Empresa

Nubank não é mais o maior banco da América Latina, mas é opção interessante no longo prazo

Banco é considerado a maior instituição financeira digital e deve ter um desempenho favorável nos próximos anos

Data de publicação:20/01/2022 às 03:09 - Atualizado 2 anos atrás
Compartilhe:

O Nubank perdeu a posição de banco mais valioso da América Latina, mas ainda é o maior banco digital da região. Mesmo sendo atropelado pela perspectiva de alta dos juros e por isso mesmo exposto a riscos, os BDRs da fintech Nubank ainda podem ser uma boa alternativa de investimento, segundo analistas, especialmente para o investidor que mira o longo prazo.

Contam a seu favor, a expectativa sobre seu desempenho operacional e geração de receita favorável nos próximos anos. Do outro lado da balança pesam a alta dos juros, impedindo que o banco concretize as boas perspectivas.

Flávio Oliveira, da Zahl Investimentos, aponta um horizonte promissor para o Nubank no longo prazo - Foto: Divulgação

Para eles, a visão de curto prazo neste investimento deve ser descartada pelos investidores, pelo fato de o Nubank ser considerado uma empresa de crescimento, que normalmente é afetada em cenários econômicos mais adversos, como o aumento da taxa de juros – algo que está sendo sinalizado pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para ocorrer mais rápido do que o previsto – para conter o avanço da inflação.

O momento de alta na renda fixa americana - com os Treasuries avançando a passos largos - deve penalizar as ações, segundo Flávio Oliveira, head de Renda Variável da Zahl Investimentos.

“Entrando agora na temporada de resultados podemos ver algumas discrepâncias maiores nas empresas que divulgarem resultados muito acima ou muito abaixo do consenso de mercado. Normalmente, as expectativas em cima de empresas de growth (crescimento), como é o caso do Nubank, são bem elevadas. Uma decepção nesses números pode achatar ainda mais o preço dos papéis da companhia”.

Flávio Oliveira, da Zahl Investimentos

Para Everton Medeiros, especialista da Valor Investimentos, o movimento de queda mostra que o cenário de estresse pelo qual a economia passa afeta mais o banco do que o que seria permitido pelo valuation otimista do IPO.

“Em outras palavras, as ações do Nubank abriram em um patamar no qual não há margem para eventos adversos, como aumento da inadimplência e aceleração da taxa de juros. Com o desafio de rentabilizar sua base em um patamar mais elevado ainda não superado, há a penalização das ações do banco”, reforça.

Mercado precificou o Nubank com um valor muito alto

Um outro fato que levou à queda nos papéis da Nubank, segundo os especialistas, foi a alta precificação da instituição financeira, que fez seu IPO nos Estados Unidos valendo cerca de US$ 42 bilhões, valor bem acima do maior banco privado do Brasil – no caso, o Itaú – de US$ 39,5 bilhões. No meio deste mês, esse montante já tinha recuado para US$ 37,4 bilhões.

Para Medeiros, precificar um banco digital que ainda passa por um processo de melhoria da rentabilidade de sua base e diversificação do portfólio em um nível acima de bancos tradicionais como o Bradesco, Itaú e Santander pode ser muito arriscado.

“No longo prazo, é válido manter uma posição em bancos digitais, pois ele apresenta uma lógica operacional que complementa a que é vista nas outras frentes da indústria. Além do próprio Nubank, o banco Inter também vem sofrendo na sua cotação desde a última máxima. Existe investidores que enxergam nele um posicionamento mais seguro do que no Nubank”.

Everton Medeiros, da Valor Investimentos

Cenário econômico brasileiro pode dificultar os ganhos do Nubank

As condições macroeconômicas do Brasil é outro ponto que enfraquece a possibilidade de lucro com as ações do Nubank atualmente, de acordo com o especialista da Valor Investimentos.

“Persistem as dúvidas sobre a capacidade da empresa de rentabilizar sua base de clientes, tendo em vista o cenário econômico ruim no Brasil, que tende a reduzir a renda e aumentar a inadimplência da população”, aponta.

Investimento nas ações do Nubank com olho no longo prazo

Oliveira, da Valor, diz que é difícil traçar um cenário para os BDRs do Nubank no curto prazo. “No longo prazo, se o banco conseguir entregar o resultado esperado e monetizar seus clientes, a empresa pode crescer. Mas ele precisa ter essa entrega para suas ações voltarem a subir”.

