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FED deve iniciar alta dos juros americanos no 1º trimestre de 2022, acredita SPX

No Brasil, situação se deteriora com inflação e queda da atividade; PIB deve avançar 0,5% em 2022

Data de publicação:14/12/2021 às 05:00 - Atualizado 3 anos atrás
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Em sua carta aos investidores, a gestora SPX Capital relaciona as incertezas com que os mercados conviveram e estão encerrando o ano de 2021, expressa sua crença de que Fed (banco central americano) iniciará o processo de alta de juros a partir do 1º trimestre de 2022, e fala da situação cada vez mais complicada para o Brasil, ao retirar sua âncora fiscal, com deterioração da inflação e queda da atividade.

Gestora revisou para baixo crescimento da Europa com crise de energia e nova onda da pandemia

Retrospectiva 2021

As coisas pareciam caminhar bem no início do ano, relatam os analistas da SPX, com um cenário de crescimento global bastante robusto, apoiado no progresso da vacinação contra a covid-19 nas principais regiões do mundo e o consequente processo de reabertura, Paralelamente a isso, os estímulos monetários e fiscais implementados pelos governos e bancos centrais deram sua colaboração para sustentar as economias.

Ao longo de 2021, no entanto, o mundo enfrentou dificuldades que foram desde as idas e vindas da pandemia, passando por questões envolvendo o mercado imobiliário na China, até chegar em problemas nas cadeias de produção.

No último mês do ano os mercados se deparam com uma série de novas incertezas, entre elas a nova variante do coronavírus denominada de Ômicron, o início do processo de retirada de estímulos monetários pelo Banco Central americano, a forma com que o governo chinês tem lidado com sua matriz de crescimento. Além de uma possível crise energética em caso de um clima desfavorável durante o inverno no hemisfério norte.

Nova variante e crise de energia na Europa

Seria então algum desses fatores capaz de realmente tirar a economia global do trilho? Questionam os especialistas da SPX. Segundo eles, começando pela pandemia, a descoberta de uma nova variante do coronavírus, a ômicron, apresenta uma quantidade alta de mutações na sua estrutura levou o mercado a questionar se as vacinas e tratamentos convencionais ainda seriam válidos.

A verdade é que se sabe muito pouco sobre essa nova variante e embora pareça ser mais transmissível do que as anteriores, ainda não há muitas informações a respeito de quão forte ou letal ela seria e novos testes serão necessários.

De todo modo, por uma infeliz coincidência, o aparecimento da Ômicron se deu em um cenário em que diversas regiões do mundo, com destaque especial para a Europa, já vinham sofrendo com um novo surto de contaminação, e restrições de mobilidade das populações na Áustria, Alemanha, Bélgica e Holanda.

O novo contexto levou a gestora a revisar a expectativa de crescimento de PIB para a Zona do Euro. Novas restrições de mobilidade. Para a Alemanha, principal economia do bloco, a projeção de crescimento sequencial está perto de zero ao longo dos próximos dois trimestres.

Um outro risco que o continente europeu terá que enfrentar ao longo desse inverno é uma possível crise de abastecimento de energia.

Entre as principais razões estão: o baixo investimento no setor de energia, que levou a um declínio estrutural na produção de gás natural na região; problemas na geração de energia renovável causados por eventos extremos de clima esse ano; alta de preços de crédito de carbono diante de um projeto de descarbonização no continente; além da falta de uma maior oferta vinda da Rússia, os estoques de gás na Europa chegaram a níveis muito baixos, ao redor de 15% abaixo da média histórica.

Caso o inverno seja significativamente mais frio do que a média, o que até o momento tem acontecido, os estoques de gás que já estão baixos cairão ainda mais, o que levaria a preços não só de gás, mas do complexo de energia como um todo para níveis ainda mais elevados, gerando mais inflação e, possivelmente, forçando os governos a terem que adotar medidas de restrição de consumo.

Retirada de estímulos nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos, o grande destaque no mês de novembro foi o anúncio por parte do Banco Central do início do processo de retirada de estímulos monetários via redução de compras de títulos públicos, traz a carta da SPX.

A economia americana apresenta números sólidos de crescimento, o mercado de trabalho continua se recuperando, ao mesmo tempo em que a inflação não dá sinais de arrefecimento. Nesse ambiente, porta-vozes do Fed passaram a demonstrar maiores preocupações com o grau de estímulo na economia, e disposição para agir em caso de necessidade.

O debate sobre os altos níveis de inflação transcendeu o Banco Central americano e passou a ser tópico constante de discussão na mídia americana, bem como entre os membros do próprio governo Biden.

Assim, acreditamos que o Fed iniciará o processo de alta de juros a partir do 1º trimestre de 2022 para um total de quatro altas no ano.

SPX Capital

Economia chinesa em desaceleração

De acordo com o relatório da SPX, na China, a economia permanece em processo de desaceleração. O mercado imobiliário, um dos grandes alvos do governo em termos regulatórios e responsável por aproximadamente 25% do PIB do país, ainda não deu sinais de reação. Apenas em outubro, a venda de casas novas registrou queda de pouco mais de 20% em relação ao mesmo período do ano passado.

Nas últimas semanas, o governo chinês passou a adotar um discurso um pouco mais otimista, com mudança de linguagem no relatório trimestral de política monetária do Banco Central, e algumas medidas iniciais de suporte ao setor imobiliário, embora estas ainda pareçam insuficientes para reverter a tendência negativa no setor.

Nesse sentido, a conferência central de trabalho econômico que é realizada anualmente em dezembro para definir os objetivos e metas para o ano seguinte se torna um importante evento a se monitorar. Caso não haja um suporte maior à economia, dificilmente a China conseguirá atingir o seu crescimento potencial em 2022, ao redor de 5-6%.

Situação se deteriora no Brasil

Diante de todas as incertezas citadas e o provável cenário externo menos favorável para as economias emergentes, o Brasil segue com seus erros e preocupações.

A sinalização do rompimento no teto dos gastos é extremamente negativa e deixa o país em situação mais frágil diante desse cenário global mais difícil, de acordo com a SPX. Nesse ambiente já incerto, a inflação se deteriora, com destaque para os núcleos que têm rodado em níveis que há muito tempo não se via no país. O Banco Central tem reagido via aumento da Selic, porém não o suficiente para compensar a piora da inflação e das expectativas.

Na parte da atividade, os dados recentes trouxeram novidades negativas, o que, juntamente com os efeitos defasados da política monetária, deve acabar levando a economia brasileira para uma recessão em meados de 2022. “Atualmente, projetamos uma queda de 0,5% do PIB no ano que vem”, afirma a gestora.

No campo político, as articulações em prol de uma terceira via seguem muito confusas. A entrada do ex-juiz Sérgio Moro no jogo torna ainda mais difícil fazer previsões nesse momento.

Sobre o autor
Regina PitosciaEditora do Portal Mais Retorno.