2023 marca o fim dos dividendos generosos da Petrobras? Veja o que pensam analistas e outras pagadoras
Com o governo do presidente eleito, analistas apontam que existe uma grande possibilidade de os proventos da estatal diminuírem em 2023
Em 2022, a empresa que mais pagou dividendos a seus acionistas foi a Petrobras, com o montante total ultrapassando os R$ 214 bilhões, somando ações preferenciais e ordinárias. A empresa de refino, produção, exploração e distribuição de petróleo se descolou com folga de outras companhias que também pagaram dividendos neste ano.
O dividend yield atual nas ações preferenciais (PETR4) da Petrobras em 2022 é de 64,60% de acordo com estudos da Economatica, levantados com exclusividade para a Mais Retorno. Já o dividendo pago por ação em 2021 foi de 5,65%, enquanto em 2022 está em 16,74%. O salto é quase três vezes maior na comparação anual.
Em agosto, a Petrobras atingiu o posto de maior pagadora de dividendos do mundo, no Índice Global de Dividendos da gestora Janus Henderson. Em novembro, no mesmo índice, a Petrobras desceu para o terceiro lugar no ranking. O ano de ouro para a distribuição de dividendos da companhia se deu por alguns motivos específicos.
Arlindo Souza, analista de ações da casa de análises do TC, ressaltou que após o início da Guerra da Ucrânia, houve um aumento substancial no preço do barril do petróleo, e seguindo a política de preços de repasse da Petrobras, isso foi bastante positivo para a empresa.
O analista também explicou que, com o plano de desinvestimentos, na prática, a Petrobras teve uma sobra de caixa durante o ano, com muito resultado e poucos investimentos para serem feitos. André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos, destacou que o ponto principal foi a venda de ativos fora do core business, que devolveu parte do dinheiro aos acionistas.
Cenário traçado para 2023
Apesar dos dividendos expressivos que foram pagos neste ano, o cenário desenhado pelo mercado em 2023 não é tão positivo. De acordo com um relatório do JPMorgan, a petroleira pode ter uma queda de 54% na distribuição de dividendos em 2023, na comparação anual.
O head de renda variável da SVN Investimentos, André Luzbel, afirmou que a nova gestão da Petrobras daqui para frente, alinhada com as falas do governo eleito, terá uma política mais voltada ao reinvestimento do capital e não à distribuição aos acionistas.
A eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, trouxe alertas aos acionistas da estatal neste final de ano, com incertezas sobre como será o comando e a gestão da companhia, além da política de preços.
O analista da casa de análises do TC, Arlindo Souza, afirmou que o cenário é incerto, mas após o resultado das eleições presidenciais, o TC Matrix mudou a recomendação de compra para manutenção dos papéis. Isso significa que não é indicado, pelo TC Matrix, comprar os papéis com essas incertezas sobre o destino do fluxo do caixa nos próximos anos.
O head de renda variável da SNV, André Luzbel, destacou que a empresa deve continuar sendo eficiente, mas o foco do caixa será diferente, com um lado social muito mais atuante.
Mesmo com intervenções e mudanças que possam impactar os dividendos recheados da Petrobras no próximo governo, a companhia ainda é obrigada, por lei, a pagar no mínimo 25% de seus lucros aos acionistas.
Ações de commodities, energia e bancos são aposta para 2023
Desde o início do ano, o Índice de Dividendos (IDIV) da Bolsa avançou 8,27%, bem acima do Ibovespa, que recua 0,37% no mesmo período. O índice é composto por Petrobras, Vale, grandes bancos e algumas empresas de energia.
As ações que puxam esse ranking, ou seja, mantêm a alta do IDIV frente a outros indicadores no ano, são das empresas BB Seguridade (BBSE3), Bradespar (BRAP3) e Eletrobras (ELET6), que até o dia 15 de dezembro, subiram 68,08%, 36,65% e 36,63% respectivamente em 2022 dentro do índice. Os papéis da Petrobras vêm em seguida dentro do índice, com alta de 31,99% no acumulado do ano.
O head de renda variável da SVN, André Luzbel, destacou que o foco deve ser em ações que se beneficiam no cenário macro e micro. De acordo com ele, algumas boas opções podem ser bancos, como Itaú Unibanco e Bradesco, exportadoras, como JBS, Vale e Gerdau, e elétricas, como Eletrobras.
Luzbel pontua que é importante olhar não só para quanto a ação vai proporcionar de retorno, mas também para o preço do ativo. O analista da casa de análises do TC, Arlindo Souza, citou algumas empresas como Vale, CSN Mineração, Gerdau, Suzano, Klabin, Marfrig, JBS, Minerva, que devem atingir um dividend yield de dois dígitos em 2023.
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