O que os investidores podem esperar do dólar a R$ 5,20?
Moeda americana vem caindo com o aumento do fluxo estrangeiro na Bolsa no início do ano
Neste ano, estamos vendo o Dollar Index subir e a relação do dólar ante o real cair, abrindo fortemente a diferença entre as linhas do gráfico abaixo.
Desde o mês de novembro passado, eu venho comentando sobe a dificuldade de ficar comprado, pagando algo em torno de R$ 0,04 ao mês com o dólar em um patamar muito elevado – R$ 5,70.
A queda de até R$ 5,40 era uma tendência razoável de se apostar. Porém, o fluxo de entrada de dólares no Brasil nos primeiros 45 dias do ano foi muito acima do esperado, gerando esse forte movimento de baixa.
O gráfico abaixo mostra as cotações de fechamento semanal das moedas (dados atualizados até 14 de fevereiro):
Fatores externos: movimentos do Fed
O DXY segue em tendência de alta e há três aspectos que sugerem que o dólar deverá seguir forte no mundo por mais alguns meses. A seguir:
- O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) reduziu em mais de 70% o volume de compras de títulos. Entre meados de fevereiro e março comprará mais U$30 bilhões e encerrará logo depois o seu programa “quantitative easing” (compra de títulos dos bancos, que injeta dólares no mercado).
- A autoridade monetária irá subir os juros em sua reunião de política monetária no próximo dia 16 em 0,25% - há apostas de alta de 0,50%, mas que não devem se confirmar. Além disso, divulgará novas projeções, incluindo os juros. No momento, o Fed prevê três altas em 2022 e patamar de 2,50% no longo prazo. Acredito que o mais relevante é que os juros de longo prazo projetados são baixos e será importante seguirem em 2,50%. Comentamos isso há meses e somos quase os únicos que apoiam essa tese.
- O Fed deve começar a colocar em prática o “quantitative tightening” no meio do ano, retirando inicialmente algo em torno de US$ 50 a US$ 60 bilhões ao mês. Isso será uma reversão dramática, pois entre o início da pandemia até novembro do ano passado, o BC americano injetou U$110 bilhões ao mês no mercado.
Fatores internos: fluxo de capital estrangeiro na Bolsa
Os estrangeiros injetaram em torno de US$ 9 bilhões no mercado financeiro brasileiro nos primeiros 45 dias do ano - foi muito mais do que o volume esperado. Como consequência, a posição comprada dos estrangeiros em dólares na B3 caiu 25% (U$7,5 bilhões, considerando os contratos grandes de dólar e de cupom cambial) e isso foi fundamental para a valorização do real.
O movimento de queda do dólar ante o real lembra o cenário ocorrido na posse do ex-presidente Michel Temer – os juros estavam no patamar de 14,25% ao ano e a inflação desancorada, em torno de 11%. Com a troca da equipe econômica, a inflação recuou rapidamente e os juros reais subiram de quase zero para 7%, derrubando o dólar.
É mais ou menos isso o que está ocorrendo atualmente – a inflação futura está entre 5% e 6% e os juros pré-fixados estão em 12%, com o juro real em torno de 6%. Se vocês acessarem minhas colunas anteriores, notarão que era um movimento que eu já estava esperando, mas demorou para acontecer.
Naturalmente que não há troca de governo ou de equipe econômica neste momento, porém, a analogia está ligada ao rápido avanço dos juros reais e consequente queda do dólar.
É importante comentar que os investidores nacionais e internacionais entendem que a eleição será entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva, com pouco espaço para a terceira via se firmar. Lula deve confirmar Geraldo Alckmin como seu vice.
Bolsonaro luta pela reeleição, mas tem a inflação, desemprego e pandemia jogando contra sua candidatura. Nenhum dos dois candidatos indicaram os possíveis ministros da Economia. Caso Bolsonaro ganhe a disputa, parece que Paulo Guedes não deve continuar no cargo.
Com isso, o risco de volatilidade está basicamente na composição da equipe, que inclui a formação da chapa e os partidos que apoiam a candidatura.
Em resumo, o cenário externo favorece a alta do dólar, porém o interno tende a forçar o dólar para baixo devido ao fluxo de capital estrangeiro. A pergunta que eu faço é: até quando esse movimento deve continuar?
Próximos eventos relevantes:
- 01/03 – PMI industrial (EUA, China e Europa)
- 04/03 – Payroll (EUA) e PIB 2021 (Brasil)
- 10/03 – inflação ao consumidor dos EUA (CPI, na sigla em inglês)
- 11/03 – IPCA (Brasil)
- 16/03 – Copom e Fomc (novas projeções) – Super Quarta
Caminhos para o dólar ante o real
Os juros reais no Brasil voltaram a ser positivos e podem fechar o ano no patamar de 5%. Por outro lado, os juros dos títulos de 10 anos dos Estados Unidos estão em sua taxa real mais negativa desde 1951. Esse diferencial é favorável à nossa moeda.
Abaixo dois gráficos para auxiliar a compreensão da queda do dólar ante o real
Na minha última coluna, pontuei que o range oscilatório provável para o câmbio seria entre R$ 5,25 e R$ 5,65. O grande problema de fazer projeções é que, às vezes, elas podem durar menos do que se espera.
Pelo modelo da Wagner Investimentos, o dólar ante o real ainda não rompeu definitivamente o piso do range e este ainda pode ser válido. Porém, caso rompa o fechamento da semana passada, de R$ 5,25, o primeiro alvo será a região entre R$ 5,00 e R$ 5,10.
Ainda é muito cedo para apostar em uma queda contínua do dólar sobre o real, em meio ao início do aperto monetário dos Estados Unidos. E, por mais que as eleições no Brasil tragam, provavelmente, menos volatilidade, isso não significa que não pode haver surpresas, principalmente quanto aos nomes da Economia.
Desejo a todos uma ótima semana e bons negócios!
*Este artigo não reproduz necessariamente a opinião do portal Mais Retorno.