Com ações descontadas, B3 atrai investidor estrangeiro, descola do exterior e sobe mais de 6% em duas semanas
Valorização das commodities sustentou a alta do Índice Bovespa na semana
O mercado doméstico de ações fecha a semana chamando a atenção de analistas e investidores mais atentos para dois fatos. O primeiro para o comportamento descolado da Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, em relação às bolsas americanas e o segundo, até como consequência do primeiro, para a emenda de duas semanas consecutivas de valorização que chegou a 6,06%.
Embora tenha fechado o pregão de sexta-feira com ligeira queda de 0,15%, em 108.942 pontos, a B3 encerrou a semana com valorização acumulada de 1,88% - que se soma à performance positiva na semana anterior, quando sustentou alta de 4,10%.
A B3 não engatava duas semanas seguidas de valorização desde o fim do ano passado, a semana entre 28 de novembro e 10 de dezembro – na primeira semana desse período subiu 2,78% e na segunda, 2,56%.
Especialistas atribuem parte dessa emenda de duas semanas positivas ao descolamento do mercado doméstico de ações das bolsas americanas.
Gustavo Bertotti, head de Renda Variável da Messem Investimentos, diz que as bolsas dos Estados Unidos sofrem ainda com “um cenário de preocupações com a inflação, com o que o Fed (Federal Reserve, banco central americano) pode fazer com juros e o impacto disso sobre os mercados”.
Bertotti afirma que nesse ambiente as empresas de tecnologia são as mais afetadas, o que se reflete nas fortes quedas do índice Nasdaq. “São companhias mais sensíveis ao aperto na política monetária, porque são as que mais dependem de credito”, para tocar negócios e ampliar projetos.
Contrastando com o clima de preocupação com inflação e juros nos EUA, o mercado doméstico de ações teve uma semana de agenda mais fraca, internamente, e alguns alentos, como a valorização das commodities, como minério de ferro e petróleo, o que favorece as ações de Vale e de Petrobras, exportadoras desses insumos, com forte peso no Ibovespa.
Alta das commodities sustentou a valorização na B3
A tonelada do minério de ferro subiu em torno de 9,30% nos últimos cinco dias, para cerca de US$ 137, 30, e impulsionou valorização de ações da Vale, com alta de pouco mais de 9% acumulada no ano. A Petrobras, beneficiada pela alta do petróleo, avança pouco mais de 11%.
Rodrigo Moliterno, head de Renda Variável da Veedha Investimentos, atribui o momento positivo a um realinhamento do mercado em função do grande desconto existente em ações brasileiras na comparação com os preços de papeis de outras bolsas.
“A preocupação com os juros americanos somada à percepção de que as ações brasileiras estão atrasadas atraiu o investidor estrangeiro para o Brasil”, um movimento que começou pelas ações de empresas de commodities e se estende agora por outros setores, como o varejista, com a queda dos juros futuros.
Influencia o comportamento distinto da bolsa brasileira em relação às demais também a forte participação do investidor estrangeiro na compra de ações no mercado doméstico. Uma inciativa que contrasta com as vendas de investidores locais, sobretudo os institucionais, como fundos de pensão, de ações e multimercado.
Dados da B3 apontam que as compras de capital externo têm sido crescentes e continuam. Pelo menos nos dias inicias desta semana. Na segunda-feira, 17, a B3 registrou um volume de fluxo de capital externo de R$ 970,8 milhões; na terça, 18, de R$ 1,04 bilhão, e na quarta, 19, de R$ 1,54 bilhão. No ano, até dia 19, o volume total de ingresso de capital externo para a compra de ações na B3 soma R$ 15,55 bilhões.
Nesses mesmos 19 dias do ano, os investidores institucionais tiveram participação negativa (vendas) de R$ 14,67 bilhões e os investidores pessoas físicas, R$ 2,58 bilhões, também negativos.