Economia

Cenário doméstico justifica alta da Selic, com inflação acima de 10% e real desvalorizado, diz economista da Rico

Ciclo de aperto monetário deve levar o IPCA a encerrar o ano que vem no patamar de 5,2%

Data de publicação:08/12/2021 às 05:00 - Atualizado 2 anos atrás
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Na noite desta quarta-feira, 08, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) divulga a nova Selic, taxa básica de juros, na última reunião do ano do colegiado. As expectativas do mercado são, predominantemente, de uma alta de 1,5 ponto percentual na taxa, que hoje está em 7,75% ao ano, levando a Selic a encerrar 2021 em 9,25% ao ano, maior patamar desde julho de 2017.

O principal objetivo do BC ao aumentar ou diminuir os juros é controlar a inflação do País. Atualmente, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal indicador da inflação no Brasil, está em 10,67% no acumulado de 12 meses até outubro. Com a pressão inflacionária ainda em um patamar muito elevado, especialistas esperam que o Copom mantenha o ciclo de aperto monetário até meados de 2022, a fim de reduzir a escalada dos preços.

Copom deve elevar a Selic, taxa básica de juros, em 1,5 ponto percentual nesta quarta-feira, 07

Nesse contexto, a chefe de economia da Rico Investimentos, Rachel de Sá compartilha da opinião de que o Copom deve elevar a Selic em 1,5 ponto percentual, chegando a 9,25% ao ano, na reunião desta quarta-feira. Além disso, ela considera que, para 2022, a taxa de juros deve chegar a 11,50% em março.

Atual cenário doméstico é propício para a elevação da Selic

Para a equipe econômica da Rico, há alguns fatores predominantes que podem levar o BC a manter o ciclo de aperto monetário.

  • Inflação corrente ainda bastante alta, com o IPCA acima de 10% no acumulado em 12 meses;
  • Preços ao produtor ainda altos no Brasil e no mundo, que devem ser repassados ao consumidor em breve;
  • Moeda nacional ainda desvalorizada frente ao dólar, por conta da elevada percepção de risco;
  • Campos político e fiscal seguem com muitas incertezas

Rachel explica que "sem uma solução permanente para o aumento de gastos do governo e o orçamento de 2022, em meio às discussões sobre a PEC dos Precatórios no Congresso, o risco fiscal continua alto". A piora da percepção do risco fiscal, no entanto, impacta todos os ativos brasileiros, inclusive o real, levando o dólar a se valorizar cada vez mais.

"Um dólar mais alto pressiona ainda mais a inflação, uma vez que insumos para a produção de muitos bens são baseados na moeda americana, ou mesmo importados, como a gasolina e a farinha do pãozinho francês", ressalta a economista.

As surpresas do último mês

Entretanto, Rachel comenta, também, que desde a última reunião do Copom algumas surpresas, que podem impactar nas próximas decisões do colegiado, surgiram. "No cenário internacional, as commodities começaram a finalmente dar uma trégua - especialmente o petróleo, também impactado por receios de impactos da variante ômicron da covid-19", afirma.

Além disso, no Brasil, a atividade econômica começou a dar sinais de enfraquecimento. O PIB do terceiro trimestre apresentou queda de 0,1%, o que levou o País a entrar em recessão técnica. A economista pontua que a desaceleração do crescimento faz com que a pressão inflacionária perca força. "Afinal, com pessoas consumindo e demandando menos, e desemprego ainda alto, os preços não ficam tão pressionados para cima", diz ela.

Perspectivas para a taxa de juros e a inflação no próximo ano

De acordo com Rachel, a situação da escalada dos preços deve continuar "complicada" pelos próximos meses. Assim, as expectativas são que o Copom faça "tudo o que estiver no alcance para que a inflação alcance a meta, de 3,5% no ano que vem, no horizonte relevante de política monetária".

A economista explica que o horizonte relevante de política monetária é, na verdade, o período entre a decisão sobre a elevação ou recuo da Selic e o efeito disso na economia real. Ou seja, é o tempo que a alta nos juros leva para, de fato, conseguir impactar a inflação e vice-versa. No Brasil, esse período tende a ser de seis a nove meses.

"Mas o importante a destacar é que, conforme nos aproximamos do final do ano, os esforços do Copom se dirigem ao ano seguinte, dado que a elevação de juros hoje não impacta a inflação sentida hoje".

Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos

Para a equipe econômica da corretora, com a elevação da Selic até o patamar de 11,50% ao ano em março de 2022, o Banco Central conseguirá trazer o IPCA para cerca de 5,2% até o final do ano.

Como investir com a Selic em alta?

Rachel considera que no atual cenário de juros em alta, a renda fixa voltou a ganhar bastante relevância e atratividade. De acordo com a economista, "títulos de renda fixa indexados à inflação ajudarão (o investidor) a proteger o patrimônio de toda essa incerteza de preços, assim como os fundos de investimento de renda fixa".

No entanto, mesmo com essa classe de ativos ganhando mais força no mercado, outros investimentos também continuam se apresentando como boas oportunidades. A especialista ressalta, ainda, a importância da diversificação do portfólio a fim de otimizar os resultados.

Para ela, "investimentos internacionais podem trazer tanto diversificação geográfica, quanto de risco. Isso porque ativos dolarizados podem servir de proteção contra uma eventual desvalorização ainda maior da nossa moeda". Segundo Rachel, fundos de investimento internacionais, BDRs (recibos de ações estrangeiras negociados na B3) e ETFs (fundos de índice negociados em Bolsa) são alternativas simples para acessar investimentos de fora do País.

Entenda o ciclo de aperto monetário

No ano passado, com a chegada da pandemia de covid-19 ao Brasil e todas as suas consequências - das medidas restritivas aos impactos econômicos -, o Banco Central passou a reduzir a Selic. O objetivo era estimular a atividade econômica. Dessa forma, no começo de 2021, a taxa de juros chegou ao patamar de 2,0% ao ano.

Porém, com o avanço da inflação causado, sobretudo, pelos problemas nas cadeias de produção mundo a fora, o que diminuiu e encareceu a oferta de diversos produtos, como as commodities, por exemplo, a instituição adotou uma postura mais dura. Assim, a partir de março deste ano, começou o ciclo de aperto monetário, único instrumento do BC para conter a escalada dos preços.

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Trajetória da Selic ao longo de 2021

Data da reuniãoTaxa Selic
20 de janeiro2,0% ao ano (vigente desde agosto de 2020)
17 de março2,75% ao ano
05 de maio3,50% ao ano
16 de junho4,25% ao ano
04 de agosto5,25% ao ano
22 de setembro6,25% ao ano
27 de outubro7,75% ao ano

Com Rachel de Sá, em artigo publicado na Riconnect

Sobre o autor
Bruna MiatoA Mais Retorno é um portal completo sobre o mercado financeiro, com notícias diárias sobre tudo o que acontece na economia, nos investimentos e no mundo. Além de produzir colunas semanais, termos sobre o mercado e disponibilizar uma ferramenta exclusiva sobre os fundos de investimentos, com mais de 35 mil opções é possível realizar analises detalhadas através de índices, indicadores, rentabilidade histórica, composição do fundo, quantidade de cotistas e muito mais!