - 1,59% (dados atualizados às 8h19)
Ásia: bolsas fecham sem direção única com Fed
As bolsas da Ásia e do Pacífico fecharam sem direção única nesta segunda-feira, após uma semana de robustas perdas em Nova York e na expectativa para a decisão de política monetária do Fed. / com Júlia Zillig e Agência Estado
Fechamento/bolsas asiáticas
- Nikkei (Tóquio): + 0,,24% (27.588 pontos)
- Hang Seng (Hong Kong): - 1,24% (24.656 pontos)
- Kospi (Seul): - 1,49% (2.792 pontos, menor nível em 13 meses)
- Taiex (Taiwan): + 0,50% (17.989 pontos)
- Xangai Composto (China continental): + 0,04% (3.524 pontos)
- Shenzhen Composto (China continental): + 0,19% (2.392 pontos)
- S&P/ASX 200 (Sydnei): - 0,51% (7.139 pontos)