Tesouro Direto ganha brilho com juros altos, ao oferecer proteção e rentabilidade maior; saiba escolher o título
Títulos oferecem estratégia defensiva contra alta dos juros e da inflação
Os títulos do Tesouro Direto ganharam dupla atratividade na renda fixa com a alta dos juros: oferecem ao mesmo tempo uma estratégia defensiva, seja contra a alta da inflação ou dos juros, de baixo risco e retorno mais seguro, e de rentabilidade interessante. Diferentemente do que ocorria há um ano, quando os juros estavam no chão.
O investidor tem acesso a três modalidades de título na plataforma do Tesouro Direto: os prefixados, os pós-fixados e os atrelados à inflação. Cada um com apelo próprio adequado ao cenário de inflação e juros e aos objetivos de quem investe: possibilidade de proteção contra a inflação com garantia de juro real, trava de rendimento pelo pico de juro, em uma perspectiva de queda das taxas, e vinculação de rentabilidade à Selic, em processo de alta.
Tesouro Direto que oferece proteção contra a inflação, com juro real
O Tesouro IPCA, o mais procurado recentemente pelos investidores, tem uma rentabilidade híbrida, formada por juro prefixado, que o investidor conhece previamente ao comprar o título, e correção monetária pós-fixada, de acordo com a variação da inflação calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
São dois tipos de título: um com pagamento de juros a cada seis meses, o Tesouro IPCA com Juros Semestrais, e outro em que o investidor recebe o rendimento total (juros e correção monetária) ao resgatar o título, no prazo final de vencimento.
Os títulos são oferecidos com variadas datas de vencimento, desde as mais curtas até as mais longas. Em geral, os vencimentos guardam um intervalo de cinco, sendo que o mais longo prevê o resgate em 2055.
A data de vencimento é item importante porque a rentabilidade estampada no título é garantida apenas ao investidor que fizer o resgate no vencimento. Se revender o papel ao Tesouro pelo caminho, fora do vencimento, receberá o que for calculado de acordo com o valor do título, que poderá ser inferior ao de face, na hora do resgate.
Título que retoma atratividade, com a alta da Selic
Um título que vem atraindo a atenção com os juros em alta e pode ter o apelo reforçado é o Tesouro Selic, com rendimento pós-fixado indexado à Selic. Escanteado durante o período em que a taxa básica esteve orbitando ao redor da mínima histórica de 2%, há um ano, a atratividade desse título aumenta à medida que a Selic escala patamares mais altos.
A expectativa é que o juro básico em dois dígitos, como se estima para a próxima reunião do Copom, em fevereiro, devolva ao Tesouro Selic o apelo perdido durante a temporada de juros rasteiros.
Tesouro Direto prefixado pode travar rendimento com juros no pico
O Tesouro Prefixado propõe remunerar com juro real e correção monetária embutido em uma só taxa, que está em torno de 11,00% ao ano para um título como o Tesouro Prefixado 2024, com vencimento em 1º/7/2024.
Comparada com a Selic de 9,25% ao ano, é uma taxa à primeira vista atraente, mas, por ser prefixada, deve ser bem avaliada. Ela só proporcionará ganho real se a inflação em cada um dos anos, até o vencimento do título, for inferior a 11,00% ao ano. Se ficar acima, quem estiver com o papel terá rendimento negativo.
Como avaliar cada título
O juro real prefixado do Tesouro IPCA varia de acordo com as expectativas de inflação e juros dos agentes econômicos e do mercado financeiro. Ele ronda a casa de 5% ao ano, atualmente, mas chegou a encostar em 6%, em momentos de estresse mais intenso no mercado.
Um cenário de controle da inflação e sua recondução à meta, pelas mãos de uma política monetária mais dura do Banco Central, pode achatar esse juro real. Um ganho que quem comprar o título agora poderia travar e surfar com ele em ambiente de juro mais baixo até o vencimento.
De todo modo, é um título que pode passar por forte volatilidade, com bruscas oscilações em seu valor de face, em momentos de turbulências no mercado financeiro, que tendem agravar-se no período eleitoral.
Quanto mais longo o prazo do papel, maior costuma ser a volatilidade. Quedas no valor do título, que assustam investidores ao longo do caminho, podem não passar de dado contábil e ser compensadas, se o investidor permanecer abraçado a ele até o vencimento, quando receberá de volta o capital aplicado com o rendimento combinado.
Especialistas veem vantagem também no Tesouro Selic, à medida que a taxa básica avança rumo ao suposto pico, no intervalo entre 11,50% e 12% ao ano, no fim do atual ciclo de elevação, entre fevereiro e março.
Até agora, a Selic, embora em contínua elevação (sete altas), vem caminhando abaixo da inflação, mas a expectativa é que ocorra uma inversão de trajetórias e a taxa básica passe a rodar acima do IPCA. Nesse cenário, caso a Selic seja mantida em nível elevado mesmo com a inflação em queda, o Tesouro Selic seria uma das aplicações mais beneficiadas.
O Tesouro Prefixado também acena com vantagens, segundo especialistas, se a política monetária de combate mais duro à inflação for bem-sucedida. Nesse caso, o juro prefixado desse papel, que chegou a mais de 12% ao ano, poderia vir abaixo de 11%. Como já ocorre com o título que vence em 2026, com taxa de 10,80% nesta virada de ano.
Analistas insistem em lembrar, contudo, o cuidado com aplicações prefixadas. Mas, em um cenário mais benigno de inflação, uma taxa prefixada em torno de 11% estaria bastante atraente com a possível volta do IPCA ao centro ou ao teto da meta inflacionária nos próximos anos.
O primeiro boletim Focus de 2022, divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira, estampou uma inflação de 5,03% estimada pelos economistas do mercado financeiro para este ano. A projeção continua acima do centro da meta de 3,50% e do teto, 1,50 ponto porcentual acima. Ainda assim, a Selic prevista no mesmo relatório para o fim de 2022, de 11,50%, equivale a mais que o dobro do IPCA projetado.
Os títulos do Tesouro são recomendados, portanto, para quem prefere um caminho de proteção ao capital, em um cenário de instabilidade e turbulências esperadas para o ano. Uma tática de retranca sem abrir mão também de rentabilidade, derivada de juros altos.