Alívio nos preços das commodities; analistas explicam os principais motivos
Preços podem voltar a subir se a guerra se prolongar por muito mais tempo
Um ligeiro arrefecimento na guerra entre Rússia e Ucrânia, nas últimas semanas, com passos ainda tímidos rumo a um acordo e cessar-fogo, mudou a direção da cotação de várias commodities, como petróleo, minério de ferro e grãos – como milho e soja – que tiveram fortes altas ao longo do conflito.
Segundo relatório do BTG Pactual um dos fatores que provocou a inversão nos preços do petróleo, trazendo-os para perto de US$ 100/barril, depois de batido quase os US$ 150, foi a garantia de continuidade da exportação da commodity pela Rússia, que hoje é a terceira maior produtora do mundo.
Outro fator que ajudou a trazer o preço da commodity para baixo foi o anúncio de liberação de reservas estratégicas dos Estados Unidos. O governo norte-americano decidiu liberar 180 milhões de barris de petróleo de suas reservas estratégicas, diluídos por um período de seis meses (1 milhão de barris/dia), para reduzir o impacto inflacionário da alta das cotações da commodity.
No entanto, na visão da casa de análise, a atitude da Casa Branca não será suficiente para equilibrar o quadro de oferta atual.
“Entendemos que esta medida não soluciona o quadro apertado da oferta global, majoritariamente explicado pela produção da OPEP+ ainda cerca de 4 milhões de barris/dia abaixo do potencial estimado. Por outro lado, as recentes revisões de crescimento econômico global mudaram as perspectivas para a demanda por combustíveis, trazendo viés de queda para as cotações. Neste mesmo direcional, a evolução das conversas para um cessar-fogo na Ucrânia reduziu o temor em relação à oferta russa, que poderia tornar o quadro mais apertado”.
BTG Pactual, em documento
Algumas casas apostam que se a guerra continuar, o preço do barril pode chegar a mais de US$ 180, como é o caso do JP Morgan. Nos últimos 12 meses, o petróleo subiu 66% e 29% no ano.
Minério de ferro
O desaquecimento da atividade econômica chinesa, puxado por novos lockdowns para conter o avanço da covid-19 no país está “travando” os preços do minério de ferro – hoje na casa dos US$ 153/tonelada - segundo o BTG. Mas a tendência de alta pode voltar, com a injeção de estímulos monetários por parte do governo.
“O crescimento econômico alvo do governo chinês para este ano, 5,5%, está mais distante devido ao primeiro trimestre ocupado por restrições de mobilidade social e pela política de céu azul (contenção da produção siderúrgica). Por outro lado, em encontro no final do mês passado, o Conselho de Estado insistiu que irá preservar no cumprimento da meta”, aponta a casa de análises.
BTG, em relatório
Para o BTG, a tendência é que o PBoC (Banco do Povo da China) adote cortes nas taxas de juros e de compulsório, flexibilizando o mercado de crédito. Além disso, do ponto de vista fiscal, várias cidades adotaram medidas para apoiar os mercados imobiliários.
Commodities em grão: soja e milho
De acordo com o relatório do BTG, o noticiário militar menos povoado provocou reversão na alta das cotações das commodities, incluindo os grãos, com destaque para o milho e a soja, que também estão sendo afetados em relação à demanda da China.
Os analistas da casa apontam que não só “eventos de cauda”, como a guerra e a pandemia, afetaram o desempenho, mas também números importantes do USDA, (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, na sigla em inglês).
“A entidade norte-americana estima que pela primeira vez na história a área de cultivo de soja será superior à direcionada para o milho, o que contrata viés baixista para a primeira e neutro para a segunda, considerando que ainda depende dos números finais da Argentina e da evolução do conflito na Europa para consolidar direcional para os próximos meses", aponta a casa de análises.
O USDA reduziu novamente a estimativa para a produção de soja para a safra de 2021/22, em cerca de 3,1 milhões de toneladas. O ajuste nos números ficou novamente concentrado nas culturas da América do Sul, que sofrem com perdas de produtividade das commodities devido ao fenômeno La Niña.
A redução mais significativa foi no número da produção brasileira, com queda de 2,0 milhões de toneladas.
“Vale ressaltar que estes números não trouxeram revisão na safra da Argentina, que sofreu perdas com a La Niña e também nenhuma alteração nos números ucranianos, que vive conflito com a Rússia”, enfatizou o BTG.
O avanço da segunda safra brasileira de milho, com números da Conab e do USDA revisados para cima, a área de cultivo baixa nos EUA e a situação geopolítica ainda indefinida na Europa deixam cenário incerto para o milho nos próximos meses.
“Estes elementos podem pressionar as cotações à frente, visto que a demanda pelo milho segue resiliente e o trigo, substituto para rações, também está sofrendo revisões baixistas devido ao conflito na Ucrânia”, conclui.
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