Mercado Financeiro

Mercado retoma os negócios de olho na prévia do PIB aqui e indicadores de vendas nos EUA

Andamento da PEC dos Precatórios também continua no radar dos investidores

Data de publicação:16/11/2021 às 07:00 - Atualizado 3 anos atrás
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O mercado financeiro retoma os negócios nesta terça-feira, 16, após o fim de semana prolongado pelo feriado da Proclamação da República, de olho em dados econômicos que têm o potencial de influenciar as decisões de investidores e gestores de mercado, como o IBC-Br e indicadores de vendas nos EUA.

O Banco Central já terá divulgado o boletim Focus com projeções atualizadas dos principais indicadores econômicos, como inflação, juros e Produto Interno Bruto (PIB), quando o mercado der largada aos negócios. Estimativas que têm agravado as expectativas dos agentes econômicos, com seguidas revisões para cima nas projeções de inflação e de juros e para baixo nas previsões de crescimento econômico.

Mercado acompanha nível de atividade econômica local e nos EUA

Crescimento econômico no radar do mercado

Uma nova prévia sobre o comportamento do PIB será conhecida hoje, quando o Banco Central divulga o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de outubro, um dado que também pode influenciar as decisões de investidores e o ânimo do mercado financeiro.

O IBC-Br é visto pelos analistas econômicos como um indicador que antecipa a tendência do PIB, embora os resultados levantados pelo Banco Central nem sempre coincidam com os dados oficiais sobre o ritmo de atividade divulgados pelo IBGE.

Outro dado econômico a que o mercado estará atento é o referente a vendas no varejo e será divulgado nesta terça-feira nos Estados Unidos, em um ambiente de preocupações com a crescente pressão inflacionária.

Por enquanto, o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) decidiu pela mudança no programa de estímulos monetários, com a redução do volume de recompra de títulos que vem ampliando a oferta de recursos no sistema financeiro americano.

A ameaça inflacionária é preocupação não apenas local. É um temor global que pressionou os juros dos Treasuries, títulos de longo prazo do Tesouro americano, e impactou as ações do setor de tecnologia nos EUA.

Em Nova York, as bolsas fecharam relativamente estáveis na véspera, quando a B3 ficou fechada por causa do feriado. O índice Dow Jones encerrou com baixa de 0,04%, em 36.087 pontos; o S&P 500 permaneceu estável, em 4.683 pontos, e o Nasdaq recuou 0,04%, para 15.854 pontos.

O foco na economia, aqui e lá fora, não desvia a atenção do mercado financeiro pelas notícias políticas, sempre no radar do mercado, com destaque para a votação da PEC dos Precatórios pelo Senado.

Embora a PEC que adia o pagamento dos precatórios e cria brecha no Orçamento para o pagamento do Auxílio Brasil não seja do agrado dos investidores, por atropelar o teto de gastos, a aprovação da proposta é vista por analistas como um fator de redução de incertezas fiscais.

Após passar por duas rodadas de votação e ser aprovada na Câmara, a PEC será submetida agora a duas votações no Senado – previstas para o período entre o fim deste mês e o início de dezembro.

Revisão das projeções para o PIB

Com a alta da inflação, não somente os economistas do Focus estão revisando suas projeções para o PIB. O mesmo movimento está sendo feito pelos bancos internacionais, principalmente após os resultados de setembro obtidos pelo varejo e pelo setor de serviços, divulgados pelo IBGE na semana passada.

Antes deles, em outubro, o Itaú já havia reduzido de 5,3% para 5,0% a sua projeção de crescimento para o PIB de 2021, e indicado queda de 0,5% em 2022.

O Credit Suisse reduziu a sua projeção para o PIB deste ano, de 5% para 4,8%, e também passou a estimar retração de 0,5% no próximo ano - ante a projeção anterior de alta de 0,6%.

Em relatório, o banco afirma que a atividade é prejudicada por fatores de curto prazo, como a escassez de insumos para a indústria, mas também por problemas persistentes.

"O atual alto nível de inflação provavelmente deve continuar elevado devido à alta inércia no País; o recente aperto de condições financeiras não deve recuar fortemente, dado que a taxa de juros vai crescer mais e o arcabouço fiscal foi recentemente enfraquecido", diz o relatório.

Já o Haitong reduziu suas projeções de 4,9% para 4,2%, neste ano, e de 0,5% para queda de 0,3% em 2022. Após a retração da produção industrial (-0,4%) e do setor de serviços (-0,6%) em setembro, o Haitong passou a ver contração do PIB já no terceiro trimestre deste ano (de 0,15% para -0,6%).

