Kapitalo: escassez de energia afetou a produção, pressionando inflação e juros globais; quais os riscos
Bancos Centrais iniciam processo de retirada de estímulos monetários a alta dos juros
Os gestores da Kapitalo colocam como ponto de partida, para sua análise, em sua última carta mensal enviada aos clientes, a escassez de energia que é patente em diversas regiões do mundo, e que vem afetando as já pressionadas cadeias produtivas. O gargalo tornou desfavorável o balanço de riscos em relação à inflação global e levou à mudança de comportamento e aumento de taxas de juros por diversos bancos centrais.
Embora as autoridades monetárias dos EUA já tenham validado, em sua reunião de novembro, o processo de redução mensal de injeções de recursos no mercado americano da ordem de US$ 15 bilhões, que se estenderá até meados de 2022, os especialistas da Kapitalo acreditam que “a liquidez global continua abundante e nosso otimismo sobre o crescimento da produtividade nos mantém construtivos em relação à atividade global”.
De todo modo, os gestores afirmam que seguem posicionados com níveis reduzidos de riscos e acompanhando de perto os sinais de estabilização da atividade chinesa, que permanece em desaceleração.
O cenário nos Estados Unidos
Em relação aos EUA, a carta da Kapitalo destaca os números de novos casos da Covid-19, hospitalizações e mortes continuaram a cair. Além disso, a vacinação avança lentamente entre a população, apesar dos incentivos governamentais e das exigências de empresas e órgãos públicos, que instituíram obrigatoriedade da imunização entre seus funcionários.
“Nos próximos meses, o gasto da poupança acumulada com os pacotes fiscais, a continuidade da recuperação do mercado de trabalho e a retomada mais consistente do setor de serviços devem seguir impulsionando o consumo”, no mercado americano, ressaltam os especialistas.
Em relação à política monetária, os discursos dos membros do comitê adotaram (em sua maioria) tom mais firme e austero para a elevação dos juros. Reflexo de maior preocupação com a persistência da inflação mais elevada e das restrições de oferta, o que leva a discussões sobre o início do ciclo de alta de juros. Entretanto, segundo a maior parte dos integrantes do FOMC (comitê de política monetária americano), essa discussão não deve ser realizada neste momento.
No aspecto político, houve acordos no Congresso para solucionar temporariamente problemas que ganharam espaço durante setembro, como o teto da dívida e a falta de aprovação do orçamento.
Questionamentos da Kapitalo sobre a Europa
Os casos de Covid-19 voltaram a subir em algumas regiões como Reino Unido e Leste Europeu, porém as mortes continuam baixas, o que reduz o risco de restrições para a atividade, apontam os analistas da Kapitalo.
Mas a crise energética persiste, sendo pressionada pelos estoques baixos de energia e risco de um inverno mais frio no continente europeu. Essa escassez preocupa por ser responsável por quase metade da alta da inflação. Até o momento, apesar da recuperação do mercado de trabalho mais positiva do que a esperada, não se observam pressões nos salários e acordos salariais.
A reabertura da economia continuou puxando a atividade em serviços ao longo do verão e mantendo o ritmo de recuperação do PIB da Zona do Euro ao longo do terceiro trimestre. Para os próximos trimestres, a taxa de crescimento deve desacelerar significativamente.
No entanto, passado esse impulso da reabertura em serviços, há que se observar o impacto da inflação (principalmente de energia) no poder de compra das famílias, e o prolongamento dos problemas da cadeia de produção na atividade industrial, em particular na Alemanha, onde o setor automotivo tem um peso maior e a produção se apresenta 30% abaixo do nível pré-pandemia.
O Banco Central Europeu (ECB) vem adotando uma postura mais leve à política monetária em relação a outros bancos centrais, sem demonstrar urgência nas decisões para retiradas de estímulos e alta dos juros.
China crescendo menos
Os gestores destacam que após o mês de agosto ser marcado por restrições à mobilidade para conter a Covid-19, os primeiros indicadores sinalizaram que o controle do número de casos contribui para uma retomada de serviços mais rápida do que a esperada.
O mês foi dominado por preocupações a respeito do ritmo de desaceleração do setor imobiliário e em relação à saúde financeira das empresas desse setor, em especial a Evergrande. Mas crescem os sinais de haver uma reestruturação da imobiliária comandada pelo Estado.
Por fim, novas preocupações surgiram no lado da oferta nos últimos dias do mês por conta da questão energética. Não bastasse um controle mais duro das autoridades, no sentido de redução da intensidade do consumo de energia, as preocupações com o nível de emissão de poluentes estão maiores – o que inclusive afetou negativamente a produção de aço.
A oferta do principal componente da matriz energética, o carvão, está menor. Isso se deve tanto por questões geopolíticas, como no caso da Austrália, quanto por restrições provocadas pela Covid-19, como no caso do carvão que vem da Mongólia e África do Sul.
Complementando o quadro, as condições climáticas adversas provocaram inundações em algumas minas de países produtores de carvão na Ásia, o que restringiu ainda mais a oferta.
Esses dois indicativos, o primeiro do mercado imobiliário e o segundo vindo do aperto da oferta por conta da questão energética, devem contribuir para uma desaceleração mais forte da economia chinesa neste ano.
Piora no cenário brasileiro
O Brasil deverá sofrer os impactos da piora do crescimento chinês em termos de troca. E não é só. Deverá ser afetado também pelas mudanças na condução da política fiscal pelo governo, alertam os gestores da Kapitalo
O novo auxílio proposto pelo executivo, basicamente, aumenta o valor médio do bolsa família de R$ 190 para R$ 400 e, também, o número de famílias atingidas de 14 milhões para mais de 17 milhões. Além disso, o governo indicou novas despesas, como um auxílio para caminhoneiros, auxílio gás e emendas parlamentares.
A regra do teto que já não estava sendo respeitada em virtude da pandemia, agora será descumprida sem desculpa alguma. Portanto, as contas de dinâmica de dívida pública (que já apontavam para uma deterioração relevante) ficaram sensivelmente piores.
Mais descontrolado, o cenário inflacionário também se mostrou pior do que o esperado com surpresas em preços de serviços e bens industriais. Essa combinação de riscos fiscais acentuados com mais inflação dificulta muito o trabalho do Banco Central, que terá que subir a taxa de juros bem além do imaginado. E isso deve impactar negativamente a atividade econômica.
Posições da Kapitalo
“Em juros, aumentamos posições tomadas em juros nominais nos EUA, mantivemos posição tomada e vendida em inflação no Reino Unido e zeramos posição tomada e comprada em inflação no Brasil” relatam os especialistas.
Já em bolsa, foram mantidas as posições compradas e de valor relativo em ações brasileiras e ações globais.
Em moedas, os gestores afirmam que “aumentamos posições compradas no dólar americano e no iene japonês e posições vendidas no peso colombiano. Reduzimos posições vendidas no euro, franco suíço e no yuan chinês e reduzimos posições compradas no dólar australiano, coroa norueguesa e no rublo russo”.
Em commodities, eles aumentaram as posições compradas no petróleo e alumínio e abriram posições vendidas em grãos, açúcar e platina. Foram mantidas as posições vendidas em ouro e zeradas as vendidas em cobre.