Mercado Financeiro

Bolsa sobe 1,29% e recupera os 110 mil pontos puxada por Petrobras; dólar cai a R$ 5,28

Investidores seguem atentos ao caso Evergrande e às movimentações políticas no cenário local

Data de publicação:21/09/2021 às 10:48 - Atualizado 3 anos atrás
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A Bolsa fechou em alta nesta terça-feira, 21, puxada principalmente pela Petrobras, em um movimento de recuperação das perdas acentuadas do dia anterior. O Ibovespa avançou 1,29%, voltando ao patamar dos 110 mil pontos - 110.249,73.

Sede da B3 em São Paulo - Foto: B3/Divulgação

Embora o fechamento do pregão tenha sido em terreno positivo, o clima foi de cautela diante da perspectiva de um possível default da incorporadora chinesa Evergrande, detentora de uma dívida que beira os US$ 300 bilhões.

O receio de que a empresa imobiliária chinesa deixe de pagar o que deve tem chacoalhado os mercados globais e deixado os investidores em estado de alerta. Pressão que deve persistir nesses próximos dias até que haja um encaminhamento para a resolução do problema.

Em carta enviada aos funcionários nesta terça-feira, o presidente do conselho de administração da Evergrande, Hui Ka Yuan, afirmou que a empresa irá cumprir suas responsabilidades com os compradores de imóveis, investidores, parceiros e instituições financeiras, segundo a Reuters, que citou a mídia chinesa.

A expectativa do mercado é a de que o governo chinês atue para evitar uma contaminação, mas a crise da Evergrande afeta o consumo mundial de aço e de todas as empresas da cadeia, e não só as companhias de mineração vão ser atingidas.

Outro foco de preocupação está ligado ao fato de que grandes gestoras mundiais, possivelmente até algumas brasileiras, têm posições em títulos de dívida da incorporadora chinesa. E se não houver uma ajuda do governo chinês, poderá haver impacto nas empresas que detêm esses títulos.

O efeito pode ser em cadeia, e as primeiras notícias sobre o estrago começam a aparecer. Preocupações de que a Evergrande não pague seus bônus neste mês geraram vendas de papéis de outras companhias no setor imobiliário, pesando sobre fundos gerenciados por Ashmore Group, BlackRock e Pacific Investment Management, entre outros.

Informações da Agência Bloomberg deram conta que 500 bilionários pelo mundo tiveram perdas em torno de US$ 135 bilhões com a crise da imobiliária chinesa.

Sobe e desce da Bolsa

Nesta terça-feira, as ações ligadas às commodities viveram um movimento de recuperação depois de vários pregões de quedas acentuadas. As ações da Petrobras subiram 2,27%, enquanto as da Vale valorizaram 0,97%. Juntas, as duas companhias respondem por mais de 20% da cesta de ativos do Ibovespa.

Os bancos tiveram desempenho misto no pregão da Bolsa. Bradesco e Banco do Brasil avançaram 1,45% e 2,54%, respectivamente. Já o Itaú e Santander caíram 0,26%.

A Novonor informou à Braskem que ainda não tem definida a forma que irá adotar para desfazer de sua participação no controle da companhia. A notícia fez com as ações da petroquímica fechassem em alta de 0,24%, depois de um último pregão de fortes baixas.

Com a notícia divulgada ao mercado de que a Cosan fechou a compra de 47% de participação no Grupo Radar por R$ 1,479 bilhão, as ações da companhia subiram 0,87%.

Os papéis da BrasilAgro avançaram 2,05%, com o anúncio da venda de sua parte da Fazenda Rio do Meio, em Correntina (BA), por R$ 130,1 milhões.

A Gol divulgou ao mercado que fechou um acordo com a empresa Avolon para trazer 25 "carros elétricos voadores" para sua frota a partir de 2025. Com isso, as ações da aérea valorizaram 3,97%.

Em processo judicial, a Renova Energia concordou com a proposta da Vinci Partners, empresa de private equity, para a compra de uma subsidiária por R$ 266 milhões. Após a notícia, a companhia elétrica subiu 3,23% na Bolsa.

