Saúde e criptomoedas estão entre as ações internacionais mais negociadas pelos brasileiros em agosto
Apesar do interesse em outros setores, as big techs seguem se mantendo entre as mais preferidas
Para se proteger dos riscos locais, como o fiscal e o político, os brasileiros estão cada vez mais em busca de investir em ativos internacionais. Segundo um levantamento feito pela plataforma Stake, além das big techs – tradicionalmente entre as mais populares no País – em agosto os investidores buscaram empresas da área de saúde, do mercado financeiro e de criptomoedas.
Uma das companhias que estreiam no ranking, ainda que nas últimas posições, mas que chama a atenção é a farmacêutica Moderna, que é responsável pela fabricação de uma das vacinas contra a covid-19 disponíveis no país.
Apesar de não ter o imunizante disponibilizado para o mercado brasileiro, o que chamou a atenção dos investidores aqui em relação à Moderna foi o crescimento vertiginoso da empresa neste ano – até agora de 140%. “Essa expansão da farmacêutica foi bem acima do esperado”, afirma a estrategista de ações da XP, Jennie Li.
Segundo ela, a companhia vinha contabilizando prejuízos, porém conseguiu virar o jogo ao ter sua primeira vacina - para a covid-19 – aprovado pelo FDA (a Anvisa americana).
“A Moderna também tem potencial de receber um sinal verde do governo americano para fazer parte da nova leva de imunizações contra a covid. Além disso, a chance de a vacina da covid se tornar regular é grande, o que potencializa ainda mais as ações da empresa”, ressalta Araujo.
Outro fato que reforça o interesse é que a empresa segue na expectativa de ser incluída na nova fase de vacinação, referente à terceira dose, nos Estados Unidos, de acordo com Vinicius Araujo, analista internacional da XP. Por enquanto, somente o imunizante da Pfizer recebeu essa aprovação.
Dados
Outra companhia que foi bastante negociada pelos brasileiros foi a Palantir, startup americana do setor de dados que ficou conhecida por ajudar o governo do país a capturar o líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden.
Listada na bolsa de Nova York desde outubro do ano passado, a empresa, fundada por Alex Karp em 2004, se tornou especialista em soluções para governos.
Com um valor de mercado próximo a US$ 22 bilhões, a empresa despertou o interesse dos brasileiros, segundo analistas, por conta do momento em que os EUA viveram com a retirada de suas tropas do Afeganistão.
Durante o trimestre passado, a empresa recebeu um pedido da National Nuclear Security Administration (NNSA), agência semiautônoma do Departamento de Energia dos Estados Unidos para reforçar a segurança nacional do país por meio de aplicação militar da ciência nuclear.
Em um contrato de cinco anos, a Palantir irá fornecer uma plataforma para gerenciamento de informação e tomada de decisão com base em dados.
Ações meme
Outra presença inusitada no ranking de ações internacionais da Stake é a Robin Hood. A plataforma de ações e criptomoedas com base nos EUA fez seu IPO (abertura de capital) avaliado em US$ 40 bilhões no final de julho e sua volatilidade inicial atraiu muitos investidores.
“Se pudermos fazer uma analogia, o Reddit (fórum de discussão) se tornou o ‘pai’ das ações meme e a Robin Hood, a ‘mãe’. É pelo fórum que os investidores de varejo combinam a compra de ações, e é pela corretora que eles efetivam as aquisições”, avalia o analista internacional da XP.
Araujo destaca que, a exemplo de casos como a AMC – que também marca presença na lista de empresas mais negociadas pelos brasileiros lá fora – e a GameStop, a própria Robin Hood se tornou uma ação meme. “Após o IPO da companhia, que ocorreu no início de agosto, as ações subiram 80% poucos dias depois. E depois caíram”.
Criptomoedas
Em destaque no mundo, as criptomoedas viraram um dos temas preferidos dos investidores por conta dos ganhos expressivos obtidos por quem apostou nesse ativo nos últimos anos.
A empresa americana de mineração de bitcoins Bit Digital ocupou o último lugar na lista, mas já demonstra a busca dos investidores em apostar em um mercado com mais risco.
“O mercado de bitcoin é um ativo que está em alta, apesar da forte volatilidade. Porém, as remunerações foram expressivas, o que está chamando a atenção dos brasileiros na busca por diversificar seus ativos”, analisa Jennie.
As ‘queridinhas’
Segundo Rodrigo Lima, analista de investimentos e editor de conteúdo da Stake, as “queridinhas” dos brasileiros – as big techs – permanecem no topo das ações mais negociadas.
Ele destaca a mudança de posição da Tesla, que após perder algumas posições no ranking do mês passado, voltou a ocupar o topo, “mesmo que seu desempenho deste ano não corresponda ao de 2020”.
“Os investidores continuam confiantes na visão tanto da empresa quanto de Elon Musk. A apresentação do robô humanoide da empresa no final do mês passado pode ter ajudado a contribuir para essa disparada no interesse dos brasileiros pela empresa”, enfatiza Lima.
Pulando para a terceira posição, o analista da Stake destaca que a empresa de tecnologia Nvidia ganhou mais destaque em agosto à medida que a escassez global de semicondutores continua e a mineração de criptomoedas cresce.
Oferecendo um produto de alta demanda e com restrições de oferta, o índice de semicondutores subiu 25% em 2021 e, com ele, a Nvidia valorizou 71% este ano, de acordo com os dados fornecidos por Araujo.
“A procura por produtos da Nvidia pelos mineradores de criptografia é tão grande que a empresa teve que limitar o fornecimento alocado para atividades de criptografia. Esse fato também levou ao aumento do preço das ações”, destacou.