Efeito Evergrande segue pressionando o mercado nesta terça-feira
Receio é de que imobiliária chinesa deixe de pagar suas dívidas, que chegam a US$ 300 bilhões
O mercado financeiro passou por forte solavanco na véspera, sacudido pelo temor de possível default da incorporadora chinesa Evergrande, detentora de uma dívida que beira os US$ 300 bilhões.
O receio de que a empresa imobiliária chinesa deixe de pagar o que deve varreu os mercados globais e gerou forte aversão ao risco entre os investidores. Uma pressão que deve permanecer sobre os mercados porque o risco de um calote causa incertezas em todas as frentes, afirma Bruno Mansur, especialista da Valor Investimentos.
“A primeira dúvida é como isso vai impactar a economia chinesa como um todo”, comenta, embora o mercado não esteja acreditando ainda em uma repetição do que ocorreu em 2008 (severa crise financeira global, a do subprime, causada pelo estouro da bolha imobiliária nos EUA), que levou à falência do Lehman Brothers e gerou forte queda das bolsas mundiais.
Em carta enviada aos funcionários nesta terça-feira, o presidente do conselho de administração da Evergrande, Hui Ka Yuan, afirmou que a empresa irá cumprir suas responsabilidades junto a compradores de imóveis, investidores, parceiros e instituições financeiras, segundo a Reuters, que citou a mídia chinesa.
De acordo com Mansur, o mercado acredita que o governo chinês atuará para evitar uma contaminação, mas a crise da Evergrande “bate no consumo mundial de aço e de todas as empresas da cadeia - não só as companhias de mineração vão sofrer com isso”.
O preço médio do minério de ferro despencou nos mercados mundiais “e empresas como a Vale já anunciaram que vão reduzir a produção do produto nos próximos meses, decisão que deve ser seguida por outras empresas”, acredita Mansur.
Mercado cai com receio de crise na China
O especialista da Valor Investimentos ressalta que o mercado de ações brasileiro é muito dependente de empresas exportadoras de commodities e qualquer perspectiva de crise na China, principal mercado importador de produtos brasileiros, acende o sinal de alerta localmente.
“É por isso que a Bolsa caiu tão forte no dia anterior.” Mansur lembra que o mercado chinês é um grande consumidor também de produtos alimentícios.
Uma questão que preocupa os mercados em geral, de acordo com o especialista, é o impacto financeiro de um possível calote da Evergrande, já que grandes gestoras mundiais, possivelmente até algumas brasileiras, têm posições em títulos de dívida da incorporadora chinesa.
“Se não houver uma ajuda, um socorro do governo chinês, poderá haver impacto nas empresas que detêm esses títulos", enfatizou.
Cenário político e fiscal
Os investidores seguem acompanhando o cenário político e fiscal local. Uma nova rodada de conversas, agora com a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, foi agendada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, para esta terça-feira.
Eles querem encontrar, ainda nesta semana, uma solução sobre o pagamento dos precatórios, dívidas reconhecidas da União que somam uma conta de R$ 89 bilhões em 2022, sem estourar o teto de gastos e ainda com espaço no Orçamento para bancar o programa social do governo, o Auxílio Brasil.
Segundo a regra do teto de gatos, as despesas previstas no Orçamento não podem crescer mais do que a inflação do ano anterior, o que limita o espaço do governo para gastos no próximo ano.
O governo Bolsonaro defende uma ampliação do novo Bolsa Família, mas o Orçamento ficou limitado por causa do pagamento dos precatórios, bem acima dos R$ 54 bilhões pagos este ano. Além disso a alta da inflação também limita o espaço no teto de gastos, uma vez que os benefícios previdenciários são reajustados de acordo com o INPC.
A solução do impasse, segundo Lira, é a votação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que possa ser aprovada pela Câmara e pelo Senado.
"Não há outro caminho que não seja, nesse momento, a votação de uma PEC na Câmara, e essa mesma PEC, no Senado. Por isso que nós precisamos ter muita cautela no encaminhamento desses temas, mantendo respeito ao teto, às decisões judiciais, levando em conta a questão urgente de se realinhar um novo programa social, mais justo e amplo, para esse momento", enfatizou Lira.
Bolsonaro em NY
Após entrar pela porta dos fundos do Hotel Intercontinental Barclay, em Nova York, para driblar manifestantes contrários, o presidente da República, Jair Bolsonaro, aproveitou para comer pizza na calçada de um restaurante próximo ao local em que está hospedado.
As regras nova-iorquinas estabelecem que restaurantes da cidade confiram se os clientes estão vacinados contra a covid-19 antes de atendê-los em espaços internos. Ao comer na rua, Bolsonaro - que tem repetido que só será imunizado depois que todos os brasileiros tenham recebido a vacina - evitou a exigência.
Na véspera, um diplomata que integra a delegação brasileira que está em Nova York para a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) testou positivo para covid-19.
O diplomata não estava no mesmo voo do presidente Jair Bolsonaro. Ele chegou antes a Nova York, segundo as informações preliminares que circulam entre integrantes da delegação.
O diplomata que teve o teste positivo é parte da equipe precursora do governo que organizou os preparativos para a viagem, antes do desembarque do presidente e dos ministros, no último domingo, 19.
