Há consenso no mercado sobre Selic a 12,75%, mas pairam dúvidas sobre novos ajustes da taxa em junho
Pela inflação que se mostra persistente e em níveis elevados, maioria dos analistas espera por mais um ajuste em junho
O mercado financeiro considera "favas contadas" o aumento de 100 pontos-base na Selic na reunião desta quarta-feira do Comitê de Política Monetária, elevando a taxa para 12,75% ao ano.
Principalmente porque houve um recado nessa direção tanto no comunicado como na ata da reunião passada, e também porque a informação foi reiterada pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em eventos.
Algo diferente disso poderia surpreender os investidores e analistas, inclusive porque a Selic de 12,75% já está precificada em diversos ativos. Por isso, as atenções agora se voltam para a indicação a ser dada pelo Copom sobre os próximos passos da política monetária. O interesse maior é saber se os juros continuarão subindo ou se o ciclo de alta se encerra este mês.
As pistas deverão ser encontradas em comunicado a ser divulgado logo após o término do encontro. E é nisso que o mercado está de olho e há alguma divergência entre os especialistas. A maioria espera por novos aumentos da taxa, pelo menos, mais um em junho, fazendo a Selic superar os 13% ao ano.
Inflação persistente pressiona a Selic
Para Adriano Rondelli, especialista da Valor Investimentos, embora a expectativa deixada pela última ata do Copom tenha sido de que o reajuste do juro agora em maio seria o último, isso acabou ficando só na possibilidade.
"O mercado está com uma inflação mais alta do que o esperado, tem a guerra na Ucrânia, que está longe de ser resolvida, além do aumento dos juros dos EUA", avalia Rondelli.
"O que está mais valendo é olhar a ata e as sinalizações para a próxima reunião para ver se teremos um guidance sobre se vai subir mais 0,5 ponto porcentual ou não na Selic".
Adriano Rondelli, da Valor Investimentos
Mais um reajuste do juro em junho
Gustavo Sung, economista-chefe do Suno Research, também aposta na continuidade de alta dos juros, com encerramento da temporada em junho. “A tendência é de uma Selic mais próxima de 13,50% ao ano, a depender do cenário de inflação.”
O economista da Suno vai além e coloca ainda duas dúvidas, alimentadas por um cenário inflacionário que não está dando trégua.
“Ainda vemos pressão vinda do mercado de commodities, diante da extensão do conflito entre Ucrânia e Rússia, dos reajustes dos combustíveis e alta dos alimentos.”
Gustavo Sung, da Suno Investimentos
Ele avalia que a redução da bandeira tarifária na conta de luz, a partir deste mês, pode trazer alívio à inflação nos próximos meses. Esse é um ponto. Outro é o tempo de diluição de todos os choques externos e domésticos sobre a inflação, comenta.
Há questões que incomodam e alimentam incertezas, “mesmo quando as coisas se acalmarem”, segundo Sung. “Será que não teremos uma inércia inflacionária?” Será que o atual patamar da Selic será suficiente para a inflação caminhar para a meta?”, indaga. “Hoje, é difícil saber a resposta.” As expectativas para o IPCA de 2023 e 2024 estão acima da meta do BC.
A inércia inflacionária é um mecanismo que consiste no repasse automático da inflação passada aos preços futuros. Um risco que aumenta em uma economia ainda bastante indexada, como a brasileira, quando a inflação chega a patamares elevados, como agora, segundo especialistas.
“O Banco Central precisará ter uma comunicação adequada para não desancorar, no curto prazo, as expectativas dos agentes quanto à inflação no médio e longo prazos”, alerta o economista-chefe do Suno Research.
O professor de Economia da ESPM/RJ, João Branco, lembra que algumas pesquisas já mostram que a inflação está começando devagar a arrefecer, apontando que já tenha passado o pior. "No entanto, temos um cenário de afastamento da meta projetado ainda para 2023 e 2024, de acordo com o Focus."
Preocupação com a meta de inflação
Para Bruno Martins, gestor de renda fixa e crédito privado da Warren Investimentos acredita que haverá aumento de 1% na Selic, cujo índice já é consenso de mercado sem causar surpresa.
"Se o Bacen fosse agir de forma diferente, é bem provável que ele já tivesse sinalizado alguma coisa para o mercado. O importante é olhar o resto do horizonte, principalmente para 2023, dado que a gente tem uma defasagem na política monetária, agora o Bacen só consegue atuar sobre 2023".
Bruno Martins, da Warren Investimentos
Martins ressalta que estourar o teto da meta pelo terceiro ano consecutivo ia ser muito temeroso em termos de credibilidade. O último Focus já aponta a inflação para 2023 em 4,1%, com o teto de 4,75%, sinalizando que há pouco espaço de manobra aqui.
E também partindo do pressuposto que haverá estouro da meta em 2022, dado que o teto é de 5% e a inflação está rodando em torno de 7%.
A Selic e a renda fixa
É importante observar como será o tom adotado após a reunião em relação ao próximo aumento da Selic, ressalta Bruna Centeno, especialista de renda fixa, da Blue3.
"Como estamos vivendo uma pressão inflacionária muito grande, é possível que o aumento de junho vem perto de 0,5% a 1%," afirma. E essa sinalização é que poderá ter reflexos na curva de juros impactando o rendimento das aplicações em renda fixa.
A curva de juros que mede a expectativa das instituições financeiras, dos bancos como um todo, já estava precificando essa alta de 12,75%, enfatiza Bruna. "Isso já era um consenso de mercado e ele já se antecipa a essas decisões, colocando suas expectativas e previsões".
Se for observado o movimento da curva de juros, isso já é esperado para essa reunião. "Dentro de renda fixa, a gente não tem nenhum impacto e a posição do investidor pode permanecer, alocando na parte de inflação, título pré e pós. Os setores continuam atrativos e a arbitragem vai trabalhar em cima desse valor que já estava precificado na curva de juros".
Da mesma opinião, de que a elevação da Selic para 12,75% deve ter pouco impacto na renda fixa, compartilha Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.
"O que pode vir a fazer preço é uma sinalização clara de que deveremos ter uma nova alta em junho, ou não. O grande assunto que divide o mercado é que o BC, no último comunicado, sinalizou que poderia encerrar o ciclo de alta agora em maio e reiterou essa posição algumas vezes ao longo do mês de abril".
Victor Beyruti - Guide Investimentos
No entanto, ele ressalva, dado ao nível de preços e da inflação bem disseminada e apontando para uma persistência maior, além da piora do quadro de emergentes, com o real perdendo bastante fôlego, tudo isso pode fazer com que o BC tenha que subir os juros novamente, analisa o economista.
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