Mercado ao vivo: Bolsa vira à tarde e opera em queda; inflação e PEC seguem no radar dos investidores
Investidores seguem atentos à PEC dos Precatórios e refletindo as novas projeções econômicas para o País
Após iniciar com alta superior a 1%, puxada pelo avanço de mais de 7% da Vale, com a alta no preço do minério de ferro na China, e de mais de 2% da Petrobras, que anunciou o pagamento de proventos parrudos para os investidores - R$ 2,19 por ação ON e PN e de R$ 1,05 de Juros sobre Capital Próprio (JCP), a Bolsa de Valore inverteu o sinal, no meio da tarde e passou a devolver a valorização.
Houve uma nova piora nas projeções econômicas, sobretudo nos números da inflação, divulgadas durante a manhã no Boletim Focus, do Banco Central. A falta de definição sobre a PEC dos Precatórios, com novos ruídos no Senado, também pesa no mercado. Às 16h30, o Ibovespa caía subia 0,52% aos 102.574. O dólar também opera em queda, com desvalorização de 0,31%, cotado a R$ 5,5926.
Durante a manhã, o Banco Central divulgou a edição atualizada do Boletim Focus, que traz as estimativas dos economistas do mercado para os principais indicadores econômicos do País. Pela primeira vez este ano, as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiram os dois dígitos – de 9,77%, nos últimos sete dias, subiram para 10,12%, ante 8,96% há um mês.
Pela 33ª vez consecutiva, os especialistas elevam suas estimativas para a inflação, afastando-as cada vez mais do centro da meta de 3,25%, com 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo. O ciclo atual de ajustes positivos teve início em 9 de abril deste ano, quando as projeções subiram para 4,85% - ante 4,81%.
O mesmo movimento de alta também foi aplicado para as expectativas sobre a inflação de 2022 e 2023. Para o ano seguinte, subiram de 4,79% para 4,96%, período no qual o indicador deve convergir para o centro da meta. E para 2023, foram alteradas de 3,32% para 3,42%.
Com esses dados, os olhos do mercado se voltam agora a para a divulgação do IPCA-15 de novembro, prévia da inflação do período.
De acordo com análise feita pelo editor-chefe da Mais Retorno, Renato Jakitas, a inflação vai continuar subindo nas próximas semanas e também em 2022.
“E isso acontecerá mesmo que o Brasil, como num passe de mágica, retire do caminho todas as suas cascas da banana, representadas por bombas orçamentárias e crises políticas que afetam o equilíbrio monetário e fiscal, minando a confiança dos investidores”, destacou.
De acordo com Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, as expectativas começam a refletir a perda relativa de grau de credibilidade da autoridade monetária no tocante ao regime de metas, uma vez que horizontes longos começam a subir e o curto permanece estável mesmo com inflação fora da meta nos anos relevantes.
"Tal cenário reforça nossa perspectiva de que a Selic subirá 2 pontos porcentuais em dezembro, fechando o ano a 9,75%, visto que ainda assumimos que o BC fará o que for necessário para convergir a inflação para a meta. O Focus precifica uma elevação de apenas 1,5 p.p na próxima reunião", afirma o economista.
O ciclo, de acordo com a nossa perspectiva da Ativa Investimentos, deverá se elevar até 13,25%, "visto que projetamos mais uma alta de 200bps no início de fevereiro, seguido de mais uma elevação de 1,5 p.p em março".
"No final do ano, as rédeas começam a ser soltas ao passo de 0,5 p.p. Claro que o afrouxamento depende da convergência da inflação, frente uma queda da atividade, ao qual já prevemos alta de apenas 0,5% (PIB) para 2022", ressaltou Sanchez
PEC dos Precatórios
Outro ponto de preocupação dos mercados, que se mantém no radar há algumas semanas, é a votação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos Precatórios no Senado, na qual há sinais de que a resistência à sua aprovação é maior do que na Câmara, onde a proposta já foi votada e aprovada em dois turnos pelos deputados.
A PEC precisa do apoio de pelo menos 60% do Senado, ou de 49 dos 81 parlamentares da Casa, para ser aprovada em duas rodadas de votação. Há vários pontos de resistência em relação ao texto que chegou da Câmara, principalmente em relação ao caráter temporário do Auxílio Brasil, que tem validade prevista apenas até o fim do próximo ano.
A proposta, que propõe a quitação parcelada de parte das dívidas judiciais do governo, abre espaço no Orçamento de 2022 com recursos para financiar o pagamento do Auxílio Brasil, novo benefício substituto do Bolsa Família, no valor de R$ 400.
Um certo consenso que se forma nos entendimentos entre os senadores, para aprovar a PEC, é preciso tornar o benefício permanente, em vez de concluí-lo em dezembro de 2022, como prevê a proposta.
