Por que as ações da Rede D’Or caíram mais de 3%, mesmo com um balanço trimestral positivo?
Um dos pontos de atenção levantados pelos especialistas foi o alto nível de alavancagem da rede de hospitais
As ações da Rede D’Or (RDOR3) tiveram um desempenho negativo na Bolsa logo no dia seguinte à apresentação de bons números em seu balanço do 4º trimestre de 2021 e em linha com as expectativas do mercado: fecharam em queda de 3,34%, negociadas a R$ 49,78, na quarta-feira, 30.
Uma combinação de realização de lucros após valorização recente de 30% com alguns pontos de atenção no balanço podem estar por trás desses dados, na opinião de especialistas.
Entre os números que se destacaram positivamente no documento, divulgado na véspera aos acionistas, estão o lucro líquido de R$ 419,5 milhões, alta de 38,5% ante o mesmo trimestre de 2020, receita 23,2% maior no período - R$ 5,135 bilhões - e avanço de 24% no Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), contabilizando R$ 1,26 milhão.
Na visão de Breno Bonani, sócio da VGR (Valor Gestora de Recursos), os papéis da companhia estão vindo de uma toada positiva há pelo menos 50 dias, com alta de 30%, e a queda tem a ver também com um pouco de realização dos lucros.
“Os resultados do quarto trimestre da Rede D’Or não trouxeram nenhuma grande surpresa. Apesar disso, o balanço da companhia foi um dos mais fortes do setor de healthcare. Não há um grande motivo para a queda nas ações”, ressalta Bonani.
Nível alto de alavancagem
Já Pedro Lang, especialista da Valor Investimentos, não compartilha da mesma opinião. Segundo ele, apesar dos resultados positivos, alguns pontos de atenção saltaram aos olhos do mercado, como o alto nível de alavancagem da empresa, na ordem de 2,6x.
Esse aspecto também foi assinalado por Bonani e também por Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, mas ambos colocam o nível de alavancagem como um “ponto de atenção”.
“O aumento da alavancagem não nos parece, por enquanto, um grande problema, dado o custo razoável da dívida de CDI + 0,7%”.
Rodrigo Crespi, Guide Investimentos
Já Bonani destaca que esse nível de alavancagem mais elevado já vinha sendo sinalizado nos trimestres anteriores.
“No terceiro trimestre, a alavancagem da Rede D’Or estava em 2,5x. Ainda está dentro do patamar que consideramos saudável. Um nível de 3x é o limite máximo que qualquer investidor teria condições de se expor a alguma companhia”.
Breno Bonani, Valor Gestão de Recursos (VGR)
Resiliência
De acordo com Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, em relatório sobre os números trimestrais da empresa, a Rede D’Or está bem-posicionada para continuar crescendo organicamente e de forma inorgânica nos próximos trimestres.
“O resultado do quarto trimestre apresentou bons números, apesar do período bastante desafiador enfrentado pelo setor de saúde no País. Resiliência é o nome do jogo para a gigante de saúde”, afirma.
Para a Guide, a expectativa é de uma reação neutra para os papéis da Rede D’Or. Além disso, a casa de análises segue mantendo sua recomendação de compra para a empresa.
Impacto menor da covid-19
A XP também seguiu a mesma linha de análise da Guide no que diz respeito aos números da Rede D’Or no último trimestre de 2021. Segundo relatório de avaliação dos resultados feito pelos analistas de Educação, Saúde e Small Caps, Rafael Barros e Larissa Pérez, a visão é positiva em relação às ações em meio às perspectivas de crescimento da empresa.
“Os efeitos relacionados à covid-19 estão se tornando menos significativos, e portanto, impactando menos os resultados da empresa. Por outro lado, a alta alavancagem, aliada ao aumento das taxas de juros, aumentam as despesas financeiras líquidas”, avaliam.
Máquina de M&As
Um dos pontos que mais chamou a atenção do mercado em relação ao balanço da Rede D’Or foram os M&As (fusões e aquisições, na sigla em inglês). Desde 2018, a empresa vem acelerando forte para colocar novas empresas em seu carrinho. Uma das mais emblemáticas ocorreu no início do mês, com o anúncio da compra da centenária operadora de saúde SulAmérica.
A Rede D'Or adquiriu cerca de 5,26% do capital social da SulAmérica. A operação já está dentro da estratégia do grupo hospitalar de incorporar a seguradora. O negócio foi bem-visto pelo mercado, com as ações de ambas as empresas disparando na Bolsa no dia do anúncio.
Em teleconferência realizada para comentar os resultados do balanço do quarto trimestre, a Rede D’Or informou que não pretende divulgar por enquanto uma estimativa de sinergias para aquisição – que está em andamento e ainda depende da aprovação de órgãos reguladores – da Sulamérica.
A empresa está voltada para avaliar as sinergias em termos qualitativos, segundo os executivos da rede de hospitais.
“Entre as sinergias qualitativas estão o potencial de otimização da estrutura de capital da companhia, a liberação de ativos imobilizados, redução da dívida, ganho de eficiência na compra de produtos e suprimentos”, complementa Bonani.
Para o especialista da VGR, a compra da SulAmérica pela Rede D’Or vai trazer ainda mais variedade de serviços ao seu negócio. “A chegada da operadora de saúde complementaria o negócio da Rede D’Or, que teria uma empresa de planos de saúde em seu guarda-chuva. Ter esse tipo de serviço na ponta final para o consumidor é interessante, além de reforçar seu mix de serviços”.
Alguns M&As realizados no ano passado ainda seguem em andamento como a compra do hospitais Santa Isabel, em São Paulo, Arthur Ramos, em Maceió, e Santa Marina, em Campo Grande, seguem ainda em processo de consolidação, de acordo com Bonani, o que deve continuar refletindo nos próximos balanços da companhia.
Comprar ou não ações da Rede D’Or?
As casas de análise e especialistas consultados para a matéria, em grande parte, mantiveram sua recomendação de compra dos papéis da Rede D’Or. A XP recomenda compra das ações da companhia com preço-alvo de R$ 88,00.
“Esperamos uma reação de neutra para positiva para os papéis de RDOR3, e mantemos nossa recomendação de compra para a empresa”, afirma Rodrigo Crespi, da Guide.
De acordo com Bonani, da VGR, os papéis da Rede D’Or não estão descontados. No entanto, apesar disso, faz parte das principais opções de empresa para se investir quando o assunto é healthcare.
“Se alguém quiser se expor ao setor de healthcare no Brasil, atualmente temos duas opções: as gigantes Rede D’Or e Hapvida, que são as duas maiores do mercado. Faz sentido se expor nas companhias que têm maior market share e poder de barganha para continuar fazendo as aquisições. Elas dependem desses movimentos de M&A para continuar aumentando o número de leitos e hospitais e seguir ganhando terreno”, afirma.
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