Na opinião de analistas, o que esperar dos mais de 100 balanços trimestrais que ainda vão sair
A temporada de balanços trimestrais segue em ritmo frenético nesta semana. Ao todo, são mais de 100 companhias de vários setores que ainda apresentarão seus resultados…
A temporada de balanços trimestrais segue em ritmo frenético nesta semana. Ao todo, são mais de 100 companhias de vários setores que ainda apresentarão seus resultados ao mercado esta semana. Lucro ou prejuízo? Crescimento? Em que setores? Especialistas opinam.
As varejistas devem estampar o impacto da segunda onda da covid-19, com as redes de lojas físicas sofrendo mais. No vestuário, o Grupo Soma, que comprou a Hering, deve apresentar um lucro mais expressivo que a concorrência, já Renner e C&A devem vir com prejuízo.
Entre as farmácias, a rede Raia Drogasil deve crescer suas receitas em 15%. Os resultados das empresas de construção podem vir afetados pelo lockdown de fevereiro e março, nem todas mostrarão números positivos. No setor de combustíveis, balanços de Petrobras e BR distribuidoras devem ser medianos. Já as de papel e celulose são beneficiadas pelo bom momento das commodities.
Todos esses balanços devem também sinalizar ao mercado se a economia está mesmo retomando o ritmo de crescimento, ainda que lentamente. De forma geral, os analistas esperam por números positivos em receita para todos os mercados.
Alguns, no entanto, como é o caso da construção civil, devem registrar queda na margem de lucro pressionada pelo aumento do custo com insumos.
Grandes varejistas
O mercado varejista sofreu o impacto da segunda onda da covid-19 no País. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado na semana passada, as vendas no varejo caíram 0,6% em março sobre fevereiro.
No entanto, os especialistas afirmam que o setor está vivendo um cenário mais favorável do que no 1º trimestre do ano anterior, quando foi afetado duramente pelo início da pandemia, com muitas incertezas e o fechamento do comércio por um longo tempo.
De acordo com Iago Souza, analista de investimentos da Warren, as empresas de varejo voltadas para a omnicanalidade (integração de vários canais de vendas, incluindo físico e digital) se sairão melhor em seus balanços do que aquelas que dependem diretamente do varejo físico.
Souza destaca, entre elas, a Magazine Luiza e a Via (antiga Via Varejo). Danniela Eiger, analista de varejo da XP, reforça o coro e ressalta que a expectativa de crescimento de receita da Magalu seja de 50% e o GMV (Volume Bruto de Mercadorias, em português) total das lojas físicas tenha uma expansão de 60%,
“O Magazine Luiza tem um perfil bastante voltado para o online, além do fato de que o crescimento orgânico da empresa também reforça os bons resultados do trimestre”, analisa Danniela.
A analista da XP afirma que, entre as várias aquisições que a empresa fez nos últimos meses, a startup Ai que Fome, voltado para a alimentação, deve contribuir para o alcance de R$ 1 bilhão em GMV.
“A expansão da categoria de alimentos, incluindo perecíveis, no marketplace da Magalu puxa a receita para cima”, avalia Danniela.
A Via (antiga Via Varejo) segue na esteira de apostas de bom desempenho da XP. De acordo com a analista de varejo, o e-commerce da companhia trará uma contribuição positiva para os resultados, porém o desempenho mais fraco do varejo físico deve comprometer um pouco essa elevação. A aposta é de elevação de 15% na receita.
Outra companhia que deve surfar a onda do crescimento de receitas é o Grupo Mateus, na visão de Danniela. Segundo ela, os consumidores da região Norte e Nordeste, onde a empresa tem a concentração de suas lojas, vêm sustentando um bom faturamento.
“Apesar do Grupo Mateus apontar a ausência do auxílio emergencial como um fator que pode desaquecer o consumo nas lojas, a realidade da região é diferente da radiografia do Sudeste. Lá as pessoas continuam consumindo, mesmo sem o benefício do governo”, destaca Eiger.
As expectativas da XP para o Grupo Mateus são de aumento de receita de 30%, 10% a mais no volume de vendas e 30% de incremento na área de eletrodomésticos.
Vestuário
Quando o assunto é o varejo de vestuário, a expectativa é grande em relação à performance do grupo Soma, que deve apresentar um lucro mais expressivo que a concorrência. A empresa vem fazendo uma série de aquisições, sendo a Hering a última compra do grupo.
Iago Souza, da Warren, destaca também a Arezzo como uma empresa bem-posicionada que pode surpreender nos balanços trimestrais. “No ano passado, a varejista adquiriu a marca Reserva, o que ajuda a melhorar a margem financeira e receita”.
Já a Lojas Renner e C&A, na opinião dos especialistas, devem apresentar prejuízo, por se tratar de varejos que têm ainda grande dependência das lojas físicas, impactadas pelo lockdown entre os meses de fevereiro e março.