Os papéis da Petz fecharam em alta de 3,02%, com a divulgação da saída do diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Diogo Ugayama Bassi, e a substituição do executivo por Aline Ferreira Penna Peli, ex-Arezzo.

Dólar cai

O dólar fechou em baixa, em sintonia com o ambiente internacional menos tenso. Embora os temores sobre a Evergrande sigam no radar, o dia é de correção dos preços dos ativos. A moeda americana caiu 0,86%, cotada a R$ 5,278.

Com a recuperação dos preços das commodities e alta nas bolsas internacionais, o dólar recua ante moedas fortes, emergentes e de países exportadores de commodities.

À espera de novas notícias sobre a economia chinesa, investidor aguarda também as decisões de política monetária nos Estados Unidos e no Brasil, na quarta-feira.

O índice DXY do dólar, que mede as variações da moeda americana frente a outras seis divisas relevantes, ampliou perdas nas últimas horas à medida que os investidores voltaram a procurar ativos de maior risco, após a forte liquidação de ontem provocada por preocupações com a crise da Evergrande.

Cenário político e fiscal

No cenário local, os investidores seguem acompanhando a movimentação nas principais autoridades em Brasília. Após nova rodada de conversas, com a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, decidiu que encaminhará uma proposta ao Congresso Nacional. Nela a sugestão será a deixar o pagamento das dívidas dos precatórios fora do teto de gastos. As dívidas reconhecidas da União somam uma conta de R$ 89 bilhões em 2022.

Segundo a regra do teto de gatos, as despesas previstas no Orçamento não podem crescer mais do que a inflação do ano anterior, o que limita o espaço do governo para gastos no próximo ano.

O governo Bolsonaro defende uma ampliação do novo Bolsa Família, mas o Orçamento ficou limitado por causa do pagamento dos precatórios, bem acima dos R$ 54 bilhões pagos este ano. Além disso a alta da inflação também limita o espaço no teto de gastos, uma vez que os benefícios previdenciários são reajustados de acordo com o INPC.

A solução do impasse, segundo Lira, é a votação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que possa ser aprovada pela Câmara e pelo Senado.

"Não há outro caminho que não seja, nesse momento, a votação de uma PEC na Câmara, e essa mesma PEC, no Senado. Por isso que nós precisamos ter muita cautela no encaminhamento desses temas, mantendo respeito ao teto, às decisões judiciais, levando em conta a questão urgente de se realinhar um novo programa social, mais justo e amplo, para esse momento", enfatizou Lira.

CPI da Covid: Wagner Rosário

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid ouve nesta terça-feira o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário. A expectativa é de que ele fale aos senadores sobre o desvio de recursos liberados pela União para Estados e municípios e sobre a suposta omissão do órgão em negociações suspeitas do Ministério da Saúde durante a pandemia.

O ministro chega para depor em um momento de tensão. Na semana passada, durante reunião da CPI, o presidente da comissão, Omar Aziz, disse que Wagner Rosário "prevaricou", pois teria deixado de tomar iniciativas diante de irregularidades nos contratos de vacinas.

"O que ele tem que explicar não é as operações que ele fez, é a omissão dele em relação ao governo federal. Tem que vir, mas não tem que vir para jogar para a torcida, não. Ele vai jogar, aqui é no nosso campo. E Wagner Rosário, que tinha acesso a essas mensagens (sobre negociações de compra de vacinas pelo Ministério da Saúde) desde 27 de outubro de 2020, é um prevaricador", disse Aziz.

O ministro da CGU usou o Twitter para responder ao presidente da CPI e acusou Aziz de cometer o crime de calúnia. "Senador Omar Aziz, calúnia é crime!!! A autoridade antecipar atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação também é crime!!! Aguardando ansiosamente sua convocação", escreveu.

O requerimento de convocação foi apresentado pelo senador Eduardo Girão e aprovado em junho. Segundo o parlamentar, o órgão enviou à CPI dados sobre 53 operações especiais que apuram desvio de recursos por Estados e municípios. De acordo com Girão, o valor total dos contratos chega a R$ 1,6 bilhão.