Para o quarto trimestre, a projeção de crescimento foi reduzida de 0,3% para 0,1%. "Acreditamos que a chance de uma recessão técnica em 2021 é elevada", escreve o economista-chefe do banco, Marcos Ross.

Já o JP Morgan estima que o crescimento do PIB de 2021 será de 4,8%, e não mais de 5,0%. Para 2022, a estimativa de variação zero do PIB foi mantida.

Guedes: economia em crescimento

Enquanto os economistas colocam freio em suas projeções para o crescimento do País, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a economia está crescendo “acima da média mundial”.

"Isso graças a uma orientação do nosso presidente de não deixar nenhum brasileiro para trás durante a pandemia. Não faltou dinheiro para saúde, mas ao mesmo tempo prosseguimos com as reformas estruturantes", afirmou o ministro a empresários durante discurso no fórum Invest in Brazil, realizado na Expo Dubai.

Segundo ele, a economia está crescendo, apesar das constantes projeções para baixo de economistas e instituições financeiras, e do aumento da taxa de juros promovido pelo Banco Central para tentar conter a alta da inflação.

Guedes disse que o Brasil tinha "muito juros" no passado e que agora estão "mais baixos". Segundo ele, além do crescimento de 5,5% neste ano, o Brasil tem mais de 100 bilhões de dólares de investimento estrutural contratados nos próximos.

"A economia era um paraíso dos rentistas, e o inferno dos empreendedores. Agora o Brasil está virando um paraíso para os empreendedores. Os juros estão mais baixos, a economia está crescendo mais rápido, e o eixo de crescimento vai ser o setor privado", afirmou Guedes.

Em outro momento, Guedes disse que a revista The Economist está “errando todas” sobre o governo brasileiro. Em reportagem sobre o País, a revista inglesa apontou que o presidente Bolsonaro é “nocivo à economia do Brasil”.

Para o ministro, a publicação já espalhou previsões que se mostraram exageradas do Fundo Monetário Internacional, sobre o impacto do novo coronavírus na economia brasileira. "Falaram que o Brasil ia cair 10% (na pandemia), cai 4%, que a Inglaterra ia cair 4%, caiu 10%. A Economist está liderando as previsões para o buraco".

O ministro afirmou que a revista deveria "olhar para o próprio umbigo", para os problemas internos da Inglaterra, como desabastecimento de carne e filas em postos de combustíveis.

Para a publicação, uma das mais prestigiadas sobre economia no mundo, Guedes e Bolsonaro "conduzem o País não apenas a um retorno à incontinência fiscal, como também a outras mazelas econômicas que têm castigado o Brasil: aumento da inflação, altas taxas de juros e baixo crescimento".

A reportagem considera que Guedes apoia uma "dissimulada tentativa de contornar o limite constitucional para gastos públicos".

Retomada econômica: solução de problemas

Após prever que 2022 será mais difícil do que este ano, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, disse que a retomada da economia "depende muito" da solução a ser encontrada para problemas atuais, como precatórios, espaço fiscal e Bolsa Família - programa que, na realidade, foi substituído pelo Auxílio Brasil.

Pacheco fez sua projeção para o cenário econômico do ano que vem durante evento em Portugal e comentou sobre as soluções com jornalistas em Lisboa ao final do evento.

"A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos precatórios foi aprovada na Câmara dos Deputados, com uma maioria absoluta. Nós faremos um estudo agora no Senado Federal", disse.

Ele lembrou que, primeiro, o tema passará pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e terá como relator o senador Fernando Bezerra, de Pernambuco. Depois, os senadores apreciarão a questão no plenário. É preciso ter um quórum qualificado de aprovação, que deve ser feita em dois turnos.

"O objetivo é dar solução à questão dos precatórios, para que possam ser pagos dentro do teto de gastos públicos, inclusive dentro do teto de precatórios", enfatizou.

O presidente do Senado voltou a dizer que considera muito inovadora a possibilidade de diversos negócios jurídicos capazes de esgotar a dívida, inclusive e especialmente, o pagamento de dívidas fiscais.

"Isso é uma criatividade, que é inteligente, oportuna e pode ser um fator decisivo de convencimento no Senado", avaliou. Em seu pronunciamento, ele já havia abordado o tema.

PEC dos Precatórios: servidores públicos

Enquanto a votação da PEC dos Precatórios não ocorre no Senado, o tema segue sendo assunto de afirmações de integrantes da cúpula governamental. No dia anterior, o presidente Jair Bolsonaro disse na véspera que estuda destinar parte dos recursos bilionários a serem liberados pela PEC dos precatórios a servidores públicos.