Para a XP, a queda prevista para os resultados do trimestre da Lojas Renner é de redução de 10% nas vendas e de 15% na receita. Danniela aponta que o Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) deve ser negativo para as duas varejistas.
“Com o cenário de incerteza econômica, os consumidores estão menos dispostos a comprar itens desse tipo de categoria discricionária”, reforça a analista.
Joias
A Vivara, que também comunica seus números trimestrais nesta semana, deve ter bons resultados na contramão de C&A e Renner. De acordo com Danniela, há uma previsão de aumento de receita e Ebtida, mesmo tendo o negócio voltado para o consumo discricionário.
“O que incentiva o desempenho da Vivara é que os consumidores enxergam uma joia como um produto perene, que não cai de moda. Outro fator é que a marca atende uma classe social mais alta”, complementa.
Farmácia
No setor de farmácias, a Raia Drogasil deve ter uma receita 15% maior nos três primeiros meses do ano, segundo a XP, com queda na margem.
“As farmácias se mantiveram abertas durante a pandemia, porém, no caso da Raia Drogasil, a empresa está construindo sua plataforma digital e aplicando promoções em fase de queda nas vendas”, destaca Danniela.
Construção civil
O setor da construção civil foi impactado com as restrições da pandemia no 1º trimestre, com o fechamento dos estandes de vendas das incorporadoras por algumas semanas.
A expectativa dos analistas é que o lockdown de fevereiro e março tenha influência nos resultados das vendas do mercado.
De acordo com o analista de Construção Civil, Shopping Centers, Imóveis Comerciais e Fundos de Investimentos Imobiliário da XP, Renan Manda, algumas incorporadoras já apresentaram sua prévia operacional do período, o que não deve trazer muitas surpresa nos balanços trimestrais.
Focada no público de baixa renda, a MRV, de acordo com Manda, tem uma demanda mais resiliente em momentos de incerteza. “A prévia operacional da construtora veio bem robusta, o que sinaliza resultados trimestrais promissores”, avalia.
Em relação à margem bruta, Renan diz que é possível que o número obtido no período reflita a pressão por conta do custo mais alto dos insumos, como aço, vergalhão, entre outros. A expectativa é de um crescimento de 6% a 7% em lucro líquido, receita e margem.
Para o gerente de Research da Ativa Investimentos, Pedro Serra, o resultado da MRV deve vir em linha com os números obtidos pela Tenda nos primeiros três meses do ano, com avanço de 110% em seu lucro.
A incorporadora Trisul, com empreendimentos voltados para média e alta renda, deve fechar bem o período, com crescimento na casa dos dois dígitos, conforme análise de Manda.
“A empresa manteve um ritmo acelerado de novos lançamentos, além da captação feita para amadurecer sua operação”, complementa.
Em relação aos números da Even, a entrada do projeto de construção do hotel Fasano, em São Paulo (SP), será um importante incremento no volume de vendas da empresa no 1º trimestre. A XP aposta em um crescimento de 50% na receita da companhia.
Combustível
A BR Distribuidora e a Petrobras apresentam seus resultados ao longo desta semana. A distribuidora de combustível deve trazer números medianos em seus balanços, na opinião dos especialistas.
Pedro Serra, da Ativa, aponta que o mercado de ciclo Otto (veículos que rodam com gasolina e/ou álcool) ainda está com um desempenho aquém do esperado, ao contrário do diesel, que estava em uma rota contrária e pegando carona no agronegócio.
Serra afirma que o mercado está de olho na gestão de despesas, além do fato da empresa estar com um novo diretor-presidente, Wilson Ferreira, que deve falar sobre o plano estratégico da BR Distribuidora.
Em relação à Petrobras, que já apresentou sua prévia operacional, o gerente da Ativa acredita em balanços sem grandes surpresas, “mais do mesmo”. “A produção total de petróleo está caindo, além do fato de que algumas unidades pararam para manutenção”.
No entanto, a extração do petróleo no pré-sal cresceu com mais força, pois segundo Serra, entrega maior rentabilidade para a companhia.
Na opinião do analista, o mercado estará atento ao resultado de refino e às margens de lucro. “A defasagem do preço da gasolina vendida da refinaria aos intermediários também será um ponto de atenção”, reforça.
Papel e celulose
Beneficiadas pelo bom momento das commodities, a papeleira Suzano pode trazer resultados significativos em seu balanço trimestral. A empresa está se beneficiando com a onda da valorização do preço da celulose no mercado.
Serra enfatiza que o mercado estará atento à combinação da alavancagem e redução da dívida da Suzano, além da evolução da receita.
A Klabin divulgou seus resultados na última terça-feira. Os números, apesar dos lucros obtidos de R$ 421 milhões que reverteram seu prejuízo da mesma base de comparação do ano anterior, não animaram os analistas pois seu desempenho operacional veio abaixo das expectativas.