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Inflação dos EUA sobe 1,2% em março ante fevereiro e atinge maior salto anual desde 1981
Economia

Por que o Dollar Index é motivo de atenção neste momento? Entenda

Se o DXY continuar subindo, moeda americana ante o real pode voltar para os R$ 5,30 – ou mais

Data de publicação:14/07/2021 às 08:45 -
Atualizado 3 anos atrás
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Nas duas últimas colunas comentamos sobre a dificuldade de o dólar em relação ao real ser negociado abaixo de R$4,90 e da chance de ficar no range R$4,90 e R$5,20. Por enquanto, o câmbio tem respeitado esse intervalo, apesar de ter ficado alguns dias acima de R$5,20.

Observe que se o DXY (Dollar Index) continuar subindo, a moeda americana sobre o real poderá retornar para o patamar de R$5,30, ou ainda mais alto.

Foto: Envato
Dólar sobre o real pode subir para o patamar de R$ 5,30 - Foto: Envato

É muito difícil nossa moeda performar muito melhor do que o dólar no mundo. Apostar no aumento da distância destas linhas do gráfico acima (DXY subir e o dólar perante o real cair) é arriscado. O gráfico abaixo é semanal e compara a variação da moeda americana ante o real e do DXY:

Fonte: Wagner Investimentos

CPI (Consumer Price Index), a inflação americana

O CPI não é a métrica de inflação utilizada pelo Fed para as tomadas de decisão de política monetária. O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) utiliza o PCE ( confira nossa última coluna).  

Mas o CPI é divulgado aproximadamente duas semanas antes do PCE e, no longo prazo, os números são semelhantes, sendo ambos assim bem relevantes.

A tabela abaixo mostra a variação mensal e é elaborada pelo Fed de Cleveland e pode ser facilmente acessada aqui.

  • CPI: variação da inflação.
  • CPI less food and energy (ou CPI core): retira da inflação os itens mais voláteis como alimentos e energia. É uma forma muito tradicional de medir a variação de preços nos Estados Unidos, zona do euro e em outros países.
  • 16% trimmed-mean CPI: ordena todos os itens que compõem o índice de forma crescente e retira os 8% que menos subiram e os 8% que mais subiram, deixando o índice menos sensível às variações mais extremas de preço - seja variação para baixo (inclusive deflação) ou variação para cima. Traduzindo, é uma “média aparada".
  • Median CPI: ordena todos os itens que compõem o índice de forma crescente (da menor variação para a maior variação) e pega a variação do item do meio da série - em estatística é a mediana.
  • Exemplo: suponha que o CPI tenha 200 itens (entre produtos e serviços). A mediana da série (o ponto do meio) é a variação de preço do item ordenado 100 (na verdade, a média entre a variação do 100 e do 101).

Observe que o median CPI e o 16% trimmed-mean CPI ainda sugerem que a inflação pode ser transitória. O gráfico abaixo mostra a variação anual da inflação por estas quatro medidas:

Na série anual, o median CPI está em 2,2%, ainda dentro do razoável, mas o CPI com média aparada está em 2,9%, indicando uma aceleração da disseminação da alta de preços, o que dificulta a defesa da tese de inflação provisória.

Em resumo, o que ainda sugere que a inflação pode ser transitória:

  • As medidas de inflação que focam no interior da distribuição de variação de preços (mediana e média aparada) ainda estão em níveis aceitáveis.
  • O aumento nos preços dos carros e caminhões usados (10,5%) e dos carros novos (2,0%) foi responsável por quase a metade da inflação mensal do core CPI. Há falta de peças, principalmente de eletrônicos. A solução ocorrerá quando as cadeias produtivas voltarem ao normal e o PMI da indústria é um bom índice para observar isto.
  • Nos próximos dois ou três meses será importante ocorrer uma queda nos preços dos carros usados e também será importante observar como os preços dos alugueis irá se comportar, ainda mais após o fim da lei que impedia os despejos na pandemia.

A inflação está mais disseminada e este será o grande desafio para o Fed, e talvez Jerome Powell acenda uma luz para nós nas próximas horas.