"O prejuízo efetivo apurado até agora atingiu quase R$ 39,2 milhões, e o prejuízo potencial é de R$ 124,8 milhões. Assim, o prejuízo total pode alcançar R$ 164 milhões", argumenta o requerimento.

NY: mercados em queda

Após fechar o pregão da véspera com o pior desempenho diário desde meados de maio, o mercado financeiro americano segue com os contratos negociados nas bolsas de Nova York fecharam majoritariamente em queda. O índice S&P 500 e Dow Jones registraram baixa de 0,08% e 0,15%, respectivamente. Já o Nasdaq 100 subiu 0,10%.

Dados econômicos do país divulgados ao longo da manhã também influenciaram os índices. Segundo o Departamento do Comércio norte-americano, as construções de moradias iniciadas nos EUA tiveram alta de 3,9% em agosto ante julho, para a taxa anual sazonalmente ajustada de 1,615 milhão de unidades.

O resultado veio acima da previsão dos analistas, que apostavam em um avanço menor, de 1%. O número de julho foi ligeiramente revisado para cima, de 1,534 milhão para 1,554 milhão. O total de permissões para novas obras, por sua vez, avançou 6% na comparação mensal de agosto, a 1,728 milhão.

Os investidores também mantêm no radar os problemas de liquidez da Evergrande. Soma-se a isso a postura cautelosa antes da decisão de juros do Fed, que acontece na quarta-feira, 22.

Em relatório enviado a clientes no dia anterior, a Capital Economics observa que as repercussões do caso Evergrande para o resto do mundo estão crescendo, com o "sell off" nos mercados globais, mas avalia que o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) pode intervir, se necessário, para evitar um contágio financeiro significativo.

Questionada sobre como os EUA veem a crise da empresa chinesa, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse em coletiva de imprensa que a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, sempre monitora os mercados globais.

Em Washington, as atenções também estão voltadas para o limite da dívida federal do governo. Líderes do Partido Democrata no Congresso divulgaram hoje uma carta em que pressionam os republicanos a apoiar a suspensão do teto da dívida.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que a suspensão do teto da dívida do país é uma responsabilidade bipartidária. O chefe da Casa Branca compartilhou no Twitter uma carta em que os líderes do Partido Democrata no Congresso pressionam os republicanos a apoiar a medida.

"Esta é uma responsabilidade bipartidária, assim como era no governo do meu antecessor. Bloquear isso seria imperdoável", afirmou o presidente americano.

A presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e o líder da maioria no Senado, Chuck Schummer, dizem que os EUA podem entrar em recessão se o teto da dívida não for suspenso.

Ambos pretendem colocar em votação nesta semana no Congresso um projeto de lei que inclui a suspensão do teto até dezembro de 2022.

Hong Kong e bolsa japonesa fecham mistas

A Bolsa de Hong Kong fechou em alta moderada nesta terça-feira, enquanto a de Tóquio voltou de um feriado com fortes perdas, enquanto investidores monitoram a grave crise de liquidez da Evergrande.

O Hang Seng subiu 0,51% em Hong Kong, aos 24.221,54 pontos, revertendo apenas parte do tombo de 3,3% que sofreu no dia anterior em meio a temores de que a Evergrande, que acumula mais de US$ 300 bilhões em passivos, anuncie um calote e prejudique outras empresas do segmento imobiliário chinês.

Negociada no território semiautônomo, a ação da Evergrande teve baixa de 0,44% nesta terça, após despencar mais de 10% no pregão anterior.

Já em Tóquio, a bolsa japonesa voltou de um feriado nacional com forte desvalorização, reagindo com atraso aos temores com a Evergrande. O Nikkei caiu 2,17%, aos 29.839,71 pontos, pressionado por ações ligadas aos setores de máquinas e siderúrgico.

Em outras partes da Ásia, os mercados da China, da Coreia do Sul e de Taiwan não operaram pelo segundo dia seguido nesta terça em razão de feriados.

Na Oceania, a bolsa australiana teve modesto ganho, ajudada principalmente por papéis do segmento petrolífero, após atingir na segunda seu menor nível em três meses. O S&P/ASX 200 avançou 0,35% em Sydney, aos 7.273,80 pontos. / com Tom Morooka e Agência Estado

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