O especialista diz que sua visão sobre o Nubank é positiva, e por isso não estranharia se as ações tivessem uma elevação exponencial em um horizonte mais longo. No entanto, não deixa de ressaltar de que o ativo é de risco.

“O investidor precisa estar ciente de que ele pode ter perdas expressivas com as ações do Nubank caso o banco traga resultados decepcionais. A empresa tem a possiblidade de crescer, mas na contramão o risco ainda é grande, pois a companhia ainda é de crescimento”.

Flávio Oliveira, da Valor Investimentos

Nubank segue sendo um banco digital forte

Considerado hoje o maior banco digital da América Latina, o Nubank pode voltar a ocupar o topo do ranking da maior instituição financeira de forma geral, mas isso por enquanto é uma incógnita, na visão do especialista da Zahl.

“O banco está precificado a múltiplos extremamente elevados. Ele tem a possibilidade de voltar a ser o maior banco do mercado, mas a volatilidade pode reduzir o preço do ativo”, enfatiza.

Diferenciais competitivos como marketing agressivo e bom posicionamento em seu nicho de clientes também pesam a favor. “É um banco que cresce, continua sendo uma empresa relevante. Agora se vai se continuar sustentando seu patamar anual, somente o tempo vai dizer”.

O que é o BDR (Brazilian Depositary Receipt)?

Para acessar os ativos do Nubank, o investimento é feito via BDRs na Bolsa brasileira. O Brazilian Depositary Receipt (comumentemente traduzido como Certificado de Depósito de Valores Mobiliários) é um título que permite a investidores brasileiros comprarem ações de empresas estrangeiras.

Através de certificados emitidos por instituições depositárias?brasileiras, surgem os recibos de ação, que estão atrelados às ações originais sob custódia no país de origem e podem ser comercializados nos mercados de ações do Brasil.

O Brazilian Depositary Receipt é uma excelente opção para os investidores brasileiros que desejam aplicar em companhias internacionais. Isso porque, além de evitar os altos custos de se enviar capital ao exterior, ele também oferece os mesmos direitos garantidos aos acionistas estrangeiros, como o recebimento de dividendos.

Como os BDRs funcionam?

Para que os BDRs sejam emitidos, é necessário que existam duas instituições depositárias envolvidas na transação.

A primeira, situada no país de origem da companhia, é responsável pela custódia das ações.

Já a segunda, situada no Brasil, é quem emite os Brazilian Depositary Receipts e garante que os certificados estejam lastreados com os valores mobiliários originais.

Em ambos os casos, é essencial que a instituição depositária esteja devidamente autorizada a realizar essas operações.

No Brasil, por exemplo, a autorização deve ser dada pelo Banco Central, enquanto a habilitação para emissão de BDRs provém da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Já o procedimento para emissão varia de acordo com o patrocínio (ou não) da companhia emitente dos títulos.

Ao dizer que os títulos são do tipo não-patrocinados se sinaliza que a emissão de BDRs não derivou de um acordo entre empresa e instituição depositária, sendo iniciativa solo desta última.

Já nos casos patrocinados, a companhia se associa à instituição no processo de emissão. Assim, ela se torna diretamente responsável pela divulgação de informações aos acionistas e por lhes conceder outros direitos corporativos.

Quais são as vantagens de se investir em BDRs?

Para os investidores brasileiros, o oferecimento de ações de empresas internacionais nos moldes dos BDRs é muito vantajoso.

Isso porque, pelas vias tradicionais, aqueles que desejam investir em grandes empresas multinacionais (como a Apple e o Facebook) seriam obrigados a transferir dinheiro ao exterior e arcar com altas taxas, intermediários e câmbios, encarecendo e complicando o processo como um todo.

Além da economia, o Brazilian Depositary Receipt fornece aos investidores as vantagens comuns a qualquer acionista. No caso dos não-patrocinados, o recebimento de dividendos e juros sobre capital próprio. Já os patrocinados contam ainda com o direito a voto nas assembleias corporativas.

Leia mais

Sobre o autor
Julia ZilligA Mais Retorno é um portal completo sobre o mercado financeiro, com notícias diárias sobre tudo o que acontece na economia, nos investimentos e no mundo. Além de produzir colunas semanais, termos sobre o mercado e disponibilizar uma ferramenta exclusiva sobre os fundos de investimentos, com mais de 35 mil opções é possível realizar analises detalhadas através de índices, indicadores, rentabilidade histórica, composição do fundo, quantidade de cotistas e muito mais!