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PIB
Renda Variável

Dólar despenca 8,8% neste ano com entrada de mais de R$ 70 bilhões de capital externo na Bolsa; entenda

Investidores estrangeiros estão em busca de índices com peso relevante em commodities e bancos, como o Brasil

Data de publicação:08/03/2022 às 00:30 -
Atualizado 3 anos atrás
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Apenas nestes primeiros meses do ano, o dólar escorregou nada menos de 8,80% e não por acaso o fluxo de capitais no País nesse mesmo período foi colossal. Só na Bolsa de Valores de São Paulo o saldo foi positivo líquido em R$ 70,4 bilhões. Isso sem falar do que entrou para ficar ancorado na renda fixa.

Poucas vezes a lei da oferta e da procura esteve tão bem cristalizada e visível na dinâmica dos ativos do mercado financeiro. É o que explica a persistente pressão baixista sobre o dólar, que vem testando insistentemente o suporte de R$ 5,00. Espasmos pontuais, tendo como pano de fundo o cenário de tensão geopolítica global, vêm evitando que as cotações embiquem abaixo desse nível, em busca de novo patamar.

Mês/períodoCotação em R$ (*)Variação
junho/215,15-4,81%
julho/215,05+4,76%
agosto/215,16-0,77%
setembro/215,18+5,34%
outubro/215,37+3,71%
novembro/215,67-0,18%
dezembro/215,70-1,11%
janeiro/225,68-4,83%
fevereiro/225,27-2,82%
março/225,10-1,55% (**)
em 2021-.-+7,47%
nos últimos 12 meses-.--12,11%
em 2022-.--8,80%
Fonte: Mais Retorno

(*) Cotação dia 1º de cada mês

(**) Até o dia 7/3 com a cotação a R$ 5,08

O dólar é puxado com força para a baixa pela enxurrada de capitais estrangeiros que aportam no País. O volume bimestral que ingressou na B3, de R$ 70,4 bilhões, corresponde a 72% de todo fluxo acumulado ao longo de todo o ano de 2021, que ficou em R$ 97,9 bilhões.

MêsIngresso em R$ bilhões
junho/2116,9
julho/21-8,8
agosto/2119,1
setembro/21 7,1
outubro/2117,3
novembro/21-9,2
dezembro/2111,7
janeiro/2233,9
fevereiro/2236,4
em 202197,9
em 202270,4
Fonte: Leonardo Morales - SVN

O especialista Leonardo Morales, da SVN Investimentos, que acompanha o fluxo diário e levantou esses dados diz que ao volume consolidado de R$ 65 bilhões em janeiro/fevereiro foram somados cerca de R$ 5 bilhões alocados pelos estrangeiros por ofertas iniciais de ações (IPOs).

Morales atribui esse movimento de capitais a “uma rotação global de ativos em busca de índices que têm peso relevante em commodities e bancos, como é o caso do Brasil”.

Ele explica que em geral o estrangeiro entra na bolsa via ETF (Exchange Traded Funds ou fundos de índices), em que a composição predominante é de empresas de commodities e bancos, que têm mais liquidez. “Até porque 60% da bolsa brasileira são bancos e commodities”, reforça.

O especialista diz que rotação global de recursos vem acontecendo há algum tempo. “Difícil saber quando ele termina.” O fato, destaca, é que bancos como Itaú e empresas como Vale vêm sendo beneficiados por esse fluxo até pela relevância (maior peso e liquidez) que têm no Ibovespa.

Morales afirma acreditar também que os conflitos no Leste Europeu, pela incerteza e tensão geopolítica que geram, contribuíram para a migração de algum fluxo global da Rússia para o Brasil.

O economista da Valor Investimentos, Piter Carvalho, diz que esse fluxo forte de capitais externos tem derrubado o dólar por aqui e valorizado o real, “uma das moedas que mais se desvalorizaram em 2021”.

“Empresas como Vale e Petrobras, que estavam baratas, tiveram o apelo reforçado também com a escalada das commodities”, afirma. Especialistas destacam que reúnem uma cesta de atrativos que fazem delas a cereja do bolo da bolsa de valores: exportadoras de commodities em alta, receitas em dólar, elevada liquidez, boas pagadoras de dividendos.

dólar
Foto: Envato

O economista da Valor chama a atenção para as condições conjunturais e pontuais por trás da perda de sustentação do dólar.  Além do efeito commodities na bolsa de valores, “é preciso considerar, como fator de atração de capitais externos e de baixa do dólar, a alta dos juros a uma velocidade que nenhum outro país emergente fez”.

A taxa Selic saiu de 2,00% ao ano, em março de 2021, para 10,75%, em menos de um ano, “e isso tornou o Brasil de novo o maior exportador de juros”, acredita. “E é isso também que o investidor estrangeiro olha, a taxa de juros atraente, ao trazer dinheiro para aplicar na renda fixa do País.”

Os capitais que chegam, em geral dólares, precisam ser convertidos em moeda local, o real, para a compra de ações ou aplicação em renda fixa. Um processo de troca que aumenta a demanda pelo real, com propensão à sua valorização, e a oferta de dólares, com consequente desvalorização.

Carvalho lembra também que este é um ano de eleição presidencial, quando o dólar costuma subir, porque, dependendo do cenário político, esse dinheiro, conhecido como smart money, pode ir embora rapidinho.

“É um capital que entra rápido e pode sair a qualquer hora”, em cenário de tensão ou incerteza eleitoral. “Aí está o motivo pelo qual, embora o dólar esteja testando o suporte de R$ 5,00, no momento, a previsão para o fim de ano do boletim Focus é um dólar na casa de R$ 5,50.”

Dólar vem para renda fixa também

Ainda assim, por enquanto o que o gringo vem fazendo nesse momento de valorização do real é o carry trade, para surfar na onda dos juros altos que o Brasil oferece, comparados com os internacionais perto de zero. A ampla diferença de juros rende polpudos ganhos para quem traz o dinheiro barato captado no exterior para aplicação em renda fixa aqui.

“É uma alternativa bem interessante, que, calculam alguns analistas, poderia trazer o dólar a R$ 4,80, visto como um preço justo”, afirma o economista da Valor Investimentos. A dúvida, pontua, é saber até quando ou onde pode ir esse movimento de queda do dólar por aqui, movida por fatores pontuais, na contramão do que ocorre nos mercados internacionais.

Carvalho lembra que os juros americanos começam a subir este mês, “o que deve levar o dólar a se valorizar não só em relação ao real, mas também a uma cesta de moedas”. E ainda que o dólar é muito sensível à questão fiscal, um tema que tende a causar cada vez mais preocupação ao mercado financeiro neste ano eleitoral.

É um cenário que não pode ser descartado, alerta. E faz uma sugestão para quem pensa ou planeja uma viagem internacional mais à frente. “Talvez seja a hora de ter uma exposição ao dólar. Aproveitar para comprar o dólar aos poucos, principalmente nos momentos de queda a mais acentuada, para fazer um estoque com preço médio bem interessante.

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Sobre o autor
Tom Morooka
Colaborador do Portal Mais Retorno.