Economia

Conheça 5 livros para ajudar a entender o mundo atual

Entre eles estão obras sobre política, comunicação, economia internacional, mercado financeiro, entre outros

Data de publicação:19/04/2022 às 12:30 - Atualizado 3 anos atrás
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O objetivo deste artigo é mostrar, por meio de uma seleção de livros, como fatores históricos, culturais e de lógica econômica se somam ao momento em que vivemos, no qual um conflito inimaginável há algumas semanas:

  • Empobreceu todo o planeta;
  • Criou uma insegurança alimentar global;
  • Causou algumas baixas fora do campo de batalha (o calote do Sri Lanka), que podem muito bem ser seguidas por outras.

É pouco provável que os ataques russos terminem em 9 de maio, data estipulada por Putin e que remonta ao dia em que a Alemanha nazista se rendeu às tropas russas durante a Segunda Guerra Mundial (“Dia da Vitória”).

Foto: Reprodução

Valores europeus

A luta pela criação do Estado grego, em 1821, retratada no livro The Greek Revolution: 1821 and the Making of Modern Europe (“A Revolução Grega: 1821 e a Formação da Europa Moderna”, em tradução livre), de Mark Mazower, ilustra como uma guerra que durou seis anos mudou a relação de forças dentro do continente.

Foi a partir dela que surgiram vários pequenos países. Se tem alguma coisa que a guerra evidencia é que a população se une quando exposta à violência e suprida dos seus valores mais essenciais, como a liberdade. Não por outro motivo, a resistência dos ucranianos à invasão russa.

Ao longo da história mais recente, o Leste Europeu viveu uma explosão de movimentos de independência, muitos dos quais refletidos nos ideais da revolução grega. Para que fossem efetivamente em frente, contaram com ajuda externa.

Tal como agora, o autor deixa claro que nenhuma participação da Otan funciona se não for alinhada com as lideranças locais.

Foto: Reprodução

Rubbing shoulders

Um mercado conduzido por pessoas que frequentam lugares que poucos se atreveriam a ir, para falar com pessoas que ninguém teria coragem de encontrar. Distante das bolsas de commodities, é assim que um pequeno grupo de pessoas se tornou bilionária nas últimas décadas.

Essa riqueza foi propulsionada por circunstâncias muito bem exploradas:

  • A ascensão da Opep;
  • O fim da União Soviética;
  • O desenvolvimento da "Factory China".

Em todas elas, a habilidade em se driblar sanções, movimentando petróleo de países inclusive sob guerra civil (Iraque e Líbia). Durante muito tempo, transacionaram grandes quantidades sem que caíssem no radar das autoridades. 

The World for Sale (“O Mundo à Venda”, em tradução livre), de Javier Blas e Jack Farchy, é um livro que retrata um mundo onde os negociadores tinham relacionamentos próximos com os autocratas, o que lhes garantiam acesso a informações privilegiadas.

Foto: Reprodução

Londongrad

Porque tantos oligarcas se estabelecem em Londres, fazendo com que a cidade tenha o apelido de Londongrad (uma junção de Londres com Leningrado)?

O antigo centro financeiro da Europa acolhe os recursos de cidadãos russos desde o fim da União Soviética. É ali onde existe toda uma indústria para atender estrangeiros abastados, desde o mercado imobiliário de luxo até os times de futebol da Premier League.

As origens desse modus operandi da cidade remontam à década de 60, no nascimento dos chamados “euromercados” (mercados nos quais se negociam títulos em dólares e outras moedas fortes, emitidos fora de suas respectivas jurisdições).

Criou-se então um império britânico com outros objetivos, formado por um grupo de ilhas que também funcionavam como praças financeiras (o que explica a notoriedade das Ilhas Cayman e das Ilhas Virgens Britânicas - BVI). Era por meio delas que o dinheiro recusado em outras partes do mundo terminava na City de Londres.

Butler to the World (“Mordomo para o Mundo”, em tradução livre), de Oliver Bullough, mostra que muito ficou por ser feito em relação a essas lacunas regulatórias desde o Brexit.

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A era da desinformação

Para entender a máquina de propaganda de Vladimir Putin, nada melhor que um livro escrito por um insider. Em sua primeira obra, publicada em 2014, Peter Pomerantsev conta a ocasião em que ouviu de um famoso apresentador de TV que a “política deveria ser como um filme”.

Entre os seus vários capítulos, situações abordando inimigos fictícios, a ausência de objetividade nos fatos, além de outras formas de manipulação em massa. Em This is Not Propaganda (“Isso não é Propaganda”, em tradução livre), o autor mostra o poder das redes sociais na desinformação.

Se antes havia uma distinção entre regimes autocráticos que se utilizavam da censura e a livre circulação da informação no mundo ocidental, hoje estes mesmos usam a internet de acordo com as circunstâncias.

Como resultado, a propaganda deixou de ser um meio para justificar uma operação militar para se tornar o alvo principal.

Foto: Reprodução

O futuro do dinheiro

O rublo russo pode ter se recuperado desde a invasão da Ucrânia, mas isso não diz muito sobre a relação entre dinheiro e a sociedade.

É justamente disso que trata o livro The Future of Money: How the Digital Revolution is Transforming Currencies and Finance (”O Futuro do Dinheiro: Como a Revolução Digital Está Transformando as Moedas e as Finanças”, em tradução livre), de Eswar Prasad.

De acordo com ele, ainda que o papel-moeda seja extinto, os bancos centrais continuarão “centrais” ao sistema financeiro internacional. Isso quer dizer que adotarão várias inovações das:

  • Fintechs: sua enorme capacidade de analisar dados coletados a partir das mais variadas operações financeiras;
  • Moedas digitais: a tecnologia que as viabiliza é extremamente eficiente, seja para permitir o acesso por pessoas hoje fora do sistema, seja para implementar novas ferramentas de política monetária ou rastrear atividades ilegais.

O trade-off é um futuro menos independente, conforme banqueiros centrais passam a ter novas atribuições.

Conclusão

Uma guerra longa pode mudar a divisão de poder na Europa. Nesse interim, homens de negócios se esquivam de sanções, mantendo o fluxo de dólares para a Rússia e demais países.

Tudo porque o sistema financeiro internacional ainda oferece algumas brechas, mantidas abertas enquanto o Reino Unido lida com assuntos internos decorrentes da dicotomia entre Londres e a sua elite cosmopolita e o interior, onde muitos perderam os seus empregos para a China.

Para encontrar qualquer lógica nos fatos, talvez o melhor seja não se atentar às informações “gratuitas” das redes sociais. Pouco se sabe sobre quando ou como a guerra terminará, mas conhecer os elementos que a influenciam é um excelente começo, inclusive para tomar decisões de investimento.

*Este artigo não reproduz necessariamente a opinião do portal Mais Retorno.

Sobre o autor
Nohad HaratiPossui MBA em Finanças e LLM em Direito do Mercado Financeiro (ambos pelo Insper/SP). É gestora de uma carteira proprietária, além de ser responsável por um Family Office.