Próximos eventos relevantes

  • 14 e 15 de julho – Jerome Powell, presidente do Fed, faz apresentação semestral no Congresso.
  • 22 de julho – Reunião do BCE
  • 28 de julho – Reunião do Fomc
  • 29 de julho – 1ª prévia do PIB dos EUA do 2º trimestre
  • 30 de julho – PCE, a “inflação do Fed”
  • 01 de agosto – PMI da indústria (EUA, Europa e China)
  • 04 de agosto – Reunião do Copom
  • 06 de agosto – Payroll (relatório de emprego dos EUA)
  • 11 de agosto – CPI (EUA)
  • Final de agosto: Simpósio Jackson Hole, organizado pelo Fed de Kansas City. O evento foi palco diversas vezes de importantes discursos de política monetária. (https://www.kansascityfed.org/research/jackson-hole-economic-symposium/economic-symposium-conference-proceedings/)

Caminhos para o dólar ante o real

O Dollar Index está no seu gatilho de reversão da tendência de longo prazo (semanal), segundo o modelo da Wagner Investimentos. A linha de cinza é o gatilho (destacado na cor roxa) e observe como está sendo testado há 5 semanas, desde a última reunião do Fomc:

Caso ocorra a reversão, que não é algo trivial, o DXY pode subir para a região de 95, ou seja, obter mais 2,5% de alta. Pode parecer pouco, mas não é.

O efeito pode ser elevar a cotação da moeda americana contra o real para R$5,30 ou até mesmo ao redor de R$5,40. Na semana passada observamos a atuação do Banco Central quando o dólar atingiu R$5,32, fato que sugere que a autoridade monetária não deseja um dólar muito forte.

Apesar da possibilidade de uma reversão de tendência, acreditamos que o DXY não deverá subir muito por dois motivos: o déficit em conta corrente e o déficit fiscal dos EUA serão muito elevados nos próximos anos, fato que pesa na moeda. E para apostar em favor do dólar, deve-se apostar contra as commodities, e estas não devem cair muito.

Assim, o intervalo entre 90 e 95 no DXY seria razoável e possível. Isto mudaria um pouco a dinâmica dos mercados, mas não ao ponto de gerar uma onda de valorização do dólar ou uma alta súbita das taxas de juros das Treasuries de 10 anos.

Atenção: os mercados podem surpreender e mudar de tendência rapidamente e este texto não tem caráter de recomendação! É apenas uma coluna para deixar os leitores do portal Mais Retorno bem informados, mostrando quais são os eventos macroeconômicos relevantes, como interpretá-los e como atuam na cotação do câmbio.

No caso do Brasil, entendemos que o ambiente interno não está tão ruim como muitas vezes imaginamos - há muito ruído e isto atrapalha a interpretação dos fatos.

A CPI da Covid está montando um dossiê contra Bolsonaro, mas não deve ocorrer nada de prático contra o presidente. A taxa de juros Selic subirá no dia 04 de agosto e ficará acima da inflação futura, algo que não víamos há tempos.

Deveremos ter um superávit em conta corrente este ano e aprovação de reformas. A relação dívida e PIB está em torno de 85%, nível muito melhor do que projetado no início do ano.

O que ainda falta nesta equação é o fluxo de entrada, mas acreditamos que voltará em meio aos grandes projetos de infraestrutura, emissão de ações no Ibovespa e privatizações - Eletrobras e Correios.

Além disto, é importante lembrar que a vacinação no Brasil avança rapidamente: 60% dos paulistas tomaram ao menos uma dose da vacina e em torno de 60% dos adultos do Brasil receberão ao menos uma dose da vacina até o final de julho!

Observe no gráfico abaixo que o modelo deu duas sugestões perfeitas: a cotação bateu a linha indicativa de pausa do movimento (linha verde a R$4,90) e o dólar subiu até a linha da concentração de longo prazo (linha marrom a R$5,32, por coincidência o mesmo nível que o BC atuou semana passada no mercado).

Seguimos otimistas nos próximos meses em relação à nossa moeda. O modelo indica tendência de baixa do dólar contra o real e a depreciação do real nos últimos dias não é um fenômeno local, mas sim global.

Desejo a todos uma ótima semana e bons negócios!

* Este artigo não representa necessariamente a opinião do portal Mais Retorno.

Sobre o autor
Jose Faria Júnior
José Raymundo de Faria Júnior é economista graduado pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e mestre em Administração pela Fecap. Sócio desde 2006 da Wagner Investimentos, possui as certificações financeiras CFP®️, CNPI, CGA e é Consultor de Valores Mobiliários.
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