Tecnologia e saúde: os ETFs internacionais preferidos dos brasileiros
Proteção cambial e de riscos sistêmicos são os fatores que mais impulsionam os investimentos neste tipo de ativo
O brasileiro continua buscando diversificar seu portfólio com ativos internacionais, por meio dos ETFs (Exchange Traded Fund), e apostando nos mesmos produtos.
Segundo o levantamento feito pela plataforma Stake, muitos fundos que estiveram no ranking dos mais negociados pelos brasileiros no período somente trocaram de posição. E as empresas de tecnologia seguem com presença forte entre eles.
De acordo com o analista de investimentos e editor de conteúdos da Stake, Rodrigo Lima, analisando as mudanças de posições no ranking, nota-se que uma tese que parece ter perdido força entre os investidores é a da alta da inflação nos Estados Unidos.
“Vemos que o IAU, ETF que investe em ouro, perdeu posições, assim como o UVXY, que aposta de maneira alavancada no VIX, o índice do medo, que teve um grande pico em maio, quando os temores sobre a inflação abalaram os mercados”, aponta Lima.
O analista complementa que, com quedas significativas nos preços das commodities, como madeira e minério de ferro, “o mercado parece acreditar que a inflação é realmente um fenômeno transitório causado pela reabertura da economia, que distorce momentaneamente preços de setores específicos”.
Mudanças
Segundo a Stake, observou-se, no período, grandes volumes negociados no ETF de inovação da empresa Ark – o ARKK – e no QYLD, que faz o lançamento de opções cobertas sobre o índice da Nasdaq, e busca gerar um rendimento extra ao investidor que deseja se expor a esse índice.
Outra mudança que chamou a atenção de Lima foi o ganho de posições do VNQ, fundo de índice da Vanguard, que investe em REITs, os fundos imobiliários americanos. “É possível notar que o aumento do interesse por esse tipo de investimento seja explicado pelo debate de tributação sobre os rendimentos dos FIIs no Brasil com a reforma tributária”, reforça o analista da Stake.
“Os FIIs podem perder a isenção do Imposto de Renda e, com isso, tornar mais atrativo o investimento no exterior”, complementa.
Proteção e novos mercados
Para o especialista da Valor Investimentos, Virgilio Laje, o interesse dos brasileiros em ETFs internacionais está relacionado ao fato de que esse tipo de ativo oferece uma das melhores alternativas para proteger o capital do risco sistêmico. E a busca, segundo ele, tem sido algo mais intenso entre a nova geração de investidores.
“Esse público tem buscado diversificar sua carteira com opções de ETFs ligados à tecnologia, energia renovável e criptomoedas, do que fazer investimentos ligados às commodities”, analisa.
O ETF QQQ, que tem lastro com as 100 empresas mais fortes da Nasdaq, incluindo as big techs, ocupou o topo do ranking de julho. Para Laje, os investidores menos inexperientes, para chegar nas grandes corporações de tecnologia, preferem seguir o caminho dos ETFs em vez de investir diretamente em ações dessas empresas.
Outro aspecto, segundo ele, diz respeito ao fato de que os brasileiros acreditam que são empresas que integram uma “carteira inquebrável”, com risco pequeno. “Na visão deles, somente uma crise mundial poderia quebrar as big techs”. No Brasil, não há um ETF semelhante ao QQQ.
Grandes corporações americanas
Apostar em ETFs ligados ao índice americano S&P 500, que reúne as 500 maiores empresas dos Estados Unidos, também se mantém no radar dos investidores brasileiros. Para o especialista da Valor, a proteção cambial tem sido um dos fortes apelos desses investimentos. No Brasil, a B3 oferece o IVVB11, também atrelado ao S&P 500, porém opera na moeda local do País.
“O real deve se desvalorizar, o risco político tem deixado os investidores apreensivos, as empresas americanas seguem crescendo com a retomada econômica. Tudo isso tem feito o interesse dos brasileiros se voltarem para ETFs lastreados ao S&P 500”, avalia.
Mercado imobiliário
Como destacado pelo analista da Stake, uma das grandes surpresas foi a presença do ETF REIT Vanguard entre os primeiros lugares do ranking.
Atrelado a fundos de propriedades americanas, segundo Laje, apresenta um risco maior. “Se o mercado imobiliário passar por uma crise, como a do subprime em 2011, esse ativo é o primeiro a ser atingido”.
Tecnologia
Gerido pela ARK Innovation, o ETF ARKK reúne desde as big techs quanto empresas do setor de tecnologia que estão começando, que tratam de temas como biotecnologia, novas tecnologias disruptivas e internet.
De acordo com o especialista da Valor, é um ativo mais agressivo que tem tido uma evolução de retorno significativa e melhor do que o entregue pelo Nasdaq 100.
Para a estrategista de ações da XP, Jennie Li, a Bolsa brasileira não tem uma forte presença de empresas de tecnologia – é guiada, em grande parte, por empresas de commodities – o que faz com que os brasileiros busquem ter acesso a esses mercados via ETFs.
Saúde
Outro mercado que tem forte presença na bolsa americana é o de healthcare. E um dos segmentos que tem chamado a atenção dos brasileiros é o de desenvolvimento de medicamentos a base de cannabis.
Presente nos últimos rankings, o ETF ETFMG Alternative Harvest, que replica investimentos alternativos, incluindo empresas focadas na contribuição do cannabis para a saúde.
“É um setor que está muito em alta ultimamente, pois tem trazido tendências que serão fundamentais para o mercado de saúde nos próximos anos, principalmente sobre a utilização de medicamentos a base de cannabis para problemas neurológicos”, avalia Laje.
Dividendos
Reunindo empresas americanas que mais pagam dividendos atualmente, o ETF Global X SuperDividend (SRET) chamou a atenção dos brasileiros pelo retorno oferecido neste ano. No acumulado, está em torno de 14,35%.
De acordo com Jennie Li, da XP, a reforma tributária no Brasil trouxe bastante preocupação aos brasileiros sobre os retornos das ações locais. “Os investidores estão buscando por alternativas para continuar recebendo proventos”.
Proteção
Com a crise econômica por conta da pandemia, os investidores buscaram acrescentar ativos de proteção em suas carteiras. Quando se fala em investimentos internacionais, a preocupação também se mostra presente.
O ETF UVXY, conhecido como “índice do medo”, é acrescentado nas carteiras, de acordo com o especialista da Valor, como hedge. “É um ETF que aposta no caos econômico. Oferece mais proteção do que rentabilidade. É um importante ativo que reduz as perdas em momentos de crise”.