A proposta de emenda à Constituição altera o teto de gastos e viabiliza o pagamento do programa substituto do Bolsa Família, o Auxílio Brasil de R$ 400, até o fim de 2022, ano eleitoral.

A PEC vem enfrentando oposição por partidos de esquerda, com forte base sindical, e sindicatos do funcionalismo que veem ameaças ao pagamento de dívidas a servidores aposentados que ganharam na Justiça o direito de receber benefícios atrasados. O presidente não esclareceu se planeja algum tipo de reajuste salarial a categorias.

"Tínhamos previsto pagar em torno R$ 30 bilhões no ano que vem e passou para quase R$ 90 bilhões. Essa diferença tem que entrar no teto. E se entrar no teto, a gente para o Brasil", afirmou Bolsonaro, durante entrevista na Expo Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

"Não queremos romper o teto. Propusemos ao Congresso, e a Câmara deu sinal verde, para parcelar mais da metade disso aí. Daí dá para a gente atender os mais necessitados, atender a questão orçamentária, e pensamos até em, dado o espaço que está sobrando, atender em parte os servidores.

No exterior

Lá fora, as atenções estão voltadas aos Estados Unidos, com a divulgação de novos dados econômicos, incluindo as vendas no varejo e a produção industrial do país.

Na véspera, o setor de tecnologia chegou a liderar os ganhos no S&P 500, mas terminou a sessão em baixa de 0,11%. As ações da Microsoft cederam 0,19% e as da Tesla caíram 1,94%. A fabricante de veículos elétricos foi novamente afetada por publicações de seu CEO, Elon Musk, nas redes sociais.

No fim de semana, o executivo "discutiu" no Twitter com o senador Bernie Sanders. O democrata havia defendido que os "extremamente ricos" pagassem uma parcela justa de imposto.

"Quer que eu venda mais ações, Bernie? Basta dizer...", foi uma das respostas de Musk do parlamentar. Na semana passada, o dono da Tesla decidiu, por meio de uma enquete na rede social, vender algumas das ações que detinha da empresa.

"Os investidores estão preocupados que os gargalos de oferta causados pela pandemia, que estão por trás da alta nos preços ao consumidor, levem o Fed a subir juros no curto prazo, correndo o risco de interromper a recuperação", afirma o analista Ian Lyngen, do BMO Capital Markets.

"Em última análise, tudo se resume aos riscos de inflação e taxa de juros e levará meses até termos uma imagem mais clara disso", diz, na mesma linha, o analista da Oanda Edward Moya.

Divulgado no dia anterior, o índice de atividade industrial Empire State, que mede as condições da manufatura no Estado de Nova York, subiu de 19,8 em outubro para 30,9 em novembro, acima do previsto.

Do outro lado do mundo, os mercados acionários da Ásia fecharam sem sinal único, nesta terça-feira. Investidores observaram a reunião virtual entre os presidentes da China, Xi Jinping, e dos Estados Unidos, Joe Biden, sem reviravoltas na relação bilateral, mas em um tom de menos tensões.

Na Bolsa de Tóquio, o índice Nikkei subiu 0,11%, aos 29,808,12 pontos. A redução das tensões bilaterais entre China e EUA foi aspecto positivo para o mercado japonês.

Na China, a Bolsa de Xangai fechou em baixa de 0,33%, aos 3.521,79 pontos, chegando a subir em parte do dia, mas sem impulso. A Bolsa de Shenzhen, de menor abrangência, recuou 0,51%, aos 2.563,68 pontos.

Já em Hong Kong, o índice Hang Seng terminou em alta de 1,27%, aos 25.713,78 pontos. O avanço é o sexto consecutivo. O ANZ destacou que o encontro de líderes das potências poderia levar os EUA a reduzir tarifas comerciais contra produtos chineses.

Na Coreia do Sul, o índice Kospi recuou 0,08% em Seul, aos 2.997,21 pontos. A sessão foi de volatilidade, com realização de lucros em alguns setores, como transporte marítimo, montadoras e companhias aéreas, após ganhos recentes. Em Taiwan, o índice Taiex subiu 0,33%, aos 17.693,13 pontos.

Na Oceania, o índice S&P/ASX 200 terminou em queda de 0,67% em Sydney, aos 7.420,40 pontos. Mineradoras estiveram entre as baixas. O quadro foi negativo mesmo após o Banco Central da Austrália (RBA, na sigla em inglês) reforçar a postura de que não deve elevar os juros em breve no país. / com Júlia Zillig e Agência Estado

Sobre o autor
Tom MorookaColaborador do Portal Mais Retorno.