Número de IPO’s bate recorde na Bolsa em 2021, mas acumula rentabilidade negativa; como será este ano?
Segundo o estudo da consultoria, apenas 12 IPO’s registraram retorno positivo no ano, contra 35 negativo
O ano de 2021 foi a festa dos IPO’s na Bolsa. Ao todo, 47 empresas de diversos segmentos abriram capital na B3 em busca de captar novos recursos, seja para reinvestir no negócio ou pagar dívidas.
Porém, nem tudo foi alegria. Segundo levantamento da Economatica, esses mesmos 47 IPO’s tiveram rendimento negativo até 31 de dezembro de 2021 – 22,24%, batendo o terceiro pior desempenho em 2008, quando quatro aberturas de capital registraram queda média de -48,15%. Já a segunda maior queda aconteceu em 2016, quando uma única listagem na Bolsa despencou -26,75%.
O que levou as empresas a abrir capital na Bolsa em 2021?
Segundo analistas, fatores como o avanço da vacinação contra a covid-19 e a retomada da atividade econômica global – incluindo no Brasil – deram ânimo para as empresas buscarem listagem na Bolsa no primeiro semestre.
O volume de abertura de capital poderia ter sido maior, porém no segundo semestre, a deterioração do cenário macroeconômico e o aumento das preocupações fiscais levaram os empresários a desistirem da decisão de realizar um IPO. Segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), 61 companhias puxaram o freio de mão no andamento desse processo.
Maioria apresentou retorno negativo para os investidores
Segundo o estudo da consultoria, do montante total de abertura de capital em 2021, apenas 12 IPO’s (25%) registraram retorno positivo no ano, contra 35 (75%) negativos.
Ainda em números, 18 apresentaram rentabilidade superior ao do Ibovespa desde a abertura de capital e 29 abaixo do índice de referência, segundo o levantamento.
Maior peso dos IPO’s do valor de mercado da B3
Os especialistas da Economatica apontam que no ano passado, os 47 IPO’s concentraram 6,7% do total do valor de mercado da B3.
O estudo ressaltou ainda que todos os IPO’s listados na Bolsa desde 2004, ainda sendo negociados em sua emissão original, representam 31,3% do total do valor de mercado da Bolsa brasileira.
Em 2004, o porcentual era de 3,6%, levando em conta as seis aberturas de capital ocorridas no período. E em 2007, ano no qual a B3 registrou o maior número de IPO’s, o valor de mercado do total das listagens emitidos, concentrava 8,2%.
As 25 maiores empresas por valor de mercado entre os IPO's registrado na Bolsa desde 2004
Segundo a Economatica, os 25 maiores IPO’s somaram R$ 844 bilhões, o que representa 19,2% do total do valor de mercado da Bolsa.
Entre as empresas, a JBS se destaca como a companhia com maior valor de mercado – R$ 90 bilhões – seguida pela Rede D’Or, com R$ 88,38 bilhões. Confira a seguir a lista com os principais nomes.
Em termos de setores, os 25 mais significativos nessa amostragem, segundo a Economatica, somaram R$ 1,28 trilhão, ou 29,17% do total da Bolsa no fim de 2021
Nome | Segmento | Ano IPO | Valor de mercado (R$ milhões) - até 31 de dezembro de 2021 |
JBS | Carnes e derivados | 2007 | 90.088 |
Rede D'Or | Serviços médicos e hospitalares | 2020 | 88.380 |
Raízen | Exploração, refino e distribuição | 2021 | 66.774 |
Magazine Luiza | Eletrodomésticos | 2011 | 48.400 |
BB Seguridade | Seguradoras | 2013 | 41.431 |
Cosan | Exploração, refino e distribuição | 2005 | 40.516 |
Hapvida | Serviços médicos e hospitalares e análises diagnósticas | 2018 | 40.341 |
Localiza | Aluguel de carros | 2005 | 39.866 |
CSN Mineração | Minerais metálicos | 2021 | 37.482 |
Notre Dame Intermedica | Serviços médicos e hospitalares e análises diagnósticas | 2018 | 37.111 |
Natura Co | Produtos de uso pessoal | 2004 | 35.075 |
CPFL | Energia elétrica | 2004 | 30.915 |
Carrefour | Varejo/alimentos | 2017 | 30.276 |
Caixa Seguridade | Seguradoras | 2021 | 25.080 |
Vibra | Exploração, refino e distribuição | 2017 | 24.341 |
Neoenergia | Energia elétrica | 2019 | 19.664 |
Dasa | Serviços médicos e hospitalares e análises diagnósticas | 2004 | 18.485 |
Eneva | Energia elétrica | 2007 | 17.907 |
Hypera | Medicamentos e outros produtos | 2008 | 17.873 |
Assaí | Atacarejo/alimentos | 2021 | 17.451 |
Totvs | Programas e serviços | 2006 | 17.415 |
PetroRio | Exploração, refino e distribuição | 2010 | 17.347 |
Marfrig | Carnes e derivados | 2007 | 15.105 |
Porto Seguro | Seguradora | 2004 | 13.386 |
Grupo Mateus | Varejo/alimentos | 2020 | 13.322 |
Incorporadoras estão entre os setores que mais realizaram IPO’s desde 2004
A pesquisa realizada pela Economatica mostrou ainda que o mercado de incorporadoras se destaca entre os que mais realizou aberturas de mercado desde 2004 – 20 empresas fizeram listagem na Bolsa até 2021 – totalizando R$ 27,34 bilhões de valor de mercado.
Na sequência, o setor de programas e serviços ocupa a segunda colocação, com 15 IPO’s, que, juntos somam R$ 41,15 bilhões de valor de mercado.
E o segmento de serviços médicos hospitalares, incluindo análise e diagnóstico, vem em seguida, com total de R$ 219,8 bilhões.
O que esperar dos IPO’s em 2022?
Na visão dos especialistas do mercado, o recuo das empresas ao longo do segundo semestre de 2021 já foi um sinal do que será o cenário de abertura de capital para 2022, já que a condição macroeconômica segue na mesma trilha, porém com prognósticos mais negativos, reforçados pela proximidade das eleições presidenciais.
No pacote, estão a inflação – que ainda mostra sinais tímidos de arrefecimento – a alta da taxa de juros, cujo ciclo deve fazer com que a Selic chegue a 12%, segundo algumas apostas, além do fraco crescimento econômico, com os economistas do mercado projetando um crescimento pífio para o PIB de 0,36%, segundo o último boletim Focus divulgado pelo Banco Central.
Isso tudo deve levar a um ano mais fraco, longe do brilho do que foi 2021 para a abertura de capital de novas empresas na Bolsa.