Especialistas preveem que o governo terá de fazer concessões para passar a PEC, a menos que queira correr o risco de derrota no Senado. A questão é que se for aprovado com alterações o texto terá de voltar à Câmara para nova votação em dois turnos.
A PEC dos Precatórios não é a solução fiscal por busca de espaço no Orçamento, para bancar o Auxílio Brasil, que agrada ao mercado, mas é percebida como uma opção para destravar o nó orçamentário e lançar alguma luz sobre a política fiscal do governo.
Juros futuros
Após caírem na última sexta-feira, os juros futuros operam em alta na manhã desta segunda-feira, em sintonia com o avanço dos juros dos Treasuries e em meio à nova rodada de piora nas expectativas no relatório Focus e em semana de divulgação do IPCA-15 de novembro.
As incertezas envolvendo a tramitação da PEC dos Precatórios seguem no radar. Às 9h31, a taxa do contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 subia para 11,93%, de 11,84% no ajuste anterior.
O DI para janeiro de 2025 subia para 12,04%, de 11,93, e o para janeiro de 2023 ia para 12,17%, de 12,06% no ajuste de sexta-feira.
Sobe e desce da B3
Nesta segunda-feira, a alta no preço do minério de ferro favorece o desempenho positivo das ações das gigantes siderúrgicas. Além da Vale, as ações da CSN, Usiminas e Gerdau subiam 2,71%, 2,61% e 2,06%, respectivamente, às 14h08. A Bradespar também registra alta. Às 11h17, subia 4,35%
Os bancos também operam em alta no pregão. Às 14h10, o Itaú, Bradesco e Santander valorizavam 1,22%, 0,49% e 0,71%, respectivamente.
Após anunciar a contratação dos bancos Bank of America (BofA), BTG Pactual e Goldman Sachs para estruturar sua operação de follow on, visando a privatização da estatal, os papéis da Eletrobras caíam 0,34%, às 14h08.
As ações da Tim avançavam 3,56%, no mesmo horário, com a notícia de que a companhia de investimentos KKR demonstrou interesse em comprar a Telecom Italia, que detém a empresa, por 10,79 bilhões de euros - ou US$ 12,17 bilhões.
Economia: tema central nas eleições 2022
Com a proximidade do fim do ano, as eleições de 2022 começam a ganhar espaço na atenção do mercado.
Um dos pontos que chama a atenção de especialistas que é a economia virou o tema central das discussões. Se o combate à corrupção dominou o debate das eleições em 2018, desta vez o tema está voltado para ações econômicas com foco em melhorar a renda da população, aumentar o emprego e reduzir a pobreza.
Especialistas apontam o trinômio “desemprego, pandemia e inflação” como determinantes para a corrosão da renda dos brasileiros e do crescimento.
O debate se acelerou após o presidente Jair Bolsonaro bancar um benefício de R$ 400 para o novo programa social e acenar com outras benesses para ampliar sua popularidade. Mesmo contrário à vacinação contra a covid, Bolsonaro aprovou o plano de imunizar toda a população adulta com uma dose de reforço em 2022. A estratégia seria apagar o "carimbo" de que o governo foi responsável pelo atraso na vacinação em 2021.
Enquanto Bolsonaro aposta no sucesso da distribuição de renda e projeta uma aceleração da geração de empregos, estrategistas econômicos ligados a outros possíveis presidenciáveis - Ciro Gomes, Eduardo Leite, João Doria e Lula - também traçam estratégias.
"Não tenho dúvida que a questão econômica vai ser central nas eleições: é o que está afetando a vida das pessoas. O poder de compra do brasileiro diminuiu a satisfação", diz Bruno Soller, cientista político e sócio do Instituto Travessia, que ajuda a traçar estratégias de campanha. Segundo ele, o ponto chave será ver como as candidaturas conseguirão criar um projeto de regaste econômico do País que atinja diretamente a vida das pessoas.
Hoje líder nas pesquisas, o ex-presidente Lula está focando na desigualdade social, mas, segundo Soller, ele está "jogando parado", pois não endereça os problemas econômicos criados durante o governo de Dilma Rousseff, entre 2011 e 2016.
Mercados internacionais
Lá fora, as bolsas americanas operam mistas, após seguirem pelo terreno positivo ao longo da manhã. Durante o dia, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, comunicou que vai indicar o atual presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, para mais um mandato.
Outro nome favorito para o comando da autoridade monetária, a economista Lael Brainard, será vice-presidente da autoridade monetária.
Além disso, os investidores seguem pesando as novas restrições impostas pela covid-19 na Europa e o risco de uma redução mais rápida na política monetária do Fed, por conta da inflação elevada.
