Bolsa fecha em baixa de 0,92% com Fed e conflito entre Rússia e Ucrânia no radar; dólar avança a R$ 5,49
Confira quais foram as movimentações do mercado nesta segunda-feira, 24
Acompanhando notícias e comportamento dos mercados do exterior, a Bolsa de Valores brasileira, a B3, iniciou a semana em queda. Investidores, tanto aqui quanto lá fora, mantiveram-se atentos ao conflito geopolítico entre a Rússia e a Ucrânia e na expectativa pela próxima reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). As perspectivas são de que o Fed anuncie uma possível elevação da taxa de juros americana já em março.
Com os ruídos externos, somados à repercussão do Orçamento de 2022, sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro mais cedo, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, fechou em baixa de 0,92%, aos 107.937 pontos, nesta segunda-feira, 24. A queda chegou a ser maior ao longo do dia, mas no fim da tarde os juros futuros americanos registraram leve recuo, trazendo certo alívio ao mercado acionário, lá fora e aqui.
Pelos mesmos motivos, o dólar avançou 0,55% neste pregão e voltou a ser negociado acima do patamar dos R$ 5,50. A moeda americana fechou o dia cotada a R$ 5,49.
Juros nos Estados Unidos e impactos no mercado
Taxas de juros mais altas nos Estados Unidos elevam, também, o rendimento dos títulos públicos americanos, considerados os mais seguros do mundo. Esse movimento tende a levar os investidores a retirarem seu patrimônio de ativos de risco, como as ações, principalmente de países emergentes, favorecendo não apenas a renda fixa americana, como também o dólar frente a outras moedas.
"O movimento esperado nos juros americanos tem sido o principal motivo por trás dos movimentos de mercado desde o início do ano, especialmente com ações de empresas mais tradicionais ganhando espaço relativo nas carteiras de investidores em relação a empresas que contam mais com o crescimento futuro (como muitas empresas de tecnologia), além de moedas emergentes com tendência de queda. Nesse momento, no entanto, a elevação já é dada como certa, e analistas aguardam pistas sobre a magnitude do ajuste – até onde irão os juros nos EUA e quão rápido ele será feito".
Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos
Conflito entre Rússia e Ucrânia
Além da apreensão sobre a reunião do Fed, o mercado segue cauteloso e preocupado com o possível ataque russo à Ucrânia. O Departamento de Estados dos Estados Unidos retirou membros da família do embaixador em Kiev.
Segundo informações do New York Times, o presidente Joe Biden estava considerando enviar milhares de tropas dos EUA para aliados da Otan na Europa, juntamente com navios de guerra e aeronaves. Durante a tarde, Biden se reuniu em um encontro virtual com lideranças de diversos países para discutir os próximos passos para conter o avanço do conflito.
Um dos pontos que preocupa os investidores é o possível impacto disso nos preços do petróleo, que vem se mostrando resiliente.
O dia na Bolsa
Entre os principais destaques do pregão da Bolsa nesta segunda, cabe ressaltar a Vale, empresa com maior peso na composição do Ibovespa, cerca de 15%. A mineradora fechou em queda de 1,22%, ajudando a empurrar o índice para baixo, na esteira da desvalorização do minério de ferro nos mercados internacionais.
Em análise, o BTG Pactual Digital afirma que o movimento de queda veio "com as notícias de que autoridades na China ordenaram mais cortes na produção (de minério de ferro) à medida em que a qualidade do ar se deteriora em Pequim antes dos Jogos Olímpicos de Inverno que começam na próxima semana".
As maiores altas da Bolsa
Empresa | Código | Variação |
Pão de Açúcar | PCAR3 | +7,33% |
Marfrig | MRFG3 | +4,68% |
Braskem | BRKM5 | +3,63% |
BRF | BRFS3 | +2,34% |
Usiminas | USIM5 | +2,33% |
As maiores baixas da Bolsa
Empresa | Código | Variação |
Magazine Luiza | MGLU3 | -7,39% |
Banco Inter | BIDI11 | -6,84% |
Banco Pan | BPAN4 | -5,88% |
Alpagartas | ALPA4 | -5,30% |
Locaweb | LWSA3 | -5,11% |
Desempenho das bolsas americanas
"Os três principais índices das bolsas americanas fecharam a semana passada em terceira queda consecutiva, repercutindo muito essa expectativa de aumento de juros. A taxa dos títulos de longo prazo (Treasuries de 10 anos) já alcançaram 1,9%".
Pietra Guerra, analista da Clear Corretora
No pregão desta segunda, os índices acionários mantiveram o movimento de desvalorização durante praticamente todo o dia, bastante influenciados, também pelas tensões entre a Rússia e a Ucrânia.
No entanto, no fim do pregão, com o alívio na curva de juros futuros americana, com os investidores aproveitando as oportunidades que surgiram após a desvalorização exagerada dos ativos, os principais índices acionários inverteram o sinal e registraram as seguintes variações no fechamento do mercado:
- Dow Jones: alta de 0,29%
- S&P 500: alta de 0,28%
- Nasdaq 100: alta de 0,49%
Cenário interno: Orçamento maior do que o previsto para 2022
No ambiente local, as atenções se voltaram para o Orçamento 2022, sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro no último fim de semana e publicado no Diário Oficial da União (DOU) nesta segunda-feira. Bolsonaro vetou R$ 3,184 bilhões e do total, R$ 1,823 bilhão correspondem a emendas de comissão e R$ 1,823 bilhão, a despesas discricionárias, aquelas que ficam sob controle dos ministérios.
O tamanho do corte é superior aos R$ 2,8 bilhões anunciados por Bolsonaro no fim de semana, mas bem abaixo do valor sugerido pelo Ministério da Economia, que apontou necessidade de recompor R$ 9 bilhões em despesas obrigatórias neste ano.
O Orçamento de 2022 é o maior da história, com espaço de R$ 89 bilhões para o Auxílio Brasil, programa que substituiu o Bolsa Família. A lei estima a receita da União para 2022 em R$ 4,7 trilhões, com despesa de igual valor, dos quais R$ 1,884 trilhão destinados para refinanciamento da dívida pública federal.
Reajustes a servidores
O presidente sancionou a verba de R$ 1,7 bilhão para o reajuste de servidores públicos federais no Orçamento de 2022. O recurso foi negociado para atender os policiais federais, grupo estratégico para Bolsonaro em ano eleitoral, e causou reação de outras categorias do funcionalismo público.
O reajuste efetivo ainda dependerá de atos do Executivo. Técnicos e parlamentares esperam que o presidente deixe a decisão em "banho-maria", enquanto consolida um apoio maior para o aumento aos policiais nas próximas semanas. A verba não é suficiente sequer para a revisão na remuneração da segurança pública. / com Agência Estado