Fundos de Investimentos

Giant Steps: era de inflação baixa e juros perto de zero pode ter chegado ao fim, favorecendo os fundos de renda fixa

Uma das mudanças trazidas pela pandemia foi a escassez de mão de obra de alguns setores, que pressionou a inflação nos EUA

Data de publicação:26/01/2022 às 12:30 - Atualizado 2 anos atrás
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O longo período de inflação baixa e juros próximos de zero, que teve início na crise financeira global de 2008 e foi aprofundado pela pandemia do coronavírus, pode ter chegado ao fim, cedendo lugar a um novo equilíbrio de juros mais elevados, diz a Giant Steps, em carta aos cotistas. Um cenário que tende a favorecer os fundos de investimento que aplicam em títulos de renda fixa e ofuscar o brilho da renda variável, como ações.

A gestora revisita crises sanitárias passadas, como a da gripe espanhola na virada do século 20, para afirmar que ninguém passa impunemente por uma pandemia. E tampouco por essa, a do coronavírus, e pelos efeitos das mudanças que ela trouxe na vida das pessoas e da sociedade.

Há escassez de mão de obra para hotéis, restaurantes e transportes nos EUA, segundo analistas da Giant Steps

Mudanças no trabalho

Algumas mudanças terão efeitos duradouros sobre a economia, com repercussões sobre política monetária, mercados financeiros e investimentos, apontam os analistas. Uma delas é a nova atitude em relação ao emprego, ao alterar a dinâmica do mercado. Após passar longo período isolados, muitos estão optando por não retomar as ocupações, mal remuneradas e estressantes, que se concentram em setores como restaurantes, hotelaria, saúde e transportes.

O fenômeno é geral, na Europa, na Ásia, mas é mais visível nos Estados Unidos, segundo a carta, o que leva à escassez de mão de obra que gera aumento de salários e pressão de custos. Um sinal que faz acreditar que o surto inflacionário seja mais que um fenômeno transitório, um fator que leva os bancos centrais a adotar uma postura mais conservadora.

Foi um dos motivos que levaram o Fed (banco central americano) a sinalizar aperto na política monetária, na reunião de dezembro, com a redução de seu programa de compra de ativos, no volume mensal de US$ 30 bilhões, e três aumentos de juros em 2022. Uma mudança de política para conter a inflação, que acumulou variação de 6,8% em 12 meses até novembro, maior nível desde 1982. Pressões sobre os preços agravadas também por múltiplos choques de oferta, como gargalos logísticos, colapso de cadeias de suprimento, escassez de insumos de energia.

Analistas questionam a eficácia de uma provável guinada tão agressiva na política monetária para combater efeitos de choques de oferta, mas reconhecem que tantos sinais de sobreaquecimento deixam pouca opção ao Fed senão retirar liquidez da economia e subir os juros.

Redução de liquidez afeta as bolsas, segundo a Giant Steps

Liquidez abundante, políticas fiscais e expansões de crédito foram a marca de política econômica global nos últimos dois anos, o que levou os mercados de bolsa a sucessivos novos recordes, apontam os analistas da carta.

Um aperto mais agressivo de política monetária americana castigaria moedas, bolsas e títulos de mercados emergentes e ativos de crédito, alertam os analistas.

Para a equipe de análise, os riscos geopolíticos, originados por tensões na Ucrânia e Taiwan, só reforçam as expectativas de que, ainda que 2022 não traga surpresas ruins, é difícil enxergar os mercados repetindo o desempenho espetacular dos últimos três anos.

Perspectivas desanimadoras para o País

O cenário tampouco é alentador para o Brasil. Independentemente da inevitável volatilidade de anos eleitorais, o País enfrentará em 2022 uma conjuntura ainda mais complexa e desafiadora que a de 2021, de acordo com os analistas da Giant Steps.

A carta aponta os efeitos recessivos do aperto monetário, a inflação que, apesar da alta cavalar da Selic, deve continuar rondando 5%, acima da meta central de 3,50%, e a valorização do dólar sobre o real.

Pelo lado fiscal, os analistas veem o risco de uma cascata de reajustes para o funcionalismo em ano eleitoral, apesar da recente melhora das contas. Tudo isso faz com que as perspectivas para 2022 sejam desanimadoras, com a fatura da inflação chegando na forma de alta dos juros, queda de atividade e pressão por reajustes salariais de servidores.

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Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.