Durante a manhã, o mercado conheceu o índice de atividade nacional do país, elaborado pelo Fed de Chicago. De acordo com a autoridade, subiu de -0,18% para +0,76% em outubro. O resultado de setembro foi revisado para baixo. Já a média móvel em três meses recuou de +0,22% para +0,21% no mesmo período.
As ações globais permanecem perto de suas máximas históricas, com o mercado lidando com uma série de preocupações, incluindo quem será o novo dirigente do Fed, bem como a saga perene sobre a suspensão ou não, do limite de dívida dos Estados Unidos.
Depois de semanas de negociação, o Build Back Better, de Joe Biden, presidente dos EUA, foi aprovado na Câmara em quase US$ 2 trilhões. O investimento deve ser voltado para educação, saúde e mudanças climáticas. Agora, o pacote vai para o Senado, onde a negociação deve ser mais dura.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, repercutiu a aprovação do pacote de investimentos. Em entrevista coletiva, a porta-voz disse que o presidente Joe Biden está comprometido em assegurar que a pauta receba o aval do Senado o mais rápido possível.
Psaki comentou ainda que o pacote reduzirá o déficit fiscal no longo prazo e que economistas mostraram que a legislação não impulsionará as pressões inflacionárias. Ela explicou que representantes do governo estão em contato direto com o senador democrata Joe Manchin, que tem demonstrado resistência quanto ao novo pacote.
A secretária também afirmou que o governo americano ofereceu investimentos a farmacêuticas para aumento da produção de vacinas em 1 bilhão de doses.
A porta-voz também disse que os EUA seguem em contato com outros países para articular medidas que assegurem o suprimento de petróleo, com objetivo de conter os preços. De acordo com ela, o país quer que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) alcance a demanda atual pela commodity por meio de uma "oferta adequada"
No cenário global, o Wells Fargo pontua que a nova onda de casos de covid-19, predominante na Europa e na China, poderia pesar sobre o crescimento econômico no curto prazo e levou a revisões modestas nas projeções do Produto Interno Bruto global.
Na Europa, o Banco Central da Alemanha (Bundesbank) publicou nesta segunda-feira um relatório mensal, no qual projeta que a retomada econômica do país perderá um pouco de fôlego, enquanto a inflação deve seguir elevada por ora.
O BC diz que a recuperação recente é apoiada pelo crescimento "forte" no setor de serviços, enquanto a produção industrial "continua em tendência de baixa", com o setor automotivo especialmente afetado, diante de gargalos nas entregas nessa cadeia.
O Bundesbank espera que a inflação suba a quase 6% em novembro, na comparação anual, mas tenha uma queda forte em janeiro, quando pararem de influir efeitos da base de comparação.
Ainda assim, o documento nota que a inflação ao consumidor pode ficar "bem acima de 3% por um longo tempo", com o avanço visto em outubro puxado pela alta da energia.
No outono local, o BC espera que a recuperação perca fôlego, com a indústria ainda enfrentando problemas em sua cadeia.
Do outro lado do mundo, as bolsas asiáticas fecharam majoritariamente em alta. Na bolsa de Tóquio, o índice Nikkei fechou em alta de 0,09%, aos 29.774,11 pontos, ajudado por ações de empresas de transporte marítimo, com expectativa por demanda forte no setor de logística.
As relações Japão-China estão em foco, após o ministro das Relações Exteriores japonês dizer no domingo que o ministro da mesma pasta na China o convidou para uma visita oficial.
Na China, a Bolsa de Xangai fechou com ganho de 0,61%, aos 3.582,08 pontos, e a de Shenzhen, de menor abrangência, subiu 1,42%, aos 2.642,90 pontos. Montadoras estiveram entre os destaques e a Jefferies comenta que o fato de que o país deve demorar mais a apertar sua política monetária apoia a demanda por ações locais.
Em Hong Kong, o índice Hang Seng recuou 0,39%, aos 24.951,34 pontos. Na Coreia do Sul, o índice Kospi subiu 1,42% em Seul, aos 3.013,25 pontos.
Em Taiwan, o índice Taiex foi na contramão da maioria e caiu 0,08%, aos 17.803,54 pontos, após oscilar entre perdas e ganhos durante o dia.
Na Oceania, o índice S&P/ASX 200 fechou em baixa de 0,59%, aos 7.353,10 pontos, na Bolsa de Sydney. Ações de bancos pressionaram o mercado australiano, em meio a preocupações sobre o impacto de novas ondas da covid-19 e de restrições consequentes para a economia global. Papéis ligados a viagens e o setor de tecnologia também caíram. / com Tom Morooka e Agência Estado