Bolsonaro viajou a Nova York sem estar vacinado contra covid-19, mas parte dos ministros que o acompanha e diplomatas já estão imunizados com a vacina. O presidente tem dito que vai pensar se vai se vacinar após todos os brasileiros serem imunizados.
CPI da Covid: Jair Renan Bolsonaro
O senador Alessandro Vieira apresentou um requerimento para convocar Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado. Vieira quer que Renan esclareça a relação com o lobista Marconny Faria e uma suposta ameaça a parlamentares.
O filho Bolsonaro usou seu perfil no Instagram para provocar a CPI, mostrando uma imagem com cerca de dez armas. "Aloooo CPI kkkkk", escreveu.
"A lei vale para todos", disse o senador do Cidadania de Sergipe, ao anunciar o requerimento. O pedido deve ser avaliado pelos demais integrantes da comissão parlamentar. Além disso, o senador Renan Calheiros adiou a entrega do relatório final da CPI da Covid para a próxima semana.
O relator da investigação, Renan Calheiros, havia anunciado a entrega do relatório final até o próximo dia 24. Novas linhas de investigação na reta final da CPI, no entanto, adiaram a conclusão.
Os parlamentares querem coletar mais informações sobre empresas ligadas a lobistas que negociaram com o Ministério da Saúde. Além disso, os senadores defendem uma apuração mais aprofundada sobre a atuação da Prevent Senior com o uso de medicamentos em pacientes.
A CPI também pôs no radar uma nova convocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Seria o terceiro depoimento do chefe da pasta. O ministro é uma das autoridades formalmente investigadas pela comissão e poderá ser responsabilizado no relatório de Renan em função da gestão à frente do ministério.
Na semana passada, o ministro atribuiu ao presidente Jair Bolsonaro a orientação para rever a vacinação de adolescentes.
O senador Alessandro Vieira apresentou um requerimento de convocação de Queiroga para explicar a suspensão de vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades e o planejamento de imunização para 2022.
A CPI deve analisar nesta terça-feira os novos requerimentos apresentados e definir os próximos passos da investigação.
NY: Evergrande e Fed
Após fechar o pregão da véspera com o pior desempenho diário desde meados de maio, o mercado financeiro americano segue com os futuros nas bolsas de Nova York operando em alta, buscando recuperação.
Os investidores seguem com aversão ao risco, potencializado pelo temor de que os problemas de liquidez da Evergrande contagiem os mercados financeiros de forma generalizada. Soma-se a isso a postura cautelosa antes da decisão de juros do Fed, que acontece na quarta-feira, 22.
A aversão ao risco no exterior, potencializado pelo temor de que os problemas de liquidez da Evergrande contagiem os mercados financeiros de forma generalizada, juntamente com uma postura cautelosa antes da decisão de juros do Fed
Com a migração de investidores das ações para ativos mais seguros como os Treasuries, na véspera, o índice acionário Dow Jones caiu 1,78%, aos 33.970,47 pontos, o S&P 500 recuou 1,70%, aos 4.357,73 pontos, e o Nasdaq cedeu 2,19%, aos 14.713,90 pontos. No pior momento da sessão, os índices chegaram a registrar baixas superiores a 3%.
Em relatório enviado a clientes no dia anterior, a Capital Economics observa que as repercussões do caso Evergrande para o resto do mundo estão crescendo, com o "sell off" nos mercados globais, mas avalia que o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) pode intervir, se necessário, para evitar um contágio financeiro significativo.
Questionada sobre como os EUA veem a crise da empresa chinesa, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, disse em coletiva de imprensa que a secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, sempre monitora os mercados globais.
Em Washington, as atenções também estão voltadas para o limite da dívida federal do governo. Líderes do Partido Democrata no Congresso divulgaram hoje uma carta em que pressionam os republicanos a apoiar a suspensão do teto da dívida.
Hong Kong e bolsa japonesa fecham mistas
A Bolsa de Hong Kong fechou em alta moderada nesta terça-feira, enquanto a de Tóquio voltou de um feriado com fortes perdas, enquanto investidores monitoram a grave crise de liquidez da Evergrande.
O Hang Seng subiu 0,51% em Hong Kong, aos 24.221,54 pontos, revertendo apenas parte do tombo de 3,3% que sofreu no dia anterior em meio a temores de que a Evergrande, que acumula mais de US$ 300 bilhões em passivos, anuncie um calote e prejudique outras empresas do segmento imobiliário chinês.
Negociada no território semiautônomo, a ação da Evergrande teve baixa de 0,44% nesta terça, após despencar mais de 10% no pregão anterior.
Já em Tóquio, a bolsa japonesa voltou de um feriado nacional com forte desvalorização, reagindo com atraso aos temores com a Evergrande. O Nikkei caiu 2,17%, aos 29.839,71 pontos, pressionado por ações ligadas ao setores de máquinas e siderúrgico.
Em outras partes da Ásia, os mercados da China, da Coreia do Sul e de Taiwan não operaram pelo segundo dia seguido nesta terça em razão de feriados.
Na Oceania, a bolsa australiana teve modesto ganho, ajudada principalmente por papéis do segmento petrolífero, após atingir na segunda seu menor nível em três meses. O S&P/ASX 200 avançou 0,35% em Sydney, aos 7.273,80 pontos. / com Júlia Zillig e